Site icon

Futuro: a Era Pós-Capitalista

Como será o novo modelo social?

Parece claro: o velho mundo está a ruir e no horizonte há alguma coisa. Ainda é difícil perceber, mas algo há: por enquanto é apenas uma nuvem cinzenta e escura, daquelas carregadas de chuva. O problema é que não conseguimos distinguir os pormenores.

Tudo está a acontecer depressa, muito depressa: ontem a queda do Comunismo, agora o fim do Capitalismo. Sistemas velhos, que já nada podem dar. Pelo menos, assim dizem.

O que dói é que mesmo numa época de mudanças como a nossa, quando maiores são as possibilidades, a História parece ser um comboio cujo destino já está decidido.

Poderia ser um autocarro, com muitos cruzamentos pela frente e inúmeras estradas para serem escolhidas; mas não, enquanto nós ficamos entretidos com diálogos acerca dos máximos sistemas do universo ou mortos numa poeirenta planície da África do Norte, o comboio segue os carris e não pode desviar.

Há uma estação final que deve ser alcançada e um horário para ser cumprido. E ao longo da viagem, todos iremos concordar: afinal é o melhor dos destinos possíveis, na melhor altura possível.

Ghost In The Machine

Os sistemas têm bugs, falhas. Isso não é normal.

E surge a pergunta: mas seria tão difícil implementar um modelo funcional? Não, não seria se a ideia fosse realmente ter um modelo funcional. Mas assim não é: os bugs, as falhas, são necessárias. São os vírus que começam a trabalhar desde o nascimento dum novo modelo social, cada um dos quais surge já com as estigmas da própria falência.

Tudo o que é preciso fazer é seguir o o funcionamento do mecanismo, com pequenos ajustamento quando necessários.

Assim aconteceu com o Comunismo, o mesmo acontece com o Capitalismo.
Não é um acaso. Pensamos nisso: após a queda do Muro de Berlim, o Capitalismo sobrou como único modelo. Finalmente livre das imposições duma Guerra Fria que pouca margem deixava para mudanças, o Capitalismo estaria agora em condições ideais para poder ser melhorado.

Não há perigos. Os poucos Países (pseudo) comunistas são relíquias do passado, outro converteram-se, como no caso da China. Poderia haver uma evolução sem revolução. Poderia haver a utilização dos recursos para um lenta, talvez fadigosa, mas natural melhoria.

Ao longo de 40 anos o sistema capitalista conseguiu manter-se em vida e prosperar com os próprios mecanismos. Depois, a partir de 2008, começou a ruir, tudo junto, tudo ao mesmo tempo, com a finança global de joelhos.

Após dois séculos de verdadeiro progresso, no qual o crescimento do Capitalismo tinha ficado em sintonia com a realidade industrial, chegaram quatro décadas de desenvolvimento artificial, um castelo de papel. E agora a queda, com os desesperados esforços para recuperar uma ilusória retoma.

A morte do Capitalismo

Será que a nossa sociedade entrou em crise por causa da incapacidade de adaptação aos novos tempos?
Talvez. Ou talvez não. Porque temos de distinguir: uma coisa é o Capitalismo, outra coisa é a elite capitalista.

O Capitalismo é um sistema económico que funciona com o crescimento, a elite capitalista é um grupo de pessoas que conseguiram obter o controle do mundo ocidental com o Capitalismo. E agora o Capitalismo atingiu o prazo limite, a elite sabe disso e tenta adaptar-se. Ou melhor: adaptar a realidade.

O Capitalismo é o veiculo que permitiu aos banqueiros alcançar o poder absoluto, mas estes não têm lealdade nenhuma em relação a aquele sistema, tal como não têm lealdade em relação a qualquer outra coisa. Pensam numa escala global, com os Países que são meros peões: decidem o que é o dinheiro, quem pode cria-lo, como utiliza-lo.

E desde muito nem precisam dum particular sistema económico para a manutenção do poder. O Capitalismo foi útil numa altura de rápido crescimento; mas para a fase histórica seguinte, sem crescimento, o jogo será diferente.

O Capitalismo morre, mas não de morte natural: foi abatido com uma demolição controlada. Antes tinha sido inserido num sistema de suporte vital, com a globalização, as privatizações, os mercados, as Bolsas. Depois foi injectado com uma droga letal, uma mistura de bolhas imobiliárias e derivados tóxicos.

