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“O que podemos fazer?”

“O que podemos fazer?”
É uma pergunta que aparece muitas vezes, mesmo aqui entre os comentários.

“O que podemos fazer?”.
É o reflexo da nossa impotência, alegada ou real, mas assim percebida.

“O que podemos fazer?”.
É Sexta-feira, uma boa altura para solucionar as grandes perguntas da humanidade.
Modestamente.

Em primeiro lugar: calma, eis que Informação Incorrecta socorre o coitado Leitor com um verdadeiro manual, um ABC que tudo diz e tudo sabe. Como Wikipédia, só um pouco mais curto. E, tal como Wikipedia, é algo já visto, pois muito do que o Leitor vai encontrar foi dito não uma mas várias vezes.
Então porquê repetir?

Porque:
1. poucos seguem a receita.
2. a receita é sempre boa.
3. porque é Sexta-feira.


Não existe uma palavra mágica. Já experimentei Abracadabra (que, dito entre nós, tem origens satânicas) mas nada. E nem existe uma receita infalível que possa mudar a nossa vida dum dia para outro tal como desejado. Além disso, cada um de nós percebe a realidade de forma diferente e perante os desafios encontra diferentes soluções.

Ao olhar à nossa volta podemos observar sinais. Muitos apontam para uma direcção. Eu acho que é a direcção da mudança, mas posso estar enganado. Aliás, espero estar enganado, pois esta suposta mudança não traz nada de bom.

É uma situação que faz lembrar o domador de leões. Com o chicote, o domador obriga as feras a saltar através do cerco de fogo. Uma vez atravessado o fogo, o leão fica sentado num outro pedestal. Mas a sua situação não muda: continua a ser um prisioneiro e, se solicitado, voltará a saltar através do fogo.

Todavia existem duas enormes diferenças entre esta cena circense e a nossa realidade:
1. Não há ninguém que pague para assistir ao espectáculo, aliás, somos nós que temos de pagar para receber ordens.
2. Connosco não é preciso um domador de leões, um cão pastor seria mais do que suficiente.

Isso porque a nossa sociedade se encontra numa situação de paragem cerebral quase total. A maioria das pessoas nem sabe porque costuma levantar-se de manhã, porque faz filhos, porque vive.

Os valores seculares, bons ou maus que fossem, foram substituídos com valores mais “fáceis”, que todos podem alcançar com pouco esforço e que por isso provocam um prazer momentâneo e têm de ser renovados com frequência.

Ao mesmo tempo, foi banido o pensamento, substituído pelo pensamento único.
Nisso o Capitalismo depravado alcançou e ultrapassou as formas mais cruas do Totalitarismo. As notícias que encontramos no nosso diário são as mesmas que é possível encontrar em qualquer outro diário mundial. Globo? Público? New York Times? Qual a diferença?
E não é por falta de acontecimentos: é que as fontes são poucas, mas mesmo muito poucas, e em perfeita sincronia entre elas.

E para qualquer reminiscência de pensamento eis a máquina anti-neurônios, a televisão.
Eu não tenho nada contra a televisão, bem pelo contrário, acho ser este um meio fantástico se bem utilizado. Se bem utilizado: pois caso contrário torna-se num triturador de cérebros. Que assim, atingidos, confluem no pensamento único.

Haveria outros sinais também, alguns deles importantes, como o roubo das nossas raízes; mas agora vamos ver o outro lado da questão: o que podemos fazer?

Não tendo palavrinhas mágicas, como afirmado, é óbvio que a única maneira de mudar algo será com o trabalho. Afinal a ideia é livrar-nos das correntes invisíveis, o que não é pouco.

Primeiro passo: Nós

Livrar a mente das gaiolas

É óbvio: não podemos ir para lado nenhum sem ter as ideias claras. Não “completamente” claras, mas um pouco sim, e que raio. E a única maneira para ter algumas ideias claras é, em primeiro lugar, ter ideias.

