Vida e obras dum Too Big To Fail

O quê? Um banco resgatado? Nãoooo…
Mas sim, é isso mesmo.
O nome? Dexia.
Que significa? Não sei.
Se calhar é o anagrama de “deixa”, tipo “deixa lá, não vale a pena”.

Mas alguns não deixaram e adquiriram as acções da Dexia.
Preço? Em 2008, 25 Euros cada.
1.000 = 25.000 €.

Hoje valem 850 €.
Cada? Não, todas as 1.000.

Bom negócio, sem dúvida, dá para festejar com a família num restaurante.
“Comam, comam, pago eu”.


Mas quem é esta raio de Dexia?
Vamos ver.

O nascimento

Dexia nasceu em 1996, fruto do casamento de dois bancos locais (ah, a Dexia é da Bélgica): Credit Local de France e Credit Communal de Belgique.

Parabéns.

Os dois bancos eram os líderes no mercado do financiamento do sector público local: autarquias, freguesias, pontes, estradas, iluminação, escolas, tudo. Mas actividade bancária normal também, com os privados, na Bélgica e no Luxemburgo.

E todos viviam felizes e satisfeitos.

Vida e obras

A família rapidamente cresceu com a aquisição de:

Crediop em Italia
Artesia Banking Corporation na Bélgica
Banco Otzar Hashilton Hamekomi em israel (lolol)
DenizBank na Turquia
e uma bonita joint venture com a Royal Bank Of Canada

E Dexia crescia gordinha e feliz, toda saúde.

A doença

Mas um dia, um feio dia, a Lehman Brothers faliu e em breve Dexia começou a sentir-se mal.

O que tinha acontecido?
Simples: o ramo americano da Dexia, a FSA (Financial Security Assurance), tinha ficado com um fósforo ligado na mão, sentada por cima dum tanque de gasolina, no dia da explosão dos subprimes.

Ohhhh…

Logo do quartel geral europeu partiu a transfusão de dinheiro, 5 biliões de Dólares. Isso, mais