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Os Protocolos dos Sábios de Sião

Diz Walner:

[…] Navegando por aí, fui dar de encontro com algo por mim conhecido de forma superficial (inteiramente superficial), pois acreditava na versão de que o objeto em questão, tinha sido forjado para incriminar os judeus. Falo do famoso “Protocolos dos Sábios de Sião”. […]

Na verdade tudo indica um plano bem desenhado e seguido à risca. Aqueles meus gens esquerdistas estão revoltados, mais uma vez se sentiram traídos (melhor seria dizer, manipulados).

Se não for pedir muito, seria possível uma consulta aos alfarrábios do Léo e ver qual a credibilidade do documento? Isto se for possível se chegar à alguma conclusão.

Espero não estar abusando da tua paciência e do teu tempo. Eu e meus gens, cada dia mais desbotados, agradecemos.

Abusar da paciência? Ora essa: Informação Incorrecta é lugar de troca de informações, de ideias: e se o Leitor estiver curioso acerca dum assunto, qual o problema em falar dele?

Os Protocolos. São verdadeiro? São falso? Boh? Mas sobretudo: o que são?

Os Protocolos: um plagio?

Os Protocolos dos Sábios de Sião são um documento que foi publicação no principio do século, em 1903.
Supostamente foram redigidos por um grupo de Sábios hebraicos e descrevem uma operação que outra coisa não é a não a implementação duma Nova Ordem Mundial, chefiada pelas elites hebraicas.

Os Protocolos tiveram ampla difusão, merecendo até publicados pelo prestigiado Times em 1920; no mesmo ano, Henry Ford financiou a publicação e difusão do texto.

A Grande Wikipedia, que nunca erra e raramente se engana, explica que na verdade os Protocolos são um falso, que a coisa ficou clara desde o princípio (não parece: o Times publicou os Protocolos 15 anos após estes ter aparecido) e que a prova conclusiva foi apresentada no livro History of a Lie, publicado em 1920 por Herman Bernstein.

Considerado que Bernstein era hebreu (Yddish), é um pouco como perguntar a Al Capone “O que acha, a máfia é coisa boa ou má?”.

Mas houve também pesquisas sérias, que demonstraram factos bem suspeitos.

Os Protocolos, no mínimo, utilizaram partes dum outro livro, publicado algumas décadas antes, cujo título era Dialogue aux enfers entre Machiavel et Montesquieu (Dialogo no Inferno entre Macchiavelli e Montesquieu), de Maurice Joly.

E este facto não pode ser negado. Eis alguns exemplos:

Dialogue, pág. 141:
Como o Deus Visnu, a minha imprensa terá centenas de braços e estes braços sentirão o pulso de cada possível opinião em todo o País.

Protocolos, pág. 43:
Estes jornais, tal como o Deus Visnu, terão milhares de mãos, cada uma das quais sentirá o pulso das diversas opiniões públicas.

Dialogue, pág. 207:
Agora percebo a imagem do Deus Visnu: centenas de braços, como o ídolo indiano, e cada dedo mexerá numa alavanca.

Protocolos, pág. 65:
O nosso governo parecerá o Deus Visnu. Cada uma das centenas das nossas mãos controlará as alavancas do sistema do Estado.

Dialogue, pág. 250:
Como funcionam os empréstimos? O governo emite obrigações e empenha-se a pagar os interesses em proporção com o capital depositado. Se um empréstimo for ao 5% o Estado, após 20 anos, terá pago um total igual ao capital depositado. Após 40 anos terá pago o dobro, após 60 anos o triplo: ficando sempre devedor do inteiro capital.

Protocolos, pág. 77:
Um empréstimo é uma obrigação emitida pelo Estado, que empenha-se  apagar uma percentagem do total tomado em empréstimo. Se um empréstimo for ao 5%, após 20 anos o governo terá inutilmente pago um montante igual ao recebido para pagar os interesses. Após 40 anos terá pago o dobro e após 60 anos  o triplo do total, sem ter extinguido a dívida.

