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O Papa indignado

O Papa está indignado.
Também ele?

Ah, pois… 

Occupy Vatican City? O Papa manifestará perante a Santa Sede?

Talvez não. A indignação dele não chega até estes pontos.
Aliás, toma um percurso diferente. Bem diferente.

O documento, cujo título é “Para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva duma Autoridade pública com competência universal”, começa já mal: o que é esta “Autoridade de competência universal”?

Não é por nada, é que dito assim fica um bocado suspeito…
Mas vamos ler.


Ao longo de 13 páginas, o Pontifício Conselho de Justiça e Paz faz o ponto da situação: e a situação não é nada simpática.
Começa com uma análise das condições e das relativas causas.

Uma tendência negativa na produção e no comércio tradicional, com graves consequências na ocupação e com efeitos que ainda não esgotaram todo o alcance deles.[…] Países e áreas onde ainda faltam os bens básicos para a saúde, a comida, mais de um bilião de pessoas obrigadas a viver com um rendimento médio de pouco mais de um Dólar por dia.

Tá bom, não são propriamente Grandes Verdades Reveladas: são coisas que todos sabemos, é suficiente abrir um qualquer diário para ler as mesmas coisas.

Mas apreciamos a boa vontade.

Alguns realçam sobretudo os erros implícitos nas políticas económicas e financeiras; outros insistem nas fraquezas estruturais das instituições políticas, económicas e financeiras; outros ainda culpam falhas de natureza ética em todos os níveis, no molde duma economia mundial cada vez mais dominada pelo utilitarismo e pelo materialismo.

E que dizer, sim, são coisas que sabemos, aliás que todos sabem. Difícil é encontrar alguém que ainda não tenha ouvido falar destes assuntos.

Nas últimas décadas foram os bancos a estender o crédito, o qual gerou moeda, que por sua vez solicitou uma ulterior expansão do crédito. O sistema económico foi de tal forma empurrado na direcção duma espiral inflaccionária que de forma inevitável encontrou um limite no risco sustentável pelas instituições de crédito, submetidas a um perigo de falência, com consequências negativas para o inteiro sistema económico e financeiro.

…zzzzzzzzzzzzzz…eh? Ah, pois.
Bom, vamos em frente porque com estas coisas arriscamos ficar velhos.
Qual a solução segundo o Conselho Pontifício?
A solução é apresentada a partir do passado, do ano 1963.
Depois de Cristo, para nossa sorte.

Na profética Carta encíclica Pacem in terris de 1963, [João XXIII] advertia que o mundo estava a caminhar na direcção duma cada vez maior unificação. Assumia, portanto, o facto que na comunidade humana tinha desaparecido a ligação entre a organização política “em escala mundial e as exigências objectivas do bem comum universal.” Apelava consequentemente para a criação, um dia, duma “Autoridade pública mundial”.

“Consequentemente”. Engraçado este termo. É como dizer: não há nada a fazer, tem que ser assim, é a lógica consequência das coisas. É a única solução possível.
Muito fino, sem dúvida.

A citação de João XXIII é um bocado velhota? Não há crise, eis o que afirma Papa Rat Singer, em arte Bento XVI:

“A crise obriga-nos a re-projectar o nosso caminho, estabelecer novas regras e descobrir novas formas de empenho, apostar nas experiências positivas e rejeitar as negativas. A crise torna-se assim uma oportunidade para o discernimento e um novo planeamento estratégico. Neste espírito, com confiança ao invés de resignação, devem ser enfrentadas as dificuldades do momento presente”.

Os mesmos líderes do G20, na Declaração Final de Pittsburgh em 2009, afirmam doutro lado que “a crise económica demonstra a importância de se iniciar uma nova era da economia global com base na responsabilidade.

E se isso dizem os líderes do G20, como não acreditar? É a prova provada.
São ou não são as mesmas pessoas que provocaram a crise? Então quem melhor de quem provocou a crise sabe como sair desta?
O raciocínio é inabalável.

Sim, mas agora chegou a altura da verdadeira solução: e Rat Singer não perde tempo, vai direitinho ao coração do problema.

Especial atenção deve ser dada à reforma do sistema monetário internacional e, em particular, ao compromisso de trazer alguma forma de controle monetário global, que já está implícito nos estatutos do Fundo Monetário Internacional. […] No fundo temos, em perspectiva, a necessidade de uma entidade que desempenhe as funções duma espécie de “banco central global” para regular o fluxo e o sistema das trocas monetárias, como os bancos centrais nacionais “.

Tão simples, não é? Mas como é que ninguém tinha pensado nisso antes?
Não, esperem: alguém tinha pensado nisso, exactamente isso.
Mas não será algo de mal?

Nem por isso, explica Rat Singer:

Autoridade, ao serviço do bem de todos e de cada um, será, necessariamente não-partidária, isto é, acima de qualquer visão parcial e de qualquer bem, tendo em vista o bem comum. As suas decisões não devem ser o resultado do poder dos Países mais desenvolvidos sobre os Países mais fracos. Deverão, pelo contrário, ser tomadas no interesse de todos, não só beneficiar certos grupos, sejam eles formados por lobby privadas ou governos nacionais. 


Mas então é uma coisa boa! Mais do que boa: boazona!
E nós, aqui, feitos parvos com estas coisas da Nova Ordem Mundial.
Afinal o NWO é bom, super-bom.
Palavra de Rat Singer, Bento XVI para os amigos.

Que, todavia, deixa um aviso:

Não deve ser esquecido, todavia, que esta passagem, dada a natureza dos homens, não acontece sem angústias e sem sofrimentos.

Fica descansado, caro Rat Singer: agora que sabemos qual a verdadeira natureza da Nova Ordem Mundial, estamos prontos para enfrentar qualquer guerra.

Sempre com o sorriso nos lábios.
E a bênção papal.  

Nota: sempre acerca do mesmo assunto, também está disponível um artigo no blog Libertar! 

Ipse dixit.

Fonte: Pontifício Conselho da Justiça e da Paz: Per una riforma del sistema finanziario e monetario internazionale nella prospettiva di un’autorità pubblica a competenza universale (em italiano)