Quanto daquilo que pensamos é “nosso”? Quanto, pelo contrário, é fruto do que ouvimos dizer? O Leitor, por exemplo, é de Direita ou de Esquerda? Mas sabe o que significa ser de Direita ou de Esquerda? Sabe sim? Com certeza?
E onde aprendeu isso? Leu alguma coisa? E leu também as ideias contrárias ou apenas as ideias mais simpáticas? Ou, ainda pior, leu “excertos” duma e da outra parte? Isso significa ter ideias?

“Mas olha só este deficiente, mas acha que está a tratar com criança ou quê?”.

Não, caro Leitor, acho que estou a tratar comigo. Porque ainda hoje às vezes sou obrigado a reparar na minha atitude de ler com atenção as coisas “boas” e mais depressa, “por alto”, as “menos boas”. Mas qual o sentido de ler coisas com as quais já sabemos concordar?
Muito, muito mais desafiador é poder confrontar as nossas ideias com as de quem tem uma visão completamente diferente da nossa.

Custa mais, até pode doer o fígado, mas é a única maneira para que as ideias possam nascer.

“Ler”, “Leu”…pois. Não quero implementar uma campanha anti-televisiva, mas desligar o aparelho de vez em quando para ler algumas páginas acho ser uma medida saudável. E nem é preciso acabar com a televisão de forma definitiva (e as crianças? Que fazem as crianças sem a televisão ligada?). Trata-se apenas de desligar 15 minutos antes e dedicar o tempo poupado à leitura de alguns parágrafos.
Um paragrafo hoje, um amanhã e cedo ou tarde o livro acaba. E quem sabe: pode nascer a vontade de ler mais.

Voltemos ao discurso Esquerda/Direita: mas faz sentido? Estas divisões foram criadas numa altura muito diferente da nossa. E foram criadas para dividir, não para integrar. Ao criar duas partes, uma aqui e outra aí, dividimos as pessoas em duas facções opostas. Que, obviamente, estarão em luta para a supremacia. É meio caminho andado para poder governar sem muitos problemas, uma maravilha se a ideia for comandar.

Funciona? Sim, funciona muito bem, ao ponto que ainda hoje as pessoas do Ocidente gostam de definir-se “de Direita” ou “de Esquerda”. Talvez nem saibam qual o real sentido de pertencer a uma das duas partes, mas ouviram dizer que “quem gosta dos patrões vota a Direita”.

Obama e os ministros de Dilma, os exemplos

Olhemos para os resultados práticos: Barack Obama, alegadamente da Esquerda americana, define um resultado extraordinário acabar uma guerra que destruiu um País, causou alguns milhões de mortos (3, segundo os bens informados), obrigou milhões de pessoas a viver no mito da Democracia, algo de muito afastado das tradições deles.

E lembrem: Obama é de Esquerda, é um dos bons.

Brasil? 6 ou 7 ministros de Dilma demitidos por causa da corrupção. E era gente de Esquerda, eram os bons.

Nós preferimos não olhar para estas coisas e, quando obrigados, procuramos justificações.
“Ah, mas Obama é americano, não pode ser verdadeiramente de Esquerda”.

E não meus amigos, porque eu estava aqui e vocês também quando as Esquerdas de todo o mundo babavam com a eleição do primeiro presidente afro-hawaiano-irlandês, ou já esqueceram?
Totalmente desconhecido, era glorificado como o “início do novo mundo”, mesmo que ninguém soubesse rigorosamente nada acerca dele, da origem dele, das ideias dele.

Então como é? Um gajo é bom e de Esquerda até não começar a fazer disparates? A verdade é que foram enganados (e neste caso não, não é “fomos”), atingindo o orgasmo eleitoral só porque a máquina da propaganda tinha convidado toda a Esquerda do Planeta a participar na orgia da “Nova Era”.

Mas isso deveria fazer reflectir: quantas vezes a propaganda actua desta forma? Ou pensamos nós, inocentes criaturas, que isso aconteceu apenas uma vez, com a eleição de McObama?

E os ministros de Dilma? Quantos dos demitidos eram de Esquerda? Antonio Palocci, Carlos Roberto Lupi, Orlando Silva de Jesus Júnior…

Nada, continuemos fieis às nossas cores, obrigados a ver uma única estrada, um só caminho. Passam os anos, passam os governos, a situação não melhora, pelo contrário, mas nós temos confiança pois a culpa é sempre “dos outros”.

