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O futuro: o Medo e a Raiva. Reset!

Diz The Observer: “Como será o mundo nos próximos 20 anos? Versão boa e versão má”.

Observer, infelizmente não posso fazer isso. E acho muito difícil que alguém possa construir uma previsão deste género.
Explico.

Na década dos ’70, por exemplo, havia a possibilidade de delinear dois tipos de futuro (no mínimo): no primeiro, as forças do “Bem” (o Ocidente) teria ganho a luta contra o “Mal” (o bloco soviético), no segundo o contrário. Eram previsões tudo somado simples, pois eram a natural evolução duma situação que já existia.

Hoje o panorama é completamente diferente.
Há alguns meses escrevi algo do tipo: “Temos sorte em viver nestes tempos, pois podemos observar muitos acontecimentos históricos, todos num curto espaço de tempo”. Quando escrevi isso não tinha bem a noção do alcance de tais acontecimentos, mas com o passar dos meses acho que o molde ficou um pouco mais claro.

Crise nos Estados Unidos, crise da Zona Euro, primeiros sinais de crise na China também, as revoluções da África do Norte e nos Países do Médio Oriente…a impressão é que todos estes acontecimentos sejam a introdução para algo maior.
Mas o quê?


Uma ruptura., uma profunda ruptura com o presente.
Não seria uma novidade, pois já aconteceu muitas vezes no passado. Só que uma coisa é ler disso num livro de história, outra coisa é ver desenrolar-se tudo agora, doutro lado da rua.

O joguinho já é conhecido: já ouviram falar de dívida? É isso.
Os Países não têm a possibilidade de pagar as próprias dívidas, isso parece evidente. Poderia ter sido possível dizer “Então, mas que é isso? Mas quem são afinal estes bancos?”. Mas a estrada escolhida foi outra: “Temos de pagar, a qualquer custo”. E vamos com cortes, em qualquer área.

Isso estrangula ainda mais a economia, algo que só as nossas elites parecem não entender. Por isso a crise, começada nos EUA, alastrou na Europa e daqui atingirá outros lugares também (ver os recentes sinais da China).

Ao mesmo tempo, eis que monta a revolta: Occupy Wall Street está a tornar-se algo de importante. não sabemos ainda se será o movimento decisivo ou apenas uma das primeiras manifestações de grande porte. Mas a estrada é aquela: antes os Indignados, agora Wall Street, a seguir algo maior.

Com os bancos que continuam a travar o crédito, a situação económica não apenas não melhorará mas cada vez mais será pior. E uma nova grande guerra seria a cereja no topo do bolo.

É óbvio que o sistema precisa dum reset.
O que é triste é que este reset, mais uma vez, será “pilotado”, tal como acontecido antes.

A História, sempre ela

No 18º século a.C., em Babilonia houve a primeira crise de crédito de que temos conhecimento.

Os camponeses depositavam o trigo nos armazéns do governo e recebiam em troca certidões de depósito; e estas certidões tornaram-se moeda.
Claro que quem costumava gerir estas certidões era aquele que hoje definimos como “banqueiro”: e “banqueiro” significa reserva fraccionária, e interesses.

Moral: após um determinado período, o total das certidões ultrapassava o trigo disponível.

Na altura, o Rei Rim-Sim (evidentemente uma pessoa séria) decretou o perdão das dívidas: isso evitou que os camponeses tivessem que vender tudo e tornar-se escravos para pagar as dívidas. Os banqueiros não ficaram muito satisfeitos, pois faliram, mas o sistema até funcionava: trigo, certidões, dívida, perdão.

O jogo foi implementado a seguir no Egipto, e temos rastos disso até na Bíblia (que condena os juros, tal como o Alcorão: porque será?). A gerir os armazéns e as certidões desta vez era tal José, só que este trabalhava por conta do Faraó e as coisas acabaram mal: os camponeses tiveram que vender tudo e tornar-se escravos para poder comer.
Moral: sempre desconfiar dum Faraó.

Nem Roma escapou ao esquema do crédito.
Nos últimos anos da República, perto do 60 a.C., os aristocratas tinham utilizado muito crédito tendo dado como garantias os próprios bens: casas e campos.

Lucius Sergius Catilina candidatou-se com um programa eleitoral no qual constava, entre as outras medidas, o perdão das dívidas para salvar a República. Obviamente Catilina foi estrangulado e hoje é ainda apresentado como um traidor: mas o seu homicídio abriu as portas ao Império.

No Renascimento podemos lembrar os Medici: não acaso o patriarca da família foi Giovanni di Bicci de’ Medici, profissão banqueiro. Foi ele que lançou as bases daquela que iria tornar-se uma das mais importantes famílias europeias do Renascimento. Família de banqueiros, óbvio.

