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Manipulados? Ora essa…

Algumas considerações, talvez sem sentido e desligadas.
A minha avó

A minha avó era alemã.

Foi para Italia cedo, mesmo assim conservou boa parte dos hábitos alimentares do País de origem.

A cozinha da Alemanha é bastante simples: pega-se num pedaço de gordura, de preferência banha de porco, acrescenta-se sal, e eis pronto um almoço substancioso. Se ao invés do sal acrescentarmos açúcar, teremos um bolo.

Além disso, sempre acompanhou as refeições com cerveja, “cortada” com gasosa pois sozinha tinha poucas calorias. Os seus pratos (que eu adorava) eram um festival de molhos.
Muito gulosa, na sua casa nunca faltavam bolachas ou outras doçarias.

Morreu perto dos 80 anos, magra, sem problemas de colesterol ou coração, sem diabete, perfeitamente lúcida até o fim.

Segundo a medicina oficial, nem deveria ter chegado aos 40 anos dado o estilo de vida.
A mesma medicina explica que na Alemanha comem assim mas também “queimam” muita energia por causa do clima.
A medicina não conhecia a minha avó, que era sim alemã mas que vivia em Italia.

Os ovos anémicos

Guida chama-me para a cozinha. “Que eu fiz desta vez?” penso.

Mas não, o culpado não sou eu, são os ovos: estão aí, no meio do prato, com um ar que não inspira muita confiança.
São pálidos, horrivelmente pálidos. Até a gema nem é amarela, é quase branca. A melhor definição seria de “ovos anémicos”.

Não admira, pois vi onde as galinhas são criadas: enormes armazéns, com filas de gaiolas onde os animais nem se podem mexer, com a iluminação artificial que altera o equilíbrio dia/noite para que sejam produzidos mais ovos.
O resultado não pode ser que este.

A manga do Brasil

Mais logo, hora da refeição, eis que aparece uma manga.

Bonita, é verde e vermelha, vem do Brasil.
Uma vez aberta, o interior é preto. Não escuro, mas preto mesmo.
E, claro está, fica no lixo.

As mangas da vizinha Espanha são bem melhores.

A florista

A florista aqui do bairro cultiva alguns vegetais, que vende de forma ilegal. E ainda bem: porque o alface dela é fantástico, tem um sabor único e até dura mais.
Mesmo discurso com as cebolas e os tomates.

Com um pouco de sorte vai arranjar alguns ovos também.
Deus proteja a florista e o gato dela.

Chegamos a isso: para comer alguma coisa de jeito temos que ir para o “mercado paralelo”, pois a comida vendida através dos canais oficiais é treta.

Gourmet

Cultivados com a adição de produtos químicos, lavados, desinfectados, os produtos ficam nas arcas congeladoras ao longo das viagens. Uma vez descongelados, já perderam muito do produto original e tem um prazo bastante reduzido.
Porque o frio queima.

Alguns frutos nem conseguem voltar ao estado original, como o caso das laranjas que ficam secas e sem sabor.

Depois, nos supermercados, encontramos as maças normais e as maças gourmet, mais caras.

As maças normais são aquelas que têm um aspecto assustador, tendo passado boa parte da própria vida abaixo do 0º C, e agora resplendem por causa da camada de cera que tenta disfarçar os estragos.

As maças “gourmet” são as maças que sempre comi desde que nasci, aquelas com sabor, onde ainda podes encontrar o verminho que ai vive e prospera (e que é sinal de fruta saudável): antes não eram “gourmet”, eram maças normais, só que agora custam mais.

De vez em quando há até uma oferta: leva três paga dois. Assim, em vez dum produto que é uma porcaria, podes levar para casa três produtos porcarias e viver satisfeito.

Manipulados

O que quero dizer com tudo isso?
Nada, absolutamente nada.
Está tudo bem, e se calhar é isso que merecemos.
Porque depois, quando alguém sair na rua para protestar, até leva na cabeça, na televisão são apresentados como brutos que querem partir tudo, porque não são organizados, porque não têm ideias.

Até aparece alguém aqui a dizer que eu protejo os organizadores, gente como Soros e os amigos “Illuminati”. Com certeza, aliás, se ligar o candeeiro eu também fico “illuminato”, como podem ver é simples.

Nós temos ideias, tantas maravilhosas ideias, por isso não vamos no meio das pessoas que protestam porque nós somos diferentes, somos melhores, num certo sentido até superiores. Aliás, sem dúvida superiores, porque eles, os outros, são manipulados.
Nós não, claro que não.

Aceitamos comer lixo, mas não somos manipulados.
Participamos em eleições inúteis mas não somos manipulados.
O nosso dinheiro é utilizado por alguns para fazer a boa vida, mas não somos manipulados.
Somos idiotizados com uma televisão que se calhar pagamos em prestações (queres tornar o teu cérebro lixo? Sorry, tens que pagar) mas não somos manipulados.
Pagamos dezenas de milhares de Euros uma tecnologia velha de 100 anos que chamamos de carro mas não somos manipulados.
Somos definidos diabéticos quando há 10 anos os mesmos níveis de glucose eram considerados normais, mas não somos manipulados.
Ficamos horas parados no trânsito, a respirar gases tóxicos e a queimar gasolina que custa como ouro, porque “o trânsito é um problema”, mas não somos manipulados.

Os que protestam sim, são manipulados, é evidente.
E as galinhas também, todas manipuladas.
Vê -se por causa da gaiola: a delas é bem mais pequena.

Ipse dixit.