Admitimos: semelhanças embaraçosas…e há mais disso, o que demonstra como a publicação não foi algo de original.

Pergunta: mas o que era este Dialogue?
Era uma publicação satírica, cujo alvo era a ambição política de Napoleão III. O Dialogue, por sua vez, era constituído em parte pelo plagio (7 páginas iguais) duma outra obra, Les Mystères du peuple de Eugene Sue (primeira metade de 1800).

Segundo os debunkers (termo inglês que indica os que desvendam tramas como os fals os), os Protocolos tinha sido produzido pela Okhrana, a polícia secreta do regime do czar Alexandre III da Rússia.

A ideia era descredibilizar os movimentos revolucionários bolchevique que já na altura eram activo na Rússia e que o establishment tinha individuado, justamente, como grave ameaça para a segurança do País.

Os Protocolos actuais

Assunto fechado então?
Não. Porque os Protocolos podem ser um falso, mas há mais nesta história.

Em primeiro lugar, qualquer Leitor não pode não reparar na actualidade das descrições. É verdade, muitos dos livros de conspiração fazem afirmações genéricas, que é possível adaptar a muitas situações em várias épocas históricas.

Os Protocolos não: descrevem a actualidade, o que acontece hoje, com assinalável exactidão.

Protocolo II:

Transportada, assim, a guerra para o terreno econômico, as nações verão a força de nossa supremacia, e tal situação porá ambas as partes à disposição de nossos agentes internacionais, que têm milhares de olhos e que nenhuma fronteira pode deter.

Então, nossos direitos internacionais apagarão os direitos nacionais, no sentido próprio da expressão, governando os povos, do mesmo modo que o direito civil dos Estados regula as relações entre seus súditos.

Protocolo III:

Transformamos os Estados em arenas onde reinam os distúrbios… Dentro de pouco tempo, as desordens e bancarrotas surgirão por toda a parte. Os falastrões inesgotáveis transformaram as sessões dos parlamentos e as reuniões administrativas em prélios oratórios.[…]

Os povos estão mais escravizados ao trabalho pesado do que no tempo da servidão e da escravidão. É possível livrar-se de um modo ou de outro da escravidão e da servidão. É possível compactuar com ambas. Mas é impossível livrar-se da miséria. Os direitos que inscrevemos nas constituições são fictícios para as massas ; não são reais.

Todos esses pretensos “”direitos do povo” somente podem existir no espírito e são para sempre irrealizáveis. Que vale para o proletário curvado sobre seu trabalho, esmagado pela sua triste sorte, o direito dado aos falastrões de falar, ou o direito concedido aos jornalistas de escrever toda espécie de absurdos misturados com cousas sérias, desde que o proletariado não tira das constituições outras vantagens senão as miseráveis migalhas que lhe lançamos de nossa mesa em troca dum sufrágio favorável às nossas prescrições, aos nossos prepostos e aos nossos agentes?

Para o pobre diabo, os direitos republicanos são uma ironia amarga: a necessidade dum trabalho quase cotidiano não lhe permite gozá-los ; em compensação, tiram-lhe a garantia dum ganho constante e certo, pondo-o na dependência das greves, dos patrões e dos camaradas.

Sob a nossa direção, o povo destruiu a aristocracia, que era sua protetora e sua ama de leite natural, porque seu interesse era inseparável do interesse do povo. Agora que a aristocracia foi destruída, ele caiu sob o jugo dos açambarcadores, dos velhacos enriquecidos, que o oprimem de modo impiedoso.[…]

Essa inimizade aumentará ainda em virtude da crise econômica que acabará por parar as operações da Bolsa e a marcha da indústria.

Quando criarmos, graças aos meios ocultos de que dispomos por causa do ouro, que se acha totalmente em nossas mãos, uma crise econômica geral, lançaremos à rua multidões de operários, simultaneamente, em todos os países da Europa.

Essas multidões por-se-ão com voluptuosidade a derramar o sangue daqueles que invejam desde a infância na simplicidade de sua ignorância e cujos bens poderão então saquear. 