Meus amigos, se a culpa for sempre “dos outros” significa que “os nossos” são uma cambada de atrasados mentais (na melhor das hipóteses), incapazes de mudar alguma coisa.

Acordem, s.f.f.
  • usem o vosso cérebro, com os vossos pensamentos
  • não há política ou religião que possa ter o direito de moldar as vossas ideias
  • oiçam o vosso intuito que é o natural complemento da inteligência.
  • aprendam a ver em technicolor, não apenas em preto e branco

Nós não conhecemos a verdade e mesmo assim pretendemos seguir uma doutrina e recusar as outras? Com quais bases? Se não conhecemos a verdade, como podemos fazer uma escolha razoável?

Evolução ou Criação? E porque não uma mistura das duas? Ou talvez nem uma nem outra.
Porque tem de ser apenas A ou B?

Duvidem, meus amigos, duvidem sempre.
Se o Homem conseguiu abandonar as cavernas foi por causa da dúvida, nada mais do que isso.
Um raio atingiu a árvore? A árvore pegou fogo?
Será que o fogo pode ser útil?

D Ú V I D A

A dúvida gera curiosidade, vontade de experimentar, de testar os limites.
Sem dúvida a curiosidade não nasce e tudo fica tal como é, sem dúvida não há movimento.

Repito: Evolução ou Criação? Mas alguém entre os Leitores é um antropólogo, um geneticista, um teólogo, um arqueólogo? Com que base escolhem o vosso “partido”? Só porque um é de Esquerda e ou mais de Direita? Minha Nossa Senhora do Céu e Arredores, mas que raio de visão é esta?

I N F O R M A Ç Ã O

A informação é a única maneira para poder formar uma ideia de forma consciente e ponderada. Sem informação, o máximo que podemos fazer é repetir as coisas ditas por outros, como um eco.
É tudo o que podemos fazer.

R E L A T I V I Z A R

O que é bom para nós pode não ser tão bom para os outros.
A Democracia é a melhor forma de governo? Mas quem disse isso? E porquê? Os Islâmicos não têm tradições democráticas e mesmo assim vivem na boa. Porque será?

Nós temos a exclusividade da razão? E porquê? Quem estabeleceu isso?
Cada solução é boa apenas se reconhecida como tal no interior da comunidade onde é proposta. E tem de ser uma proposta surgida do interior da comunidade, não imposta do exterior.

O Leitor achas que os Islâmicos são uma cambada de bestas violentas? Mas se eles estiverem satisfeitos assim, qual o problema do Leitor? É a mesma atitude que permitiu dizimar os nativos da América do Sul por mão dos “Cristãos”. Não conheciam Deus? Tinham que conhecer, ou isso ou morrer.

A T I T U D E  E  E X E M P L O

Inútil criticar os outros sem antes ter corrigido as nossas falhas.
Afastem-se dos malcriados, dos intolerantes, são apenas insultos para a nossa inteligência. No geral, boicotem tudo o que é insignificante.

Desejamos um mundo mais amigo dos desfavorecidos? E nós? O que fazemos nós para os mais desfavorecidos? Porque esperar que sejam os outros a fazer algo é idiota.

Nós temos de ser o exemplo: só assim pode iniciar o contágio positivo.

Porque não dedicar algumas horas da nossa vida na ajuda do próximo?
Custa? Implica empenho? Mas porquê, o Leitor quer mudar o mundo só com o click do rato? Quer fazer uma revolução ficando sentado?

Se for isso, lamento informar que chegou até este ponto da leitura mas gastou o seu tempo. Porque mudar o mundo significa mudar em primeiro lugar nós e os nossos hábitos. Qualquer outra opção é totalmente inútil.

L E M B R A R

Há a tentativa de apagar as nossas raízes. Um homem sem raízes não sabe donde vem e nem para onde vai. As raízes são extremamente importantes: cultivem as tradições, preservem a sabedoria dos nossos antepassados. Não são “coisas velhas”, foi a chave da sobrevivência de inteiras gerações. E, acreditem ou não, voltarão a ser a chave do nosso futuro.

