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Egipto: gás, petróleo e papiros

Mas porque um ou mais Países estrangeiros (um palpite: Estados Unidos?) deveriam estar interessados na política interna do Egipto?

Será por causa das Pirâmides? Talvez seja isso.
Aliás, deve ser por isso, porque não é que o Egipto possa oferecer muito mais.

Que dizer, haveria o petróleo. Mas não é este o verdadeiro objectivo: Kioto, aquecimento global, os limites das emissões, o carro eléctrico (o Graal!!!)…nesta altura o Ocidente nem saberia o que fazer com o petróleo.
E o gás? Não, o gás cheira mal, está fora de questão.

Curioso.
Curioso porque apesar de tudo no Egipto continuam a procurar o ouro negro e o ouro “volátil”. Um novo campo de gás foi encontrado acidentalmente no Delta do Nilo (Salmon) pela BP e a Eni Egipto, 50 km a norte de Damietta. BP e ENI estavam à procura de antigos papiros manuscriptos quando de repente, olha só, gás.

Na praça Tahrir matam-se coma Primavera Árabe e não muito longe fazem buracos para encontrar gás. E os observadores internacionais agora estão preocupados: como é possível procurar papiros num País onde as pessoas passam o tempo a matar-se?
O que é verdade. No mínimo incomoda.


E pensar que para o Egipto a notícia até seria boa. Porque o Cairo cedo deixará de ser um exportador de petróleo e talvez de gás, para tornar-se um importador. 80 milhões de habitantes em rápido crescimento (balas das forças armadas permitindo), até hoje exportador de ouro negro e volátil, importador a partir de…desde quando? Desde 2011, dizem as previsões. Mesmo ano em que o regime de Mubarak fica de pernas para o ar.
Olha só as coincidências.
“É a vida”, como dizem em Portugal.

A Egyptian Geral Petroleum Corporation (EGPC) está a tentar encontrar fundos de bancos internacionais para aumentar as exportações. Destinos Jordânia e israel, para equilibrar o custo das importações de outros produtos: butano e diesel. E um uso excessivo do Tesouro para manter em ordem o balanço de pagamentos.
Porque o Egipto já não exporta apenas: importa também.

Na mesma altura, o governo egípcio anuncia planos para renegociar as receitas das exportações que passam pelos seus pipelines, para compensar a preços artificialmente baixos, resultado da corrupção dos empresários ligados ao regime de Mubarak.
Porque é assim: em todo o mundo a corrupção aumenta os preços, no Egipto acontecia o contrário. Mubarak corrompia os empresário para que estes tivessem menos lucros. Doutro lado, Mubarak era mau, já sabemos.

Mas hoje, é explicado, parece que renegociar os preços já não faz sentido. Pois na verdade os preços do gás natural são bastante baixos, com ou sem Mubarak. Mas o panorama pode mudar, a curto prazo. E não apenas no Egipto.

A procura interna aumenta e não pára. A maioria dos Países exportadores estão prestes a tornar-se fortes consumidores e até importadores. E o Ocidente não gosta. Sim, os consumos nas economias avançadas devem baixar, esta é a previsão. Mas como é possível procurar papiros no meio do fumo dos escapes? Esta é a grande preocupação.

Jordânia, Síria, israel, Espanha, França, Estados Unidos, todos advertem: atenção, queimar petróleo ou gás faz mal à saúde e ao ambiente. Se é para queimar, então deixem que isso seja feito nos nossos Países, onde já não há papiros.
E é verdade: não há mesmo.

É por isso que as autoridades disparam gás na Praça Tahrir: é para que os Egípcios percebam quanto molesto pode ser o gás. Também Khadafi é utilizado como exemplo: gostava de petróleo, acabou com uma doença fulminante. Ligada ao chumbo, mas sempre doença foi.

A verdade é que os Egipciso gostam de extrair gás.
A produção cresceu consideravelmente nas últimas décadas, passando de 21 bilhões de metros cúbicos em 2000 para 62,7 em 2009 de acordo com as estatísticas fornecidas pela BP: mas o consumo interno no ano passado aumentou 6%. Isso tem significado uma contração das exportações: de 18,3 bilhões de metros cúbicos em 2009 para 15,2 em 2010.

Mais de 3 bilhões de metros cúbicos desaparecidos no mercado interno.
Preocupante: os Egípcios teimam em queimar o malcheiroso gás.

E o petróleo? Mesma coisa, até pior.
Alguns analistas esperam um aumento na produtividade das refinarias, que poderiam absorver 20% do mercado global e aumentar a capacidade produtiva da região em 60% no período 2010-2018.

Dois membros proeminentes da OPEP, a Arábia Saudita e o Irão (o Mal!!!), anunciaram planos para aumentar a capacidade de refino para 1,2 milhões de barris por dia em 2018. Também o Kuwait e os Emirados Árabes Unidos anunciaram planos de expansão, respectivamente de 900.000 e 620 mil barris por dia. E planos semelhantes poderiam ser empreendidos pelo Iraque, o Yemen e o Barhein, apesar das questões ligadas a segurança e a instabilidade política.

Mas isso não resolve um problema: o crescimento contínuo da procura interna, em contraste com o que acontece no resto do mundo.
36% das necessidades energéticas do Oriente Médio é garantido pelo petróleo, isso enquanto a média mundial é de 7%.

Uma diferença de 29 pontos percentuais em zonas com um continuo e forte desenvolvimento demográfico.
Países que não parecem ouvir: querem aumentar não apenas a produção como sobretudo o consumo interno. E encontrar papiros será tarefa cada vez mais difícil. O que pode criar problemas aos historiadores ocidentais.

A Primavera Árabe ainda não acabou. Petróleo, gás, o nuclear do Irão: muitas e válidas razões para que a Primavera seja transformada num longo e rígido Inverno.
É só esperar que não seja um Inverno Nuclear.
Aí sim que os papiros ficariam estragados.

Ipse dixit.

Fontes: Limes, Petrolio