Protocolo IV:

Para que os espíritos dos cristãos não tenham tempo de raciocinar e observar, é necessário distraí-los pela indústria e pelo comércio. Desse modo, todas as nações procurarão suas vantagens e, lutando cada uma pelos seus interesses, não notarão o inimigo comum.

Mas para que a liberdade possa, assim, desagregar e destruir completamente a sociedade dos cristãos, é preciso fazer da especulação a base da indústria. Desta forma, nenhuma das riquezas que a indústria tirar da terra ficará nas mãos dos industriais, mas serão sorvidas pela especulação, isto é, cairão nas nossas burras.

A luta ardente pela supremacia, os choques da vida econômica criarão e já criaram sociedades desencantadas, frias e sem coração.Essas sociedades terão uma profunda repugnância pela política superior e pela religião. Seu único guia será o cálculo, isto é, o ouro, pelo qual terão verdadeiro culto, por causa dos bens materiais que pode proporcionar.

Então, as classes baixas dos cristãos nos seguirão em nossa luta contra a classe inteligente dos cristãos no poder, nossos concorrentes, não para fazer o bem, nem mesmo para adquirir a riqueza, mas simplesmente por ódio dos privilegiados.

Protocolo V:

Todas as engrenagens do mecanismo governamental dependem dum motor que está em nossas mãos: esse motor é o ouro. A ciência da economia política, inventada por nossos sábios, mostra-nos desde muito tempo o prestígio real do ouro.

O capital, para ter liberdade de ação, deve obter o monopólio da indústria e do comércio; é o que já vai realizando a nossa mão invisível em todas as partes do mundo. Essa liberdade dará força política aos industriais e o povo lhe será submetido. Importa mais, em nossos dias, desarmar os povos do que levá-los à guerra ; importa mais servir as paixões incandescidas para nosso proveito do que acalmá-las ; importa mais apoderar-se das idéias de outrem e comentá-las do que baní-las.

O problema capital do nosso governo é enfraquecer o espírito público pela crítica ; fazer-lhe perder o hábito de pensar, porque a reflexão cria a oposição ; distrair as forças do espírito, em vãs escaramuças de eloqüência.[…]

Para tomar conta da opinião pública, é preciso torná-la perplexa, exprimindo de diversos lados e tanto tempo tantas opiniões contraditórias que os cristãos acabarão perdidos no seu labirinto e convencidos de que, em política, o melhor é não ter opinião. São questões que a sociedade não deve conhecer. Só deve conhecê-las quem a dirige. Eis o primeiro segredo.

O segundo, necessário para governar com êxito, consiste em multiplicar de tal modo os defeitos do povo, os hábitos, as paixões, as regras de viver em comum que ninguém possa deslindar esse caos e que os homens acabem por não se entenderem mais aos outros.

Essa tática terá ainda como efeito lançar a discórdia em todos os partidos, desunindo todas as forças coletivas que ainda não queiram submeter-se a nós; ela desanimará qualquer iniciativa, mesmo genial, e será mais poderosa do que os milhões de homens nos quais semeamos divergências. Precisamos dirigir a educação das sociedades cristãs de modo tal que suas mãos se abatam numa impotência desesperada diante de cada questão que exija iniciativa.

O esforço que se exerce sob o regime da liberdade ilimitada é impotente, porque vai de encontro aos esforços livres de outros. Daí nascem dolorosos conflitos morais, decepções e insucessos. Fatigaremos tanto os cristãos com essa liberdade que os obrigaremos a nos oferecerem um poder internacional, cuja disposição será tal que poderá, sem as quebrar, englobar as forças de todos os Estados do mundo e formar o Governo Supremo.

Em lugar dos governos atuais, poremos um espantalho que se denominará Administração do Governo Supremo. Suas mãos se estenderão para todos os lados como pinças e sua organização será tão colossal que todos os povos terão de se lhe submeterem

Protocolo VI:

Criaremos em breve enormes monopólios, colossais reservatórios de riquezas, dos quais as próprias fortunas dos cristãos dependerão de tal modo que serão por eles devoradas, como o crédito dos Estados no dia seguinte a uma catástrofe política.