E como última jogada, o Banco dos Regulamentos Internacionais de Basileia proclamou a regras dos “preços de mercado”, o toque final para abater os pequenos bancos em dificuldade.

Quem pensar que tudo isso foi um acaso, vive num mundo de fantasia, onde as enormes riquezas existem apenas ao sabor do vento.

Porque a realidade é que não há acaso quando falamos de riquezas várias vezes superiores a quanto poderia acumular um Estado médio em décadas de duro trabalho. Não há espaço nenhum para o acaso.

Demolição controlada

O após colapso foi também gerido de forma escrupolosa. Na Europa, por exemplo, foram introduzidos os resgates suicidas. Pensamos nisso: com os orçamentos estatais já no limite, com os bancos insolventes, a solução encontrada foram novas dívidas para os governos. É pedido dinheiro emprestado ao sistema financeiro que tem de ser salvo!

Alguns banco faliram, os mais pequenos, como afirmado. Porque Goldman Sachs, Bank of America, JPMorgan, Morgan Chase, todo saí estão. Ainda e por enquanto.

Doutro lado a alternativa qual era? No Congresso dos Estados Unidos foi dito que sem o resgate dos maiores bancos a consequência teria sido a lei marcial. Na Irlanda o perigo era de ver ” as pessoas nas ruas”. E os políticos, com uma formação económica duma criança de cinco anos, logo baixaram os braços.

A Islândia demonstrou que uma via normal teria sido a administração controlada dos bancos, mas estas são coisas duma ilha vulcânica no meio do oceano e com poucos habitantes, por isso não conta.

Por isso quem fica em administração controlada são os Estados. Porque a insolvência não desapareceu: foi simplesmente transferida dos bancos para os Estados. E são estes agora que procuram o resgate, já não os bancos.

Terceiro Mundo, PIGS e o resto do Globo

Teria sido possível prever esta situação?
Sim, sem problemas, pois aqui mesmo ao lado havia e ainda há o melhor dos exemplos.

John Perkins, no seu Confessions of an Economic Hit Man (“Confissões dum assassino económico”), explica como nas últimas décadas o Terceiro Mundo foi obrigado à escravidão do endividamento perpétuo. Porque as dívidas foram criadas de forma que pagar torna-se impossível.

Pelo contrário: as dívidas têm de ser ré-financiadas periodicamente, o que mergulha os Países em dívidas cada vez mais profundas.

Com o passar do tempo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) assume o controle efectivo do País, incapaz de sobreviver perante a ruína económica.
Neste sentido, o Terceiro Mundo foi o tubo de ensaio: agora o plano pode abranger o resto do planeta.

O começo, claro está, na Europa, com os PIGS. Portugal, Grécia, Irlanda, Italia, Espanha, e a seguir França e Bélgica, ficaram envolvidos num plano que pode funcionar apenas numa condição: a condição de crescimento ilimitado. Mas a elite sabe que esta época dourada não voltará, o mundo entrou numa nova fase, a fase do “equilíbrio” (por assim dizer) ou até de decréscimo.

Por isso PIGS, afins e União Europeia têm o destino traçado: demolição controlada. A primeira parte, pois seria ingénuo pensar que tudo poderia acabar com o colapso europeu.

Uma demolição, é bom lembrar, que tinha começado muito antes: nas década dos anos ’80 com Reagan nos Estados Unidos e Tatcher no Reino Unido; em 1998 com o Tratado de Maastricht na Europa; logo com a globalização e a instituição da Organização Mundial do Comércio (OMC) no resto do mundo.

O sistema tem agora luz verde para o colapso. Mas que acontecerá depois?

A Era Pós-Capitalista

Organização Mundial do Comércio, Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial não têm nenhuma pretensão de representatividade democrática. Não é difícil individuar nestas instituições o berço duma nova governance mundial. Portanto, um sistema no qual as normas são aplicadas por uma burocracia autocrática global, no topo do qual, e atrás da fachada, será possível encontrar as caras de sempre: as caras da elite banqueira.

