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Querida Angela, querido marido de Carla Bruni…

No próximo fim de semana, como já anunciado, as Mentes Pensantes mais Pensantes estarão reunidas em Bruxelas naquela que pode ser definida como uma reunião extremamente importante, não apenas para o futuro do Euro, mas para a economia de todos os Países ocidentais.

Da reunião irá sair ou um Euro mais forte, com possibilidade de recuperação, ou o início do fim do Euro, o que arrastará as outras economias também. Não é esta uma mera visão euro-centrica, é um facto estabelecido pelo elevado grau de interdependência que existe hoje entre as várias economias mundiais.

Actores principais serão Angela Merkel e o marido de Carla Bruni.
Sendo ambos fieis Leitores deste blog, vamos humildemente avançar com algumas considerações.

Querida Angela, querido marido de Carla Bruni,

já disseram que os vossos Países farão tudo para salvar os bancos da Zona Euro: em primeiro lugar recapitalizar, isso é, aumentar os capitais disponíveis como reserva.

Como o dinheiro não cresce debaixo das couves, é óbvio que os bancos conseguiram convencer os amiguinhos do Banco Central Europeu a ligar a impressora, pelo que novo dinheiro será criado a partir do nada.

Quanto dinheiro? As vozes dos bem informados falam de montantes até 700 biliões de Euros. Pena tivessem sido 699 poderia ter emprestado eu, mas assim não dá.

E, segundo outros, o total até poderia ser bem superior, pois alguns bancos têm um rácio dívida/reserva de 30:1.
Isso significa que nas costas de cada Euro de reserva ficam apoiados 30 Euros de dívida.

Querida Angela, querido marido de Carla Bruni, pergunto: mas faz sentido salvar os bancos sem redefinir as regras que determinam o funcionamento do sistema financeiro?
Sem uma riforma, o jogo dos bancos e da elite financeira continuará nos mesmos moldes actuais, com os resultados que todos podemos.

Eu sei, em caso de falência dos grandes bancos, sobretudo alemães e franceses, as economias sofreriam consequências desastrosas.

Mas não seria esta a melhor oportunidade para pretender uma mudança?
Agora, tempos em que os bancos precisam desesperadamente de dinheiro, agora é a altura certa para levantar a voz.
Foi o que fez Roosevelt na década dos anos ´30, quando conseguiu impor o Glass-Steagall Act.
Porque, caso contrário, em pouco tempo estaremos outra vez aqui, ainda a falar de rios de dívida e de dinheiro criado a partir do nada.

Querida Angela, sobretudo tu que dos dois pareces a única capaz de entender alguma coisa: porque não aproveitar esta reunião das Mentes Pensantes para uma intervenção histórica, algo que seja lembrado como “o dia em que tudo mudou”?

Deixo aqui algumas sugestões, vê tu o que podes fazer.

Nenhuma política de austeridade.
Os cortes nos orçamentos geram deficit maiores e maiores perdas nos anos seguintes. É uma medida que já foi tentada na Alemanha (Brüning, 1930-1932) e mais recentemente na Califórnia de Schwarzenegger e na Grécia de Papandreou, com os resultados que todos podemos ver.
Mais cortes significa menos dinheiro nos bolsos dos cidadãos.
Menos dinheiro nos bolsos dos cidadãos significa menos compras.
Menos compras significa uma economia que entra em depressão.
Uma economia que entra em depressão significa menos receitas fiscais.
Menos receitas fiscais significa um Estado que gasta mais ou que é obrigado a cortar mais.
E o jogo recomeça.
É uma equação simples, que todos podem entender. Até o marido de Carla Bruni.
Talvez.

Nenhum resgate
A bolha dos assets tóxicos tem um valor: 1.500.000.000.000.000 Dólares (1 mais 14 zero), 25 vezes o produto interno mundial. Este é o valor que deveria ser possível pagar para esvaziar a bolha dos assets.

A quota europeia é superior a um terço deste total, mais ou menos 500 triliões de Dólares. Só isso ultrapassa a capacidade do planeta. É um buraco negro que arrisca secar os bancos centrais do globo, sem que isso possa travar a hemorragia. Os assets podem ser só destruídos: mas ninguém pode ser resgatado. Ou faz sentido começar a “resgatar” alguns Países para de seguida parar numa certa altura?

Nada de Eurobond
A falência dos bancos europeus é é larga medida consequência de derivados falidos. Qual o sentido de obter empréstimos da China ou do Brasil? Isso significa alastrar os problemas, nada mais.

Nada de recapitalização dos bancos
Não existe uma recapitalização capaz de esconder 500 triliões de assets tóxicos. Isso sem falar do total no plano mundial (o já visto 1 mais 14 zero…).
Nos Estados Unidos, os bancos receberam ajuda do Estado (com 0% de juro) mas mantiveram os assets tóxicos nos cofres. São os mesmos bancos que ainda não concedem crédito, pois têm medo. Infelizmente é este o resultado da recapitalização com dinheiro público, o dinheiro dos contribuintes.

Maastricht na sanita
O limite do deficit como 3% do PIB foi um bom sistema para estrangular as economias europeias e manter a ocupação deprimida. Funcionou, mas agora seria melhor parar com isso: o problema não é o deficit.

Nada de EFSF
As economias europeias estão demasiadamente endividadas: não podemos resolver esta situação com nova dívida. Porque com o EFSF o problema da dívida não desaparece, mas simplesmente muda de lugar. Além de precipitar os Países numa espiral da dívida sem fim (como no caso da Grécia), o risco é que seja o mesmo EFSF o próximo alvo das agências de rating. As quais, lembramos, avaliam a bondade dos assets, entre as outras coisas. Mas se os assets foram apenas títulos de Estado de Países falidos?