Os senhores economistas aqui presentes devem considerar a importância dessa combinação![…]

Ao mesmo tempo, devemos proteger fortemente o comércio e a indústria, sobretudo a especulação, cujo papel é servir de contrapeso à indústria; sem a especulação, a indústria multiplicaria os capitais privados e melhoraria a agricultura, libertando a terra das dívidas criadas pelos bancos rurais. É necessário que a indústria tire à terra o fruto do trabalho, como o do capital , que nos dê, pela especulação, o dinheiro de todo o mundo: lançados, assim, às fileiras dos proletários, todos os cristãos se inclinarão diante de nós para terem ao menos o direito de viver.

Para arruinar a indústria dos cristãos, desenvolveremos a especulação e o gosto do luxo, desse luxo que tudo devora. Faremos subir os salários, que, entretanto, não trarão proveito aos operários, porque faremos, ao mesmo tempo, o encarecimento dos gêneros de primeira necessidade, devido, como apregoaremos, à decadência da agricultura e da pecuária […]

Protocolo VIII:

Rodearemos nosso governo por uma multidão de economistas. Eis porque as ciências econômicas são as mais importantes a serem ensinadas aos judeus. Rodear-nos-emos duma plêiade de banqueiros, industriais, capitalistas, e sobretudo milionários, porque, em suma, tudo será decidido pelas cifras.

Um fenómeno de longa duração

Se ao ler os Protocolos na integra o alvo parece evidente em algumas passagens (os Judeus, os Bolcheviques), outras indicam uma visão que transcende a altura da publicação e abrange um período de tempo bem maior (há a antecipação da Grande Depressão americana e também da nossa crise).

A verdade é que o Dialogue decifra um fenómeno de longa duração e os Protocolos, neste aspecto, foram modificados apenas para individuar um “culpado” acerca do qual reunir um maior consenso. De facto, nos Dialogue não aparecem os hebreus, que nos Protocolos ao contrário são indicados como principais responsáveis da trama sinistra.

Mas em ambos os casos, Napoleão III ou as setas hebraicas não têm grande importância: o que interessa é que os Dialogue (e os Protocolos de reflexo) descrevem um enredo no centro do qual encontramos o Estado moderno, cujo fim parece ser a criação e a manutenção duma condição de escravidão, obtida com as mais diversas técnicas (controle da imprensa, crises económicas).

O que espanta é que os Protocolos foram publicados nos primeiros anos do séc. XX; o Dialogue por volta de 1860 e Les Mystères du peuple na primeira metade de 1800. Estamos perante dum tendência que não é própria apenas do nosso tempo: é um perigo já vislumbrado no passado e acerca do qual vários escritores chamaram a atenção.

Os Protocolos são um plagio, e isso não pode ser posto em discussão (se alguém conhecer o idioma francês, será suficiente comparar os Protocolos e o Dialogue, cujos links são presentes mais em baixo). O problema é que o original é algo de muito interessante e terrivelmente moderno. Os críticos dos Protocolos esquecem de analisar a fonte, ficando apenas com a ideia dum aproveitamento para desacreditar os hebraicos, pois a única coisa a reter nesta história parece ser o eterno papel de vítima do povo do Rei David.

Mas liquidar o assunto como simples plagio é a maneira melhor para não enfrentar um perigo que já tinha sido pressentido no passado e que hoje é cada vez mais actual. Nesta óptica, seria interessante conhecer qual a fonte originária dum documento (Le Mystéres) que descreve uma fase histórica que bem conhecemos: a implementação duma Nova Ordem Mundial.

Ipse dixit.

Ah! Obrigado Walner por ter lembrado o assunto!

Fontes: Dialogue aux enfers entre Machiavel et Montesquieu (em língua original). Rádio Islam (Protocolos dos Sábios de Sião, em língua portuguesa)