Democracia limitada e esvaziada

Mesmo assim, inútil esperar uma ditadura opressiva ao estilo de 1984 de George Orwell. Séculos de experiência irão proporcionar uma sociedade ainda fundamentada em aparentes princípios democráticos, pois o que está em jogo é o Capitalismo, não a Democracia. Que, pelo contrário, é idolatrada.

E, de facto, o regime democrático constitui uma excelente terreno de cultura para os desejos das elites. Portanto, será mantida uma Democracia de fachada, embora cada vez mais reduzida e esvaziada de reais conteúdos.

Demonização do Capitalismo

Na Era Post-Capitalista será demonizado o Capitalismo, o que é um processo normal é já conhecido. O Cristianismo demonizou o paganismo, com os Estados-Nações foi demonizada a Igreja, com as Republicas foram demonizadas as monarquias.

No mundo pós 2012 será a vez do Capitalismo (já em fase de destruição), do soberania nacional e, só em parte, da Democracia. Será uma passagem obrigatória para que as pessoas possam aceitar um regime mais arbitrário, parecido com o totalitarismo embora mais “suave”.

O Capitalismo, que na sua concepção originária significa crescimento, reconhece como virtudes a ambição, a iniciativa e a competência; as pessoas precisam de liberdade, um pouco pelo menos, porque sem liberdade não pode haver ambição e as dinâmicas do Capitalismo não podem funcionar.

Lógico pensar que no próximo regime tudo isso seja visto como defeito, num mundo onde será preciso convencer as pessoas que ordem e pobreza trazem mais vantagens para a Humanidade.

Demonização do Estado

Conceitos como Estado e família serão obsoletos e terão de ser revistos. É provável que na Era Pós-Capitalista a ideia de Estado seja apagada, enquanto haverá um controlo mais apertado sobre a infância, pois a educação é a chave para formar novos cidadãos obedientes e para construir uma cultura que sirva os fins da nova sociedade. A ideia de família será profundamente revista: não desaparecerá, mas será distorcida e confundida para tornar as ligações cada vez mais leves.

Cultura limitada

A mesma cultura não poderá ser transmitida nos moldes actuais. Doutro lado, é provável que num mundo Pós-Capitalista a classe média seja obrigada a desaparecer e, no geral empobrecimento, haverá bem pouco tempo e recursos para procurar cultura.

Eliminação da classe média

A citada eliminação da classe média será também uma das passagens mais importantes: as elites conhecem a importância desta classe, é com o surgimento dela que tiveram a ocasião para tornar-se elite, lógico que eliminar o possível berço duma possível elite concorrente.

Diário do Tecnocrata de Classe 3, Sector Europa

Naqueles dias terríveis, antes da unificação da humanidade, a anarquia reinava no mundo.

Uma nação atacava a outra, nem mais nem menos do que os predadores selvagens. As nações não tinham um prazo, os eleitores oscilavam dum partido para outro, mantendo os governos em continuas fases de transição e confusão.

Como pode alguém ter imaginado que classes de pessoas semi-instruídas pudessem ter governado e dirigido uma sociedade complexa? A Democracia Primitiva foi uma experiência mal concebida que levou apenas à corrupção e governação caótica. 

A procura do dinheiro é a raiz de todo o mal, e o sistema capitalista é intrinsecamente corrupto e gastador.

A anarquia reinava nos mercados, bem como as empresas que cegamente perseguiam o lucro sem se preocupar com as necessidades humanas ou do planeta. Não é possível uma comparação com as nossas brigadas do trabalho, que produzem apenas o necessário e usam só o que é sustentável.

O capitalismo tem incentivado a ganância e o consumo, as pessoas desgastavam-se para competir uns contra os outros, para ultrapassar numa corrida de ratos. 

Muito mais sábio viver dentro das nossas possibilidades, aceitar o racionamento e as tarefas que atribuídas, quaisquer que sejam, ao serviço da Humanidade.

Foram tempos horríveis, aqueles em que, sem qualquer licença, os casais sem formação tinham o controle total das crianças: a portas fechadas, com qualquer tipo de neurose, vícios ou perversões. Um resíduo de escravidão patriarcal, com casas onde os abusos infantis não era excepção.

Ipse dixit.

Fontes: Mondart , GlobalResearch, Escaping The Matrix, Quaylargo