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Egipto: Praça Tahrir, mais uma vez

O que acontece no Egipto?
O mau Mubarak não tinha sido derrotado e com ele o regime sangrento?
Mas não tinha chegado a Democracia?

Talvez o problema seja mesmo este: a Democracia chegou.

Tínhamos deixado o Egipto após a vitória dos rebeldes, ou melhor, do “povo”. E agora outra vez nas ruas, com mortos, feridos choques entre autoridades e demonstrantes.

Após a queda do regime, o poder passou para as mãos do militares, cujo chefes eram (e ainda são) em boa parte homens nomeado por Mubarak. Referendo, projecto para uma nova república, governo provisório.

Só que depois a passagem entre “velho” e “novo” ficou quase parada.
As leis de emergência não foram removidas.
As forças armadas cometeram abusos.
No topo continuavam homens de Mubarak.
E muito mais.


Com o passar do tempo, o dialogo entre militares e povo tem ficado cada vez mais difícil: por exemplo, Alaa, o mais conhecido blogger, um dos mais activos nas manifestações de Janeiro-Fevereiro, ficou preso. E os Egípcios decidiram voltar na praça. Sempre a mesma: Praça Tahrir, o símbolo.

A crise económica determinou a crise social. A crise social, “ajudada” por Países estrangeiros, determinou a crise política e a queda do regime. As promessas não foram mantidas, a crise social não foi resolvida, o que levou até uma nova crise política.

O governo demitiu-se no prazo de 3 dias após as pressões dos manifestantes. Os militares, pelo contrário, responderam à moda dos duros.
Assim passaram mais de 80 horas desde o começo dos tumultos na Praça Tahrir, coma polícia que dispara balas de borracha e gás CS. O gás, um lacrimogéneo, até invadiu o metropolitano.
E, apesar disso, a praça continua cheia de pessoas que ficam na primeira linha. E aumentam de número.

Ontem a polícia disparou gás CR, 10 vezes mais agressivo do que o CS. Com o gás CR não é suficiente a mascara com sumo de limão ou vinagre. O CR fica na roupa e permanece activo ao longo de dias.
Na praça chovem balas com um gás sem cheiro e transparente, com efeitos no sistema nervoso. Convulsões, histeria, perda de consciência.

Nervino? Qualquer gás que actua no sistema nervoso é nervino. Mesmo sem ser “aquele” nervino. Sinal que a situação precipita. Proteger a ordem pública com o gás? E protege-la de quem? Do público?
Pois.

Manifestações também em outras cidades: Alexandria e Suez.
O chefe do exército, Tantawi, fala na televisão.
Tudo já visto antes.

É a batalha entre o velho e o novo. O novo nem sabe o que quer, só sabe que não quer o velho. Onde estão agora os Países que em Janeiro tinham ajudado os revoltosos? Era apenas este o objectivo? Um Egipto no caos?

Agora haverá eleições presidenciais em Junho de 2012, as forças armadas e os partidos alcançaram um acordo para formar um governo de unidade nacional. Primeiro Ministro? Mohamed El Baradei. Não parece má pessoa. Só que os Estados Unidos e israel não parecem gostar dele.

Como declarou ao jornal alemão Der Spiegel, El Baradei tem intenção de abrir uma passagem para a Faixa de Gaza, acusa israel de ser a maior ameaça do Médio Oriente, acha que o Irão não tenciona construir uma bomba atómica e pede uma investigação acerca dos militares americanos envolvidos na ocupação do Iraque.

Resumindo: parece uma pessoa farta de viver.
O que não promete nada de bom para o Egipto do futuro.

Ipse dixit.

Fontes: Informazione Scorretta, Corriere della Sera