A anarquia da felicidade

Sem pedir autorização do Autor, copio e colo aqui um post do blog Farplex, realçado por Vanessa (que agradeço!).

Ok, ok, eu sei: seria possível criticar algumas das afirmações, em particular a última segundo a qual “Yannis, o seu bar e os seus clientes não dependem de mais ninguém. são livres”.

Mas não, não vou criticar. Aliás, limito-me a ler e a absorver o sentido positivo das letras. Porque se for verdade que vivemos num mundo complicado, cheio de problemas e injusto, também é verdade que não podemos deixar de viver e tentar recolher as coisas boas que aparecem no nosso caminho.

São poucas? E que interessa? São boas e ponto final.

Este post faz mesmo isso: não é pouco.

A anarquia da felicidade

Para muitos gregos, o que têm feito vão continuar a fazer, ainda com mais convicção: não pagam impostos. A impunidade está garantida pela falta de dinheiro ou bens. Quando não se tem nada, o que nos podem tirar? Há um poder enorme conferido pela pobreza. Ainda maior quando se descobre que se pode viver feliz com muito pouco.

O Governo está a incluir impostos nas contas da electricidade. E a cortar o abastecimento a quem deixa de pagar. Em resposta, organizou-se um movimento, apoiado pelos sindicatos, para fazer ligações directas aos postes e centrais.

A desobediência está a alastrar-se. Com uma certa volúpia. As pessoas têm prazer em não cumprir nada. Em Atenas, fuma-se em todos os cafés, bares, restaurantes, locais de trabalho, apesar da lei que o proíbe. Os motociclistas circulam com o capacete debaixo do braço.

Há um limite abaixo do qual ninguém aceita viver. A felicidade não se pode impor por decreto, mas a infelicidade também não. Se o contrato social deixa de servir a uma das partes, quebra-se, como qualquer contrato. A ideia de que uma geração pode ser sacrificada é absurda por definição. Sacrificada a quê?

Ninguém entende como podem os gregos viver submetidos a tanta pressão. Pois a explicação é esta: à margem das notícias, eles já estão a libertar-se.

Anna chega a casa de Sophia para lhe fazer uma massagem de Shiatsu. Sophia, que é violoncelista, paga-lhe com o cd onde gravou uma sessão de improvisação com um guitarrista seu amigo. Troca directa.

Natasha, que é professora de Yoga, recebe dinheiro de alguns dos seus alunos. Dos que não o têm não recebe nada, ou faz-se pagar com outros produtos. Alguns amigos dão-lhe umas mantas que fabricam com pedaços de pano reciclado, e que ela usa nas aulas. Outros pagam com legumes que cultivam nas suas hortas.

Há sempre maneiras de pôr a economia a funcionar. Natasha não vai deixar de ensinar Yoga, só porque o país, a Europa estão em crise. Para ela, o yoga está acima de tudo isso. É uma prática e uma filosofia incomparavelmente mais antigas do que os problemas da zona euro. Já passou seguramente por crises piores, e não vai agora submeter-se à lógica dos mercados financeiros e das agências de rating. Para Natasha, que fez a sua licenciatura em Economia Internacional, isto é claríssimo.

Yannis tem um bar, onde Natasha costuma ir. Sair à noite é uma actividade fundamental na vida dos atenienses, para se encontrar os amigos, se conversar, se sentir que ainda há uma vida, para além da catástrofe quotidiana anunciada pelos media.

Com o agravar da crise, Yannis percebeu que acabaria por ter de fechar a casa, à semelhança do que está a acontecer com outras da mesma rua. O preço a que compra as bebidas está a ficar tão elevado, que não consegue vender um whisky ou um vodka a menos de 10 ou 15 euros. Teve então uma ideia: criar uma série de bebidas confeccionadas à base de raki, a aguardente local, misturado com sumos e essências de várias frutas. Deu nomes aos novos cocktails, que expõe em grandes frascos em cima do balcão, e vende muito baratos. Quem não tem dinheiro, não tem de pagar.

Está a ser um êxito. Ninguém pede outra coisa, e muitos clientes novos vêm à procura da especialidade da casa. Bem pode agora o preço do vodka e do gin disparar nos mercados, ou servir de pasto ao monstro fiscal. Haverá sempre um pequeno lavrador a produzir frutas e aguardente raki. Yannis, o seu bar e os seus clientes não dependem de mais ninguém.

São livres.

Obrigado Vanessa!
E Tiago, óbio.

Fonte: Farplex

10 Replies to “A anarquia da felicidade”

  1. olá todos:
    Obrigada Vanessa pela dica.
    Obrigada Tiago pela inspiração.
    Olá todos: fiquei feliz quando acessei o blog do Tiago,e li o post que agora o Max passa para cá.Acho que se precisa desse tipo de oxigenação, aquela atitude que se traduz na ação, no fazer coisas simples, mas inventivas, que oferecem solução, parcial,localizada, imperfeita, não importa, mas opera com uma realidade intolerável, e não apenas reclama dela, teoriza sobre ela, discursa a respeito dela. Que os gregos continuem inventando, sinal que a Grécia pode ter morrido, mas ainda tem grego vivo. E que iniciativas como essa contagiem os demais neo-escravos europeus.

