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O Maior Crime – Parte I

Advertência

Esta é uma investigação de rigor científico que usufruiu dos aconselhamentos de doze economistas universitários internacionais. Os nomes deles, as notas e as biografias que comprovam a seriedade deste trabalho são listados no final do documento. Mas foi escrito num estilo narrativo para que qualquer pessoa possa lê-lo e divulgá-lo.
Nota do Tradutor
Com poucas excepções, foi sempre mantida a formatação do Autor.
O frontispício, o sumário e as notas serão publicados após a tradução do trabalho estar completa.
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“As elites sabiam que os Estados com moeda soberana poderiam ter criado a plena ocupação sem problemas, em todo o mundo, mas isso teria retirado o poder delas. Tínhamos que sofrer”.
Eis o Maior Crime.
É simples de perceber. Houve um dia há não muitos anos atrás em que, após séculos de sangue derramado e de enorme empenho intelectual, os Estados abraçaram duas coisas: a democracia e a própria soberania monetária. Uma união única na História, nunca antes existida. Significava o seguinte: pela primeira vez desde sempre, nós, todos nós, poderíamos adquirir o controle da riqueza comum e ficar bem, em sociedades benéficas e prósperas. Mas isso não agradou a alguém, e foi o fim daquele sonho ainda antes deste tornar-se realidade.
O presente trabalho fala do Maior Crime no Ocidente desde o segundo Pós-Guerra até hoje. Milhões de seres humanos e ao longo de gerações foram feitos sofrer e ainda sofrerão por nada. Os pormenores e a amplitude do sofrimento deles são impossíveis de ser traduzidos em palavras. Sofreram e sofrerão por uma decisão que foi tomada numa mesa por poucos criminosos sem escrúpulos, assistidos pelos assassinos intelectuais deles e pelos políticos. Eles estão a trabalhar agora, enquanto vocês lêem, e a desapropriação das nossas vidas está a intensificar-se dia após dia, ano após ano.
A operação deles em escala global é definida para os fins do presente trabalho como “O Plano” Neoclássico, Neomercantil e Neoliberal. Acerca da identidade deles vou falar em breve, mas por enquanto posso dizer que estamos a tratar dos líderes das maiores instituições financeiras do mundo e das corporações de tamanho multinacional deles, acompanhados por uma multidão de fieis pensadores económicos e tecnocratas. Os políticos, obedientes, muitas vezes seguem arrastados. Às vezes é possível ouvi-los ser chamados de “investidores internacionais” que reúnem-se nalguns clubes exclusivos como a Comissão Trilateral, o Bildeberg, o World Economic Forum de Davos, o Aspen Institute e outros. São aqueles que o semanário The Economist recentemente definiu “Os Globocratas”.
Mas antes de observá-los em pormenor, com as organizações deles, os patrocinadores e os aspectos do plano decenal, gostaria de oferecer ao leitor uma ideia mais precisa do prejuízo que eles infligiram (e ainda infligem) para milhões de seres humanos aqui, no mundo ocidental. Deixem-me dizer simplesmente que pelo menos ao longo dos últimos 40 anos o plano deles foi a causa dos seguintes fenómenos (apenas para citar alguns):
  • uma grande parte do desemprego e sub-emprego que conhecemos – mantidos em vida sem que houvesse um motivo real, com as devastações sociais que implicaram;
  • a perene falta de fundo para o Estado Social, isso é, a assistência sanitária, as reformas mínimas e muito mais – com a enorme expansão dos níveis de pobreza urbana e os milhares de mortos precoces que tivemos de sofrer;
  • a discriminação no acesso à melhor instrução, onde apenas os privilegiados gozaram de verdadeiras oportunidades – com milhões de nossos jovens entregues a um futuro menor e a uma vida de frustrações;
  • a erosão dos direitos dos trabalhadores e do poder contractual sindical até níveis que poucos anos atrás teriam parecido inimagináveis – o que levou até a actual corrida para a descida dos ordenados perante uma exploração cada vez maior no lugar de trabalho, tudo isso piorado pela deslocalização da ocupação para Países estrangeiros;
  • os dramas das gerações idosas, que foram pintadas como bodes expiatórios pela Histeria do Deficit que atropelou as nossas nações – o que fez que milhões de reformados hoje se sintam responsáveis pela carência de meios financeiros disponíveis para os jovens;
  • a impotência na qual foram arrastados os Estados, aos quais foi subtraída a soberania monetária e legislativa, à qual podemos acrescentar a marginalização da cidadania. Tudo pensado para impedir à maioria dos cidadãos beneficiar dos legítimos poderes do Estado para criar riqueza para eles – as trágicas consequências disso e o inacreditável sucesso desta parte do plano Neoclássico, Neomercantil e Neoliberal ficarão mais claras adiante;
  • as privatizações selvagens, tornadas uma religião económica inatacável, que entregou aos investidores internacionais enormes fatias de bens públicos com preços de saldo – e que entregou também inteiros povos nas mãos de fornecedores de serviços essenciais à procura de lucros, com consequências muitas vezes desastrosas para o tecido social;
  • a enorme expansão dum sector financeiro perigosamente sub-regulamentado que hoje tem o poder de criar devastações em qualquer Estado, burlando milhões de pessoas e especulando com as crises económicas criadas de propósito
  • a actual crise financeira e económica mundial, que está a infligir imensos danos a pequenas e médias empresas, e de consequência a inteiras economias nacionais com massas de trabalhadores em risco, ou até já totalmente arruinados.

