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Mira a los terroristas de Irán!

É isso que acontece: gritas “Olha o lobo! Olha o lobo!” e quando o lobo finalmente chegar, ninguém já dá ouvidos.
Por exemplo, abro a página de Forbes (que raio de leitura…) e encontro este título:

O Procurador Federal desvenda enredo iraniano para assassinar o Embaixador saudita.

…e logo penso: “Sim, tá bom, estou mesmo a ver…”.

Pois o terrorismo serviu nesta última década para justificar tudo e mais alguma coisa.
Guerra no Iraque? Sim, está cheio de terroristas aí.
No Afeganistão? Uhi, nem falar.
E o Irão? Aqueles nascem já com uma bomba na mão.
E os exemplos poderiam continuar, e continuar…

Não é justo, mas é a lógica consequência dum clima de “luta ao terror” que foi implementado para conseguir bem outros objectivos. E hoje, ao ler a palavra “terrorista”, o pensamento vai logo para qualquer operação da CIA ou duma das muitas agências que “protegem ” o Ocidente.

Mas será assim desta vez também? Porque é bom lembrar que o terrorismo pode existir mesmo que não seja Made in USA. Sei que pode parecer esquisito, mas acreditem, é assim.

Adel al-Jubeir

Então vamos ler:

Dois homens foram acusados ​​pelo Departamento de Justiça dos EUA na Terça-feira de participar num plano apoiado por elementos do governo iraniano para assassinar o Embaixador saudita nos EUA com explosivos.

Com explosivo. Isso começa já mal. Mas vamos em frente.

O Ministério Público Federal, em Manhattan, apresentou uma queixa-crime contra Manssor Arbabsiar e Shakuri Gholam, acusando-os de conspiração para assassinar um oficial estrangeiro e da tentativa de cometer um acto de terrorismo internacional.

Manssor Arbabsiar e Shakuri Gholam? Mas quem é esta gente?
Segundo a reconstrução, estes seriam dois agentes de Teheran, ligados aos Guardiães da Revolução, que estavam a planear não apenas um mas uma série de atentados. O Embaixador da Arábia, Adel al-Jubeir, teria sido apenas um entre os vários objectivos. 

O Procurador, Eric Holder, explicou que os dois preparavam atentados contra as Embaixadas de israel e da Arábia Saudita na Argentina também. Não só, mas os dois alegadamente já confessaram tudo. 

A história é um bocado complicada.
Segundo os investigadores, um cidadão americano de origem iraniana entrou em contacto com um investigador dos EUA, acreditando ser este último um homem ligado ao narcotráfico mexicano. Porque deveriam ter sido os Mexicanos a matar o Embaixador em Washington, após ter recebido 1,5 milhões de Dólares (eu teria pedido ouro, mas enfim…).

Manssor Arbabsiar

O investigador já teria recebido 50.000 Dólares como forma de antecipação; e mesmo nesta altura, zac!, eis a armadilha do FBI que prende o homem, o qual confessa. tudo. 

Ok, vamos ver se entendemos: o Irão envia dois Guardiães da Revolução nos Estados Unidos, que, sendo Guardiães, com certeza não serão mantidos sob vigilância; uma vez chegados, em vez de preparar o atentado, querem que o trabalho seja feito por outros (deve ser timidez) e tentam contactar os traficantes de droga do México (que, sendo criminais mexicanos, com certeza não são mantidos sob vigilância), mas, olha o azar, acabam por contactar um agente do FBI disfarçado.
No México, claro está. 

Eu acredito nisso, faz sentido.

Mas há uma pergunta: porquê? Isso é, o que ganha Teheran com a morte do Embaixador da Arábia Saudita e de Israel?

Não é que entre Irão e Arábia a simpatia abunde, bem pelo contrário. Mas o assassinato dum Embaixador num País estrangeiro nunca foi contemplado por outros Países simplesmente porque é um acto sem sentido, que não traz vantagem nenhuma, bem pelo contrário: quem seria o primeiro dos suspeitos na lista no caso? Não os Mexicanos…

Mas interessa? Não, pois o objectivo é outro: começar uma acção de propaganda que como fim terá algo que bem conhecemos, infelizmente. E ao cavar um pouco mais, descobrimos que as coisas não são bem assim como foram contadas. 

Nestes casos a coisa melhor é ir até a fonte, que é a queixa crime apresentada pelo Procurador: pode ser descarregada neste link, é um documento Pdf em Inglês. Depois é só ler.

Então percebemos que dos dois suspeitos, só um é detido, Manssor Arbabsiar, enquanto o outro encontra-se em liberdade. 
E que na verdade ninguém ficou em perigo de vida.
E que não existem as “armas de destruição maciça” citadas pelas agências de imprensa.
E que Arbabsiar queria também traficar a droga com os Mexicanos, para tornar-se uma espécie de “importador” para o Irão.
E que Arbabsiar deve ser um indivíduo com o QI duma galinha, pois já no segundo encontro com o “Mexicano” explicou os pormenores não apenas do homicídio do Embaixador nos Estados Unidos, mas também das outras operações. Palavras todas gravadas pelo colaborador do FBI, óbvio. 

Claro, há vários pormenores hilariantes nesta queixa-crime, mas vamos cortar pois mais do que a minha interpretação dos factos, é interessante observar as reacções do público americano. Pois a história, publicada pelo New York Times, mereceu várias centenas de comentários, entre os quais:

Margaretleo, NY

Johnny English? Não, Eric Holder

Eu não acredito nisso nem por um minuto. Porquê o Irão arriscaria uma guerra com os EUA? Esta é uma mentira destinada a justificar os EUA ou Israel que atacam o Irão. Mais uma vez o povo americano será cúmplice na prática dum crime.

Marc, Florida
Algo não cheira bem nessa história. Os Iranianos contratam caras de drogas para matar um saudita nos EUA? O cidadão americano-iraniano tem uma ficha criminal nos EUA: porquê um agente secreto deveria pôr-se em problemas com a lei? Isso não vai acabar conforme relatado. Mas, com o Iraque “enrolando” por baixo, podemos ter de gastar mais alguns milhões de Dólares em bombas para o Irão. Os bandidos da droga são um bode expiatório muito conveniente para quem está a planear um crime, ou tenta desviar a atenção.

John Hrvatska, NY
Todas as evidências fabricadas que os EUA usaram para justificar a invasão do Iraque têm arruinado a própria credibilidade. Como pode o mundo saber que desta vez os EUA não estão a utilizar isso para uma guerra que todos sabem deseja ter? Pode ser que os EUA estejam a dizer a verdade agora, mas como podemos sabe-lo?

Persique, Minnesota
Não posso acreditar que o pesadelo esteja a acontecer novamente. Não só não acredito nessa história,  mas acredito firmemente ser este o pretexto para a guerra, como aconteceu com as acusações contra o Iraque e as inexistentes armas de destruição maciça, que nunca encontramos. O nosso governo está a destruir o nosso País[…]

Steve, Asheville, NC
A parte mais triste desta história toda é que temos boas razões para duvidar do que o nosso governo diz. Faz-me sentir envergonhado de ser humano.

Obviamente há também comentário de sentido oposto. Mas a impressão é que esteja a ficar cada vez mais difícil fazer o povo engolir esta sopa.

Nota Final: nos Países da Europa do Norte foi dedicado bastante espaço ao assunto e numerosas foram as criticas nos últimos dois dias, em particular na Alemanha.
Em Portugal, Italia ou Brasil, pelo contrário…

Ipse dixit.

Fontes: Forbes, New York Times, United States Attorney (Pdf)