Carne para tubarões

Estão a jogar com tudo, até com os Estados.
Ocupados, esvaziados de qualquer sentido prático, utilizados como moeda de troca, como Cavalo de Troia para a destruição da nossa velha sociedade e a implementação do novo modelo.

Dito assim parece quase uma operação subtil, mas não, estes estão a mexer-se com a delicadeza dos bulldozers, porque sabem que não há nem haverá resistência. Única medida: esconder a verdade.
Não é difícil, poucos querem saber, ainda menos fazem perguntas.

Nesta altura a Europa é um laboratório. É a antecipação do que no futuro acontecerá em outros pontos do globo, provavelmente em todos os pontos.

E quem pensa nisso como um fenómeno localizado, como alguns “problemas internos” do Velho Continente, não percebe com quem estamos a lidar: não é um litígio em família, não é uma luta pela liderança, não há um choque entre visões político-económicas diferentes: é a chegada dum novo mundo. Que resulta, perante a imobilidade das massas.

E no interior do laboratório há as cobaias: primeira entre todas a Grécia.


Os Gregos estão feitos. É triste, mas não podemos fazer nada, temos só que observar a lenta agonia. A sentença de morte foi assinada no passado dia 26 de Outubro, emitida pelos criminais da União Europeia e mantida oculta aos olhos da imprensa.

Entre as várias clausulas, a seguinte: a jurisdição legal dos Títulos de Estado gregos ainda em circulação (isso é, não pagos) passou aos Ingleses.

Tradução: a Grécia já não é dona da própria dívida, que agora é legalmente gerida pela Coroa britânica segundo as leis britânicas.

Consequências?

Em primeiro lugar, a Grécia pode agora ser arrastada num tribunal pelos credores sem poder exercer um pingo de defesa soberana com as suas próprias leis. Parlamento e justiça gregos valem menos do que nada agora.

Em segundo lugar, a Grécia, desta forma não poderá renegociar a sua própria dívida para salvar a Nação. Nem em Euros, nem em Dracmas, não poderá propor aos credores reembolsos mais baixos em Euros ou reembolsos totais em Dracmas. De facto, já não possui legalmente a sua dívida, e seria massacrada pelos credores que poderiam usar as leis dum outro País.

Mas isso significa acima de tudo que não pode abandonar a Zona Euro, porque a condição essencial dum default soberano é poder dizer ao mundo: “renegocio a minha dívida segundo os meus próprios termos e com a minha moeda”.

Fecharam a Grécia no buraco do Euro e deitaram fora a chave, é aí que terá de morrer.
Pessoal, falamos de sofrimentos verdadeiros, de pessoas verdadeiros, não de conceitos abstratos.

E reparem: tudo foi feito para “ajudar” a Grécia. Pois esta medida faz parte do pacote de “ajuda”, o mesmo pacote que estrangulará a economia grega até a inevitável morte. São as mesmas medidas implementadas também em Portugal e na Irlanda, as mesmas que agora serão introduzidas em Italia. Neste aspecto, a Grécia é a visão do futuro.

Única magra consolação: o sadismo franco-alemão, após ter abatido milhões de famílias estrangeiras, começará a devorar-se e alguém nos arredores de Berlim e Paris começa a entender isso.

E nós? Nós ficamos com a consciência de ser carne para tubarões.
O resto são só palavras.

Como escreve o jornalista Paolo Barnard:

Vocês no barco, ainda intactos, adultos vacinados, vocês que ficam aí impotentes, pós-graduados, graduados, funcionários, operários, mas não covardes perante o poder, o que vocês podem fazer? Ser homens! Ser mulheres! E se não sabem defender-se para sobreviver, então têm que morrer.

Exagerado? Malcriado? Inoportuno? Depende.

Há quem escreva isso de forma clara.
Há quem escreva isso de forma mais elegante, insira isso nas dobras dum pacote de ajuda, para depois esconder tudo aos olhos dos media.
O que preferem?

Ipse dixit.

Fonte: Paolo Barnard

One Reply to “Carne para tubarões”

  1. Belíssimo artigo. Cada vez mais vemos o cerco fechando sobre nossas vidas. E mesmo assim assim não somos capazes de tornarmos homens e mulheres… a modernidade nos transformou em bunda-moles… talvez devemos morrer…

    Marcos

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