A peça começa. Tragam as pipocas.

Meus senhores, boa notícias: se tudo correr bem, estamos arruinados.
E se algo correr mal? Uhi, nem quero pensar nisso…

Europa? Não, muito mais: há um ventinho esquisito, daqueles que sopram e que dizem “Tens frio? Ahé, tens frio? Vai ver quando o meu primo chegar…”. E o primo dele até tem nome: tufão.

Porque a cena foi montada há tempo, agora chegou a altura de ver a peça, pelo menos o início.

Os actores? Nós.
Mas como? Não somos os espectadores?
Não, não, os espectadores são outro, são poucos, quase uma “elite”. Nós é que estamos no palco.

E que peça é esta? Ah, um baile, muito bem.

Tudo pronto?

Na Grécia bailam, há muito, já nem são notícia.

O Presidente da Federal Reserve, o simpático Ben Bernanke, avisa: uma falência “desordenada” de Atenas poderia ter um impacto substancial não apenas na finança dos Estados Unidos mas até na economia.

A Grécia entra em falência e os Washington sofre? Mas que é isso?
Mas é mesmo assim: também o Presidente afro-américo-irlandês, o bom Barack, diz que a culpa é toda do Velho Continente, cambada de desleixados.
Subprimes? Nunca ouviu.

E quando a bolha rebentar? Então será altura de acusar os grandes bancos, os Too Big To Fail. Mas não agora, ainda é cedo. E que raio, há um roteiro a ser respeitado.

Tivemos a mais crise financeira desde a Grande Depressão, com enormes danos colaterais em todo o País e ainda podemos ver os mesmos indivíduos que agem de forma irresponsável, tentam combater as iniciativas realizadas para contrastar os abusos.

Alguém poderia dizer: “Mas desculpem, o bom Obama não teve três anos de tempo para elaborar uma reforma dos regulamentos, para pôr um pouco de ordem na casa? Mas afinal quem é o Presidente dos Estados Unidos?”

Sim, e é exactamente o que Obama fez: preparou tudo para que seja possível pôr ordem. Era esta a tarefa dele.
E os donos dele agradecem, pois de facto tudo está pronto. Agora é só baixar as luzes e que o espectáculo comece.

O ex Subsecretário do Comércio e actual conselheiro do FMI, Robert Shapiro, já disso que só um plano credível pode evitar o colapso total.

Se não conseguirem travar [a crise financeira, NDT] duma forma credível, penso que talvez em duas ou três semanas teremos um colapso da dívida soberana, que irá produzir um abalo no sistema bancário de toda a Europa.

Nós não estamos a falar dum banco belga relativamente pequeno, estamos a falar dos maiores bancos do mundo, os alemães, os franceses, e irá disseminar-se no Reino Unido, vai espalhar-se por todo o lado porque o sistema financeiro global é tão interligados. Todos os bancos são interconectados, no Estados Unidos, na Grã-Bretanha, no Japão, e em todo o mundo. Será uma crise, no meu entender, mais grave do que a de 2008.

E Shapiro não é o único com uma visão tão alegre. George Soros, o filantropo, já avisou: “Consequências políticas desastrosas”, com o mundo mergulhado numa nova Grande Depressão.

Outros, como o ex Secretário do Tesouro Paul Volcker ou o ex-director da Federal Reserve Alan Greenspan, dizem que potencialmente estamos perante algo pior do que a Grande Depressão da década de ’30 ou a Longa Depressão do século XIX.

E completamos este bonito quadro com o Governador do Banco da Inglaterra, Sir Mervyn King:

Esta é a mais grave crise financeira, pelo menos desde os anos ’30, talvez desde sempre. Estamos perante condições não normais, mas temos que agir com calma e fazer as coisas certas.

A peça começa

Tudo bem, mas não há boas noticias?

Há: na Europa não há um plano. Que dizer, há algo, tanto para manter as pessoas calmas, uns 780 biliões de Euros. É como entrar na gaiola dos leões com uma bolacha: “Fiquem calmos, há um pedaço por cada um”.

E esta seria a boa notícia?
Eu acho que sim. Quando uma pessoa tem dor de dentes, a coisa melhor é ir ao dentista: dói, mas depois passa. Ficar aí, sempre com queixas, pelo contrário, não resolve.

Doutro lado, é evidente que nunca houve a intenção de resolver as coisas, bem pelo contrário: 3 anos passaram desde Setembro de 2008, o começo da crise. Havia tempo para regras, havia tempo para emendar. Se nada foi feito, é porque a ideia era outra.

Resumindo: tudo está pronto. O que acontecerá?