  2. VIVA A ANARQUIA !!!!!!!!!!!!!!

    BOA NOITE A TODOS.
    DEIXA A ASAE PORTUGUESA IR A ATENAS QUE OS PÕE TODOS EM LINHA, HAHAHAHAHA.
    AGORA A SÉRIO, VOCES NÃO AÇHAM QUE PORTUGAL AINDA NOS PROXIMOS TRES MESES VAI ENTRAR EM COLAPSO TOTAL ??
    JÁ ESTOU A COLOCAR EM MINHA CASA A CAPTÇÃO DAS AGUAS DAS CHUVAS PARA MANDAR AS AGUAS DA FIGUEIRA A MERDA MAIS AS TAXAS DE DISPONIBILIDADE E O IVA, JÁ TENHO A CALHA COBERTURA E O PRE- FILTRO INSTALADO, SÓ FALTA OS TRES DEPÓSITOS DE 1000 LITROS VERTICAIS.
    AINDA ESTE MES MANDO AS AGUAS DA FIGUEIRA DAREM UMA CURVA , PARA MEU GRANDE PRAZER, E A SEGUIR SERA A EDP, COM PAINEIS FOTOVOLTAICOS + UMA VENTOINHA DE 48 VOLTS + BATERIAS,

    UM ABRAÇO
    RAMIRO LOPES ANDRADE

    ramirolopesandrade.blogspot.com

  3. Não considero isso tudo como Anarquia, chamo de conscientização, as pessoas estão se conscientizando e arranjando alternativas para não mais se submeter a esse sistema corrupto. Quanto mais pessoas souberem, mais estaremos nos libertando, só espero que eles não proíbam isso também.

    Abraços

  4. Burgos,

    "…só espero que eles não proíbam isso também."

    No documentário Garbage Warrior foi justamente isso que aconteceu. Acabaram com a felicidade dele, numa etapa da vida que se definia como liberto do corporativismo. Quem não viu, devia ver, e quem já viu vale reconferir, porque temos que nos libertar de todo lixo corporativo.

    Um abraço.
    Walner.

  5. Olá BURGOS: eu acho que o Ramiro não falou anarquia no sentido literal do termo, como bagunça, mas no sentído político, como não governo, não hierarquia, não mandado.
    Olá Ramiro: pois vou te ser absolutamente sincera: acho que não é má idéia colher água da chuva através de calhas, manter depósitos domésticos com um mínimo de garantia de conservação da água. Podes combinar com vizinhos que tenham telhados grandes e fazer um investimentozinho coletivo. (chiiii, o Max vai me matar…). Mas, quer saber? Não acho má idéia, senão para usar na totalidade, pelo menos para diminuir o consumo, e consequentemente as taxas. Abraços

  6. Claro que eu entendi, mas com certeza os queridos governos vão se referir a isso como anarquia do povo,
    pois qualquer coisa que fazem para pular fora do sistema é chamado de anarquia ou subversão.
    Desculpe Ramiro, não quis lhe criticar, também dou um VIVA para os gregos e todos aqueles que fazem esse tipo de anarquia.
    E agradeço ao Ramiro pela dica de captação de água.

    Abraços

    Abraços

  7. CARA MARIA E BURGOS

    NÃO FIQUEI MELINDRADO COM NADA, ADORO TEU BLOG !!!!!
    COM 48 ANOS, E ENGENHEIRO CIVIL JÁ ESTIVE EM MUITOS PAÍSES, E VIVI MUITAS REALIDADES ( ALEMANHA / BRASIL / ANGOLA / ARGÉLIA / PORTUGAL ).
    A VIDA ME ENSINOU QUE NUNCA NOS DEVEMOS CONFORMAR COM AS INJUSTIÇAS, E LUTAR COM TODOS OS MEIOS PARA MUDAR O NOSSO MUNDO INDIVIDUAL, POIS O RESTO DO MUNDO É MAIS DIFICIL …………
    O SISTEMA DE AGUAS ESTÁ QUASE PRONTO, VAI ME DAR UM GOZO NÃO PAGAR MAIS IVA …..
    PELOS MEUS CALCULOS O SISTEMA DE CAPTAÇÃO VIA ME CUSTAR +/- 2000 EUROS, E O RETORNOVAI DEMORAR 6 ANOS, PACIÊCIA …… POSSO PAGAR E GOZAR COM TODOS ELES, QUE PRAZER ESTOU COMEÇANDO A SENTIR AQUI NA PRAIA DA LEIROSA – FIGUEIRA DA FOZ.

    UM ABRAÇO A TODOS.
    RAMIRO LOPES ANDRADE

  8. Muito interessante este texto.
    Me chamou muita atenção a forma de como as pessoas conseguem achar soluções até para estes tais problemas. No mínimo, inspirador.

    Obrigado.

    Estou meio off atualmente, gostaria de participar mais, porém meu tempo é curto comparado aos meus afazeres e leituras.

    Por hora, deixo um tópico lá no fórum sobre livros e fontes para leitura sobre Nova Ordem Mundial.

    abraços!

Obrigado por participar na discussão!

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