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Becerra: Brasil versão 2.0 da Espanha?

Niño Becerra? Uhhh, quanto tempo!

Encontrámos Becerra ainda no ano passado, quando o blog era um recém nascido. Na altura falava-se da crise dos subprimes e a maior preocupação na Europa era a Grécia.
Outros tempos.

Agora Becerra volta, mas desta vez para falar do Brasil. A seguir a entrevista do Estadão, que reporto na integra pois julgo ser bem interessante:

Como, depois de anos de euforia, a Espanha chegou a essa situação? A festa não era real?

A festa em todo o mundo tem sido uma ficção e ainda é uma ficção nos países onde continua. Quando a capacidade de endividamento se esgotou, o pagamento da dívida se tornou impossível.

Como o sr. explica que ninguém na classe política viu essa ameaça e a criação de bolhas?

Certamente sabiam. Mas tinham de ignorar essa possibilidade. O hiperendividamento era, desde o final dos anos 80, a única opção para crescer.

O sr. já alertava para os riscos em 2006. O que diziam as pessoas ao ouvir essa advertência?

Quem me escutava admitia que o crescimento da dívida era insustentável. Na Espanha, entre 1996 e 2005, a dívida privada cresceu 140%.

Na segunda-feira, quando um novo governo assume o poder, há coisas que ele possa fazer diferente do governo atual para solucionar a crise?

Na segunda-feira, alguém ligará para Moncloa (palácio do governo) e perguntará pelo presidente do novo governo e dirá a ele que pegue papel e lápis para tomar nota do que terá de fazer o novo governo do Reino da Espanha. Isso se já não lhe foi dito.

Depois de Portugal, Irlanda e Grécia, a Espanha é resgatável?

A Espanha é irresgatável, assim como a Itália. Seriam necessários uns  800 bilhões, valor que simplesmente não existe.

Os planos de austeridade terão efeitos sociais profundos. Serão suficientes para tirar os países da crise?

O problema não é o gasto, e sim a arrecadação. Ao não crescer, a arrecadação é reduzida e a renda pública cai. Como os países europeus têm compromisso de déficit, a única possibilidade é o corte de gastos públicos, mesmo que isso deprima ainda mais a economia.

O Brasil vive um boom. A Espanha pode servir de lição sobre como não fazer as coisas?

Acredito que o Brasil vive uma situação virtual como a que viveu a Espanha de 1995 a 2007. Pelo que eu sei, a economia brasileira navega em um mar de créditos no qual o governo incentiva o consumo de tudo, como ocorreu na Espanha. Para “resolver” a questão da distribuição de renda, o Brasil deu acesso a crédito a um porcentual enorme da população. Algo parecido com o que ocorreu na Espanha. De 1997 a 2007, os salários reais dos espanhóis só cresceram 0,7%. Mas a população consumiu de tudo. Penso que o Brasil hoje é a Espanha em 2003, numa versão 2.0.

Atenção: Becerra não é um estúpido. Um pouco catastrofista talvez, mas sabe do que fala. Previu, e muito bem, a profunda crise de 2010, quando segundo os “especialistas” a crise começada em 2008 já deveria ter sido ultrapassada.

E fala duma economia “regulada” em todos os Países. Algo que aqui em I.I. conhecemos bem.

Se for verdade que o Brasil está a percorrer o trilho do hiper-endividamento, as consequências no médio prazo podem ser muito graves. E para perceber isso é só olhar para os acontecimentos europeus.

Nota: o mesmo assunto foi também tratado no blog Libertar.

Ipse dixit.

Fontes: Estadão, Libertar