Depois temos a Revolução Francesa, da qual falámos neste artigo.
E chegamos até os nossos dias. Estados Unidos: 65 triliões de dívida e uma massa monetária circulante de 12 triliões.

Meus senhores, não é um acidente isolado, é só abrir os livros de História e ler: está escrito tudo, é uma cilada que foi preparada com paciência porque já funcionou. Funciona sempre, porque os povos não têm memória.

A armadilha da dívida

Não gostam da História? Então leiam a Bíblia e reparem na atitude de Jesus perante os mercantes do Templo.

Mas porque toda aquela raiva contra pessoas que afinal estavam a trabalhar? Poderia ter dito “Pessoal, desculpem, esta é a casa do meu Pai, importam-se sair, e que raio, um pouco de respeito, não é?”.

Pelo contrário, Jesus mostra uma violência que costuma ser-lhe desconhecida, passa-se mesmo: é a única vez em que Jesus utiliza a força física.

E Jesus entrou no templo de Deus, e expulsou todos os que ali vendiam e compravam no templo, e derrubou as mesas dos cambistas

(Mateus, capítulo 21, versículos 12-17, Marcos, capítulo 11, versículos 15-18, Lucas, capítulo 19, versículo 45)

Não mercantes genéricos, mas “cambistas”. Estes eram, no contexto histórico, aqueles se dedicavam ao câmbio e que nas feiras medievais e nos núcleos urbanos no feudalismo, por exemplo, trocavam moedas de vários valores, por uma de valor único. Por meio da cobrança de algumas taxas, estes cambistas realizavam actividades típicas […] como empréstimos, câmbio, emissão de títulos e pagamento de dívidas.

Empréstimos? Dívidas? Por isso Jesus ficou histérico.

O quê? Não são Cristãos, são Islâmicos?
Então leiam o Alcorão:

Aqueles que praticam a usura actuam como servos de Satanás. Eles dizem: É licita a usura tal como o comércio, uma vez que ambos garantem um retorno justo.
Mas Deus permite o comércio e proíbe a usura.

E estas frases aparecem já na segunda das 114 Suras do Alcorão (versículos 275-276), extremamente importante pois a primeira é muito curta, tipo “introdução” (só 7 versículos).

Não são Cristão e nem Muçulmanos?
Então oiçam as palavras do Grande Leonardo:

A usura é má. Quero uma bolacha.

Porquê tanto realce? Porquê todo este destaque nas duas principais religiões do planeta e até nas palavras do Grande Leo?

Porque a dívida e o consequente mecanismo da usura (que nós chamamos “juros” porque é mais fino) são a chave para ocupar um Estado, um inteiro continente, para mudar a história do mundo. E para tornar os Homens escravos e priva-los do próprio futuro.

Os pontos, o medo e a raiva

Voltemos aos nossos dias.
Como afirmado, o sistema atingiu o limite, é preciso um reset. “Pilotado” ou não, será sempre algo de totalmente novo e talvez inesperado. De certeza implicará mudanças radicais.

Imediatas? Talvez não. Os efeitos da Revolução Francesa, por exemplo, foram imediatos na França, mas demoraram algumas décadas antes de abranger outros Países. Todavia foi o começo, algo que podemos vislumbrar nos nossos dias também.

E dado que na nossa época tudo está a acontecer de forma muito mais rápida, é provável que as tais transformações sejam aceleradas. Não podemos esquecer internet, grande veículo de mudança.

É este o nosso destino?
Sei lá eu, não sou um profeta. Mas, como sempre, podemos tentar ligar os pontos.
Liga aqui, liga aí, eis que o desenho resultante é muito parecido com as experiências do passado. E esta parece mesmo uma nova versão (e nem muito “nova” em verdade) duma história já vista.

Os velhos equilíbrios foram destruídos, já há bem poucos pontos firmes. As instituições ocidentais estão cada vez mais enfraquecidas, e não podemos esquecer que, apesar de encontrar-se em plena fase de decadência, são ainda estas que determinam o rumo do planeta.

Os recém chegados (os Bric, por exemplo) ainda não têm forças para impor o próprio ponto de vista: poderão ser fundamentais no futuro próximo (e acredito que assim será), mas agora não, é preciso um último empurrão.

Sem pontos de referência, o que sobra é o medo. E do medo até a raiva o passo é curto.

E esta é a melhor previsão que eu possa fazer.
Agora vou dar uma bolacha ao Leo, merece pela pérola de sabedoria.

(Pssssst! Se alguém tiver uma previsão alternativa faça o favor de falar nisso…precisamos!!!)

Ipse dixit.

Fontes: Wikipedia (Inglês)