E CO N O M I A  C O M  C É R E B R O
Qual o sentido de comprar garrafas de água produzida nas montanhas do Tibete? Ou mesmo nos montes do vosso País mas longe 300 quilómetros?
Bebam a água da torneira. E se for má, prefiram água produzida nas redondezas.

Prefiram produtos da vossa terra, não da terra dos outros. E abdiquem dos produtos das multinacionais, não fornecem nada de “mais”, pelo contrário: exploram os habitantes das zonas mais desfavorecidas do planeta, utilizam pesticidas e outros produtos químicos.

Se houver possibilidade, cultivem alguma coisa. É possível ter uma pequena horta mesmo na varanda. E acreditem, sabe bem.

Há a possibilidade de fazer trocas? Então façam trocas.
Não sabem como? Perguntem à Maria ou contactem associações de pessoas que operam neste sentido. Existem, é só procurar.

Utilizem o sol.
Tenho um candeeiro que funciona só com energia solar, é uma maravilha. Também carrego as pilhas da máquina fotográfica com o sol e até o telemóvel. Inconvenientes? Não há. E sim, funcionam também com o céu nublado.

Medicamentos? Com moderação. Em particular os antibióticos. Antes de tomar um medicamento, vejam se não for possível resolver o problema com uma dieta adequada. Às vezes resulta (mas é preciso consultar um especialista, nada de auto-medicação).

E N V O L V E R – S E

Não gostam dos partidos políticos do vosso País? Entrem no mundo da política. Como? Não é preciso fundar um partido, é suficiente fazer alguma coisa no vosso bairro: contactar os moradores, falar com eles, ouvir, trocar ideias, propor soluções.

“Difícil”? Mas estamos a brincar ou quê???
Custa? Outra vez? Mas escrevo para o boneco ou quê? Nada muda sem antes mudar-nos.

Alternativa: não fazer nada, deixar que sejam os outros a fazer. Mas depois com que direito queixar-se?

E as eleições?
Bah, aqui a escolha é livre. Se o Leitor achar que votar nos actuais partidos ainda possa fazer algum sentido, então vote. Tente pelo menos escolher os bandidos melhores.

Greve? Esqueçam as grandes greves dos sindicatos, não conseguem mudar a cor dum camaleão. Se greve deve ser, então que greve seja: mas dos consumos. Este é o ponto mais sensível, aliás, o único ponto sensível.

A única arma dos cidadãos é recusar um determinado produto. E para que funcione é preciso que a adesão seja elevada. É complicado, reconheço.

P A C I F I S M O ?  C U M ‘ C A N E C O !

Em tempo houve uma pessoa que sugeria oferecer a cara para receber outro estalo.
Justamente foi crucificado.

Temos de dialogar, falar, procurar soluções racionais. É justo. Mas há limites, além dos quais deve haver uma reacção. Deve ser encarado como último recurso, extremo: mas não pode ser excluído, porque cada um de nós tem o direito de defender-se. Há limites entre pacifismo e masoquismo.

Lamento, mas fazer o mártir não é comigo.

D I V E R T I R -S E

Divertir-se? Sim, mesmo isso.

Jogar, brincar, rir, são actividades fundamentais. Não “importantes”, mas fundamentais mesmo. Desconfio profundamente das pessoas que não riem. Ainda pior duma pessoa que não dedica parte do próprio tempo ao jogo e ao divertimento. Uma pessoa que não consegue distrair-se e rir é uma pessoa doente.

Queremos mudar o mundo, mas no sentido melhor: não desejamos criar uma sociedade de activistas fundamentalistas, sempre envolvidos em caças aos maus.

Riam, em primeiro lugar de vocês.

Só isso? Não, haveria muito, muito, muito , muito mais.
Mas uma coisa não pode ser esquecida e, pelo contrário, deverá sempre ficar no topo das nossas escolhas: o princípio fundamental. Este é muito simples e pode ser resumido assim:

cada um de nós é um pequeno universo

Gostaria o Leitor de pontapear o Universo? Não, claro que não.
Então respeite o próximo e pretenda respeito para si.

Acabou?
Acabou.
Bom fim de semana.

Ipse dixit.