Vamos ver: falência grega, colapso dos bancos europeus, mercados do crédito congelados, pânico no mercado da dívida, fuga de dinheiro da Europa com destino Estados Unidos mas ainda mais novas áreas em desenvolvimento.
Crise das Bolsas, venda massiva de acções, de bens e até de metais preciosos.

Isso no começo. Porque depois da Europa será a vez do Estados Unidos. E depois, ao longo de meses ou de anos, destruição das instituições financeiras, das moedas, instabilidade política.

Mais um pouco de guerra, que dá sempre jeito nestes casos.

É isso? Provavelmente sim.
Mas nada de pânico: lembrem que é apenas uma demolição controlada.
Ou melhor: uma peça.

(Pssssst! Há outros desfechos possíveis? Claro que há, ora essa. É que hoje este parece o mais provável, só isso).

Ipse dixit.

Fontes: CNBC, SHTFplan, Los Angeles Times, Project Syndicate, Washington’s blog

9 Replies to “A peça começa. Tragam as pipocas.”

  1. Max

    Pare o mundo que eu quero descer!!!

    Cadê a luz do fim do túnel???

    Tem que existir uma solução, eles não podem simplesmente levar todo o mundo para o fundo do poço.

    Abraços

  2. Olá todos : caaaaaalma gente!
    Para os milionários, isto que o Max vem reiterando dia a dia Éééé a solução. Tive certeza lendo informação incorrecta.
    Para nós, os apreciadores de S. Francisco, não é o fim porque coerente com ele, riqueza não é ter muito, mas necessitar pouco.
    Já para sei lá, creio que uns 90% da população mundial pode ser uma grande tragédia. Abraços

  3. Max e amigos:

    É muito bom ter maria e sua palavra de bom senso novamente conosco.

    Mas olha, nessa estou mais para Mário Nunes. O plano é não permitir testemunhas oculares. De pouco adiantará se despir das vaidades, se desfazer da soberba, ou calçar sandálias e usar túnicas, ou ainda, conversar com passarinhos. O plano parece que é bomba no quengo das carequinhas, sejam elas franciscanas ou não. Algo de muitíssimo grave está se desenhando no horizonte e ninguém se dá conta. Aqui no Brasil o cidadão médio tem sido servido a base de conta-gotas da realidade que acontece nos EUA e Europa. Aqui pouco existe de questionamento sobre o sistema, pouco se sabe, por pequenas notas nos jornais de grande circulação, das movimentações por parte da sociedade nos EUA. A preocupação é a faxina da Dilma, a seleção do Mano que não engata, Copa do Mundo, FIFA querendo dobrar estatutos e leis brasileiras, Olimpíadas, o próximo Big Brother Brasil e as compras do Natal que é logo alí. Tudo bem, a verdade está com o William Bonner. Vai depender da disposição dele de nos informar.

    Mário: "E em que estado vão deixar o planeta?". Acho que pouco vai nos importar. Talvez com o redesenhado litoral dos continentes, novas possibilidades pro Fulano Bilderberg, ou o Beltrano Trilateral, ou também o Sicrano Iluminati, sejam quem for. Quem sabe casas a beira mar nas ""Vivendas da Nova Ordem"" cercadas pela ""Reserva Biológica Doc. Milton Friedman e Asseclas"". Parece brincadeira, mas não é.

    Walner.

  4. olá Anõnimo e a quem interessar possa:
    Vamos pensar juntos: a quem interessaria uma destruição total do mundo tão arrazadora que inclusive atrapalhasse a boa vida dos milionários? A nenhum deles, suponho.
    Então vejamos: muita fome, guerras pontuais aqui e ali a exigir cada vez mais sistemas de defeza por parte dos dominantes, desemprego em massa, supressão de crédito, exacerbação dos problemas migratórios são boas razões para as classes que tinham voz e estabildade, além de uma vida relativamente confortável, rebelarem-se, "impor mudanças". Convenhamos que os pobres do mundo não aparecem e não contam até porque nunca contaram, e até é difícil localizá-los nas estatísticas porque da grande pobreza se fala generalizadamente, na casa de muitos zeros, coisa nunca bem localizada e explicada.
    Eu imagino que a direção das mudanças não ocorrerão no sentido das esperanças e vontades dos indignados do mundo, mas no sentido das reformas que garatirão o silenciamento ("volta a normalidade")garantidos por mais policiamento ("segurança"), desaparecimento ou fagocitose de estados nacionais, mais genocídeos planejados estratégicamente, não digo que uma bomba ou outra também planejadas para exigir mais defeza. Enfim, uma sucessão de desgraças que levem a sujeitos, grupos, instituições salvadoras ou "redentoras" serem aceitas como a melhor saída para recompor uma suposta "democracia controlada em âmbito global", redinamizando os poderes e as posses dos muito ricos.
    O que me parece que deve nos levar a pensar e, com muita "caaalma", é de como vamos nós, os supostamente conscientes, organizar nossos parcos recursos para garantir, numa rede globalizada de solidariedades, a invenção de formas de vida não dependentes das "mãos salvadoras institucionais e dentro do modelo institucional a serviço dos interesses dos mais ricos, que por certo vão nos oferecer, como se fosse a única alternativa possível de sobrevivência".
    Por isso é que eu digo: caaalma gente, precisamos nos informar e pensar. Abraços

  5. Maria

    Que saudadeeeeeeee!!!

