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Conhecer para ficar imóveis

Antes de traduzir o artigo de Burgos (é já a seguir) uma breve nota acerca dum comentário que recebi.
Assinado Willibert, na verdade reflecte o pensamentos de mais Leitores, pelo que a resposta interessa a mais do que uma pessoa.

Eis o comentário:

eu to com o Pedro

o max ainda ta chorando com estes negocios de dos protestos

se tu quiser ir em protesto financiado por bancos vá caramba!!

eu acho q vc é mais como estes que acredita em anonymous, em wikileaks e etc…
ou seja, que se aliena a qualquer movimento (sem ao mesmo se importar que sejam legítimos ou nao)

é brincadeira!

se tu nao gosta de ter conhecimento mais que os outros, então pare de ler livros, feche o seu blog e se inscreva no greepeace pra protestar…

vc tem mais conhecimento que os outros é justamente pra passar estes conhecimentos…… a nao ser q vc nao esteja fazendo isto… aí é problema seu….

to de saco cheio

Querido Willibert, em primeiro lugar um pedido de desculpa: de facto, atrevi-me a publicar neste blog uma minha ideia, o que reconheço ter sido uma falta de respeito.

Vou tomar medidas para que isso não volte a acontecer.


A seguir: não vou comentar a minha fé nos vários Anonymous, Wikileaks, etc.
Evidentemente Willibert é um Leitor novo que nem tentou conhecer qual a posição do blog, problema dele, não meu. No blog há amplo material acerca disso, é só consultar.

Mas o ponto mais interessante, verdadeiramente interessante, é aquele dedicado ao conhecimento:

se tu nao gosta de ter conhecimento mais que os outros, então pare de ler livros, feche o seu blog e se inscreva no greepeace pra protestar…

Gostei disso.

O conhecimento é aqui um valor absoluto, em boa parte abstracto, que não tem relacionamento com a realidade.
Podemos ter todo o conhecimento do Mundo, viver como escravos e ser felizes.
A ideia de que o conhecimento possa (e deva) ser utilizado para melhorar a nossa condição (e não apenas nossa) parece estar fora de questão.

É o conhecimento que tem como fim o conhecimento.
E ponto final.

O que traz esta situação?
Conformismo.

Esquisito, não é? Mas é assim: “eu tenho o meu conhecimento, os outros que se lixem, não vou mexer-me”.
Esta é a teoria.
Agora a prática: “Continuo a não mexer-me e deixo que os outros decidam por mim, sigo a onda”.

É exactamente o que a maioria da população mundial faz: não se mexe, não toma decisões, deixam que outros decidam. A única diferença é que o conhecimento cria um álibi perfeito: “Não me mexo porque sei que está tudo controlado”.

Os Leitores mais antigos podem lembrar de quando, em particular no início do blog, eu queixava-me da pouca iniciativa das pessoas, da pouca participação no social.
Eu sou sempre a mesma pessoa, não mudei de ideia: para mudar algo temos de mexer-nos. Caso contrário, outros mudarão as coisas e nós vamos ficar aqui, sempre com queixas.

Queixas para as quais podemos encontrar boas justificações teóricas, pois o conhecimento faz isso também, mas sempre e apenas queixas.

Gostaria de pedir um favor: gostaria que alguns entre os que pensam que não vale a pena mexer-se explicassem se podemos mudar alguma coisa e eventualmente como. Porque eu não entendo o “ficar parado” e isso poderia ser um bom ponto de partida para uma sucessiva discussão.

Deixei bem claro que as manifestações Occupy Wall Street ou 15 de Outubro são fruto duma iniciativa oriunda não dos cidadãos mas de quem quer destruir a nossa sociedade, para substitui-la com algo não melhor (e provavelmente pior).
Quem não entender isso ou não lê ou se lê não percebe (será por causa dos erros?).
Ok, acontece, mas então perguntem antes de escrever coisas sem sentido.

Eu achava bastante claro que participar no 15 de Outubro não significava abraçar as mentiras apresentadas, mas era uma ocasião para sair, encontrar pessoas fartas, tal como nós, talvez organizar algo, sei lá.
Mas, pelo visto, nada disso foi recebido: “Participas no 15 de Outubro? Então és como eles, aliás, se calhar pior”.
Fogo, fui descoberto: o meu nome é Max Rothschild. eu bem disse que a minha avó era alemã…

Meus senhores, participem ou não, que eu perco ou ganho com isso?

Só que agora gostaria de perceber: porque se estiver tudo já planeado, se mexer-se é inútil, se nada valer a pena, então alguém consegue explicar-me este famoso conhecimento para que serve?
Não é melhor viver ignorantes e felizes?
Ou será que o escravo “conhecedor” recebe um prémio?

Dá imunidade? Descontos no IRS?

Muitos entre os Leitores deste blog são de Esquerda (e não percebo bem por qual razão, mas isso não interessa agora):
Vocês, que estão embebidos das teorias de Carlitos Marx, do revolucionário Lenin, do revolucionário Che, do revolucionário Fidel,
Vocês que admiram estes homens que lutaram de forma activa para mudar o mundo,
Vocês que têm todos estes conhecimentos duma Esquerda feita de ícones revolucionárias,
Vocês são por acaso os mesmos que agora dizem “melhor não mexer-se”?
Vocês são os mesmos que nesta altura, na qual chegou a hora de fazer algo, afirmam: “Está tudo controlado, nem vale a pena”?

Porque se forem, então a coisa fica bem divertida, não acham?
E os outros, os que não se reconhecem nesta ideologia: ficam aí, a ver o que os outros conseguem fazer? É isso?

Eu continuo a achar que o conhecimento sem saídas práticas é não apenas inútil mas até frustrante: sobretudo quando o conhecimento fornece material para tentar soluções mas, pelo contrário, é utilizado apenas como razão de queixa e desespero.
Ou como um bom álibi.

Como ninguém aqui tem a verdade no bolso, e como também gosto de aprender, reitero o meu pedido:

Gostaria de pedir um favor: gostaria que alguns entre os que pensam que não vale a pena mexer-se explicassem se podemos mudar alguma coisa e eventualmente como.

Obrigado desde já.

Ipse dixit.