Nada de FMI
Chamar o FMI como solução para os problemas europeus é como pôr um lobo qual segurança dos cordeiros: sabemos quem manda no FMI, e podemos estar certos que na altura apropriada o FMI lembrará os nomes dos verdadeiros donos.
Além disso, não será mal lembrar os espectaculares resultados obtidos pelas políticas do FMI nas recentes intervenções (Argentina, por exemplo).

A Europa deve ser a Europa dos Europeus, não dos bancos e dos cartéis transaccionais. 

E agora, querida Angela, eis algumas sugestões.
Tenta explicar algumas delas ao marido de Carla Bruni, por favor.

Bancos zombie liquidados.
Uma dezenas de grandes bancos europeus são autênticos mortos-viventes: estão defuntos mas não têm a coragem de admiti-lo, são mantidos em vida por razões políticas. Não podem contribuir com investimentos ou créditos comerciais, já não têm capacidades para isso. E não podemos esquecer as culpas, pois um banco não fica insolvente sem uma razão.
Estas instituições devem ser apagadas, nos moldes dos procedimentos de falência, e os derivados delas apagados.
Não há possibilidade de recupera-las.

Taxa: 1% em todas as transacções financeiras
O mundo financeiro tem culpas enormes na actual situação: o mundo financeiro tem de contribuir para a resolução da crise.
Uma taxa como esta seria o fim dos mercados? Idiotices: os Estados Unidos tiveram um ataxa sobre as vendas de Wall Street desde a Primeira Guerra Mundial até 1967; e o Estado de New York ainda tem este impostos.
As receitas, obviamente, não deveriam ser empregues para resgates ou outras operações sem sentido, mas simplesmente entregues aos vários Estados.

Cancelamento Universal / congelamento das dívidas dos derivativos
Parece coisa “enorme”, mas na verdade já foi tentada em 1932, pelo então Presidente Herbert Hoover, em relação às dívidas da Aemanha.. O problema da moratória Hoover foi a duração limitada (no mínimo deveria ser de 5 anos) mas o princípio funcionou, e bem.

Agências de rating: investigação
Emergiram relacionamentos incestuosos entre as agências de rating e o mundo da especulação: isso tem um nome, inside trading, e não é coisa simpática. O Procurador italiano Michele Ruggiero já actuo nas filiais italianas das agências, é preciso que não seja deixado sozinho.
Claro está: seria preciso apoio político, como no caso do Presidente JFK nos anos ’60.

Proibição de CDS e CDO
Até Lloyd Blankfein de Goldman Sachs avançou em 2010 a hipótese de apagar os derivativos mais perigosos. E entre estes, os piores são os CDS (Credit Default Swap) e os CDO (Collateralized Debt Obligation).
Vale a pena lembrar que entre 1936 e 1982 os derivativos eram proibidos nos Estados Unidos e ninguém morreu por causa disso.   

Moratória imediata das dívidas
Grécia e Portugal em primeiro lugar deveriam declarar uma moratória unilateral: estão falidos, é normal que não consigam pagar as dívidas. Brasil, México e Argentina já fizeram isso e resolveram as crises.
E um País falido nem é obrigado a abandonar o Euro: Mississippi, Louisiana, Maryland, Pennsylvania, Indiana e Michigan faliram em 1837 mas não abandonaram a União. Porquê deveria ser diferente hoje?

Moratória não significa deixar de pagar as dívidas: significa “Meus senhores, não temos um tostão, deixem arrumar um pouco a casa e depois voltamos a falar disso, tá bom?”.

40 milhões de desempregados reabsorvidos
40 milhões são os trabalhadores que na Europa não têm ocupação. Os fundos da Zona Euro deveriam ser destinados à criação de emprego. Porque, dum ponto de vista meramente pragmático, um homem que trabalha é um homem que gasta. E a Velho Continente precisa desesperadamente de reanimar a própria economia.
Acham reduzido um mercado de 40 milhões de consumidores???

BCE pública e não privada
Este é um ponto central, muito complicado: o Banco Central Europeu, tal como a maioria dos bancos centrais do planeta, é privado. Isso significa que, como todas as empresas privadas, tem como objectivo o lucro e não o bem estar comum. Quem pensar o contrário deveria consultar um psicólogo.
Claro, seria preciso um político com coragem, alguém disposto a sacrificar até a própria vida: eu aconselho mandar para a frente o marido de Carla Bruni com o slogan “BCE privada? Não, obrigado!”.

1.000 biliões de empréstimo
Mas como? Antes diz mal dos empréstimos e agora sugere 1.000 biliões de Euros aos vários Países?
Calma: há uma diferença entre dinheiro emprestado para pagar as dívidas dos bancos e dinheiro investido. Os investimentos geram lucros, com os quais o empréstimo paga-se sozinho.
Qual melhor maneira para reactivar a economia? Autoestradas, comboios, casa, escolas, bibliotecas, rede eléctrica modernizada, fonte renováveis (mas sem exagerar)…aumentar a reserva de bens strumentais do continente, este o objectivo.

Só isso? Só isso: como começo não seria mal.
Querida Angela, querido marido de Carla Bruni, estas medidas não resolveriam todos os problemas da Europa ou da economia global: mas dariam jeito e seriam o sinal de que algo está a mudar. E nós precisamos dum sinal assim.

Pensem no assunto, imprimam este post se for necessários, e em caso de dúvidas não hesitem em pedir ajuda: podem utilizar o mail do blog (fica à direita) ou os comentários, não há problemas.

Fiquem bem e não esqueçam uma camisola, pois em Bruxelas as noites arrefecem bastantes.

Um grande abraço,

Max (e Leo)

Fontes: Micromega, Megachip, Globalresearch,