    Só tu para nos trazer um pouco de consolo.

    Um grande abraço amiga

    PS.(Não fique muito tempo desaparecida)

  6. Maria,

    Concordo contigo. Tem de haver calma. Você está certíssima também no que se refere a operações que venham interferir cirurgicamente na demografia de nosso globo. E como você, também creio que caberá uma bombinha aqui, outra acolá e outra mais além. Mas permita-me entrar pelo lado especulativo: eu creio em armas climáticas, isso é comigo, ninguém precisa crer. Como bem farejado por Léo, existe até documento relatando a necessidade do controle destas, o que me permite dar asas a imaginação. Então, dentro da minha lógica, que pode ser somente minha, o genocídio é bem paupável e de fácil execução.

    Quanto ao novo desenho dos continentes e os loteamentos de altíssimo luxo que poderão alí surgir, faz parte do meu ego zombeteiro, que tento frear, mas como Max mesmo nos pediu ao falar da melancolia que por vezes transborda dos nossos comentários, temos que vez por outra, dar vez as gargalhadas ou quem sabe ao menos, um ligeiro sorriso. Meu lado sarcástico sempre tende ao humor negro, reconheço, mas é quando encontro forças para, nem que seja, esboçar um sorriso amarelo.

    Bem Maria, todos sentimos tua falta. Voltando atrás nas postagens encontrei o motivo: passeio na Patagônia. Me considero um novato tanto no que se refere aos assuntos aqui estudados, como no próprio blog. Era e ainda sou um admirador, praticante de futebol e torcedor do Fluminense. Isso faz parte de mim, mesmo chegando aos meus cinquentinha. Tomei vacina H1N1, sem jamais suspeitar de nada, na base da santa ignorância. A verdade é que sempre tive aquela sensação de que algo de extremamente errado conduzia a humanidade, apenas isso, como deve ser o caso de praticamente todos aqui. Nenhuma novidade. Mas, só me embrenhando em todo o "conspiracionismo", encontrei minhas respostas, ou melhor, novas perguntas. Tive que aos poucos ir me libertando de algumas, que ao meu cérebro careciam de qualquer sentido lógico, e assim, ainda ando à proceder. Aqui não passo de um neófito e tento ser participativo, que é isso que Max nos cobra, com toda razão. Não me envergonho. Sabe porque? Porque tenho uma Maria, um Burgos, um Mário Nunes, um Observer, um Saraiva, uma Fada (deve ter ido a Patagônia também), os anônimos que somam e outros, que estão sempre dispostos a colaborar para a compreensão do que nos rodeia.

    Belo dia das crianças para você Maria.
    Walner.

  7. Olá Burgos, olá Walner e mais outros: obrigada pela atenção de vocês. Verdade que não fui passear. Quando saio, e isso está se tornando raro, vou em busca de algo bem preciso, vou fazer, digamos "estudos particulares" de alguma coisa. E tinha dois motivos coincidentemente no mesmo lugar: províncias de Neuquén e Rio Negro, na patagonia argentina. Os motivos eram: ver com os meus olhos efeitos da atividade vulcânica na região e tratar de perto com os únicos Mapuches (pessoal nativo, tidos como índios) que sobreviveram às intempéries humanas ocidentais antigas e contemporâneas. Tinha algumas informações "internáuticas", e não só, de uma relativa autoregulação política, social e econômica destes grupos, e isso aguça muito a minha curiosidade. Resultou que os dois assuntos se misturaram de uma forma que eu não previa, e fiquei muito satisfeita com a viagem.
    De quebra, comprei livros recentes do Noam Chomsky não editados no Brasil,baratíssimos (na Argentina os livros não são taxados com impostos, a relação com o real está 2×1 e eu havia comprado dolar na baixa, o que resultou por volta de vantagem 5×1)
    E ainda, revisitei o teatro Colon para ver um espetáculo de ópera, depois de 44 anos que não fazia isso.
    Olha Walner: também estou convencida da existência e uso de armas climáticas. Mas, genocídeos, não te esquece que dá para a gente listar um montão, com ou sem elas.
    Obrigada pelo feliz dia das crianças. Passei em alta, fui ao circo e comi pipoca hoje. Abraços.

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