Quanto acima descrito materializou-se num projecto de proporções históricas como poucos antes, arquitectado com um emprego de meios impressionante, quase impossível de conceber por uma mente comum, e com uma finalidade que pára a respiração só ao considera-la: 
A destruição dos Estados com despesa soberana, das leis, das classes trabalhadoras e de qualquer rebento sobrevivente de democracia participativa em todo o Ocidente, para lucro.
Foi literalmente planeado e conseguiram. Os sindicatos nunca entenderam nada, ainda piores os trabalhadores.
A um nível pessoal, estamos a falar de milhões de vidas, sonhos, esperanças castrados ou destruídos de todo para sempre, aqui, no mundo ocidental. Mas desejamos esclarecer desde já com os leitores que esta não é uma teoria da conspiração. Pelo contrário, os traços mais genéricos deste crime foram objecto ao longo de décadas de livros e debates por parte de intelectuais, activistas e movimentos sortidos. O que nunca foi revelado é o seguinte:
  1. QUE O ACTUAL E APARENTEMENTE INCONTRASTÁVEL PODER DOS “GLOBOCRATAS”, E O IMENSO SOFRIMENTO PROVOCADO, SÃO O FRUTO DUMA ESTRATÉGIA DE 75 ANOS, COORDENADA, ESTRUTURAL, E SUSTENTADA COM UMA IDEOLOGIA ECONÓMICA PRECISA. E QUE NÃO SÃO, COMO MUITAS VEZES DECLARADO, UMA ABERRAÇÃO DO CAPITALISMO.
  2. QUE EXISTE UMA DOUTRINA E FILOSOFIA ECONÓMICA QUE PODERIAM TER EVITADO, E AINDA HOJE PODERIAM EVITAR, TODO AQUELE SOFRIMENTO, QUE É PELO CONTRÁRIO APRESENTADO PELA PROPAGANDA COMO O RESULTADO DUMA AZARADA NECESSIDADE DERIVADA DA CRISE GLOBAL. NÃO, NUNCA FOI ISSO, PELO MENOS NOS ÚLTIMOS 40 ANOS. A VERSÃO MODERNA DAQUELA DOUTRINA E FILOSOFIA ECONÓMICA TEM O NOME DE MODERN MONEY THEORY (pormenores mais adiante).
  3. QUE  FOI EXACTAMENTE PARA DESACTIVAR AQUELA DOUTRINA E FILOSOFIA ECONÓMICA QUE AS ELITES NEOCLÁSSICAS, NEOMERCANTIS E NEOLIBERAIS LUTARAM AO LONGO DE DÉCADAS, INFILTRANDO A POLITICA, AS UNIVERSIDADES E OS MEDIA.
  4. QUE O QUE FOI AGREDIDO E TALVEZ ATINGIDO MORTALMENTE FOI A ESSÊNCIA DA DEMOCRACIA, DEFINIDA COMO A EXISTÊNCIA DE ESTADOS SOBERANOS QUE UTILIZAM O PRÓPRIO PODER PARA CRIAR RIQUEZA EM PROL DOS CIDADÃOS.
  5. QUE AS MENTES DESTE PLANO CRIMINOSO ESTÃO MESMO AGORA A EMPURRAR AS NOSSAS SOCIEDADES E ECONOMIAS À BEIRA DO PRECIPÍCIO POR MERAS RAZÕES DE LUCRO, COM CONSEQUÊNCIAS DRAMÁTICAS. TÊM DE SER PARADOS COM UM ESFORÇO PARA ALERTAR O PÚBLICO, QUE TERÁ DE EXIGIR EXPLICAÇÕES AOS POLÍTICOS.
O que segue é um tratado acerca dum plano que parou mais de duzentos anos de progressos democráticos e sociais no ocidente e que abriu as portas ao regresso dum poder quase absoluto das elites financeiras e grandes empresários. Ignorar o plano Neoclássico, Neomercantil e Neoliberal significa em primeiro lugar não entender a realidade ocidental contemporânea. Significa não entender nada do que guia a mão dos governos, italiano incluído, totalmente reféns das elites. Significa, por fim, não poder fazer nada para combater as escandalosas injustiças diárias, mas sobretudo auto-condenar-nos a décadas de ulteriores sofrimentos na vida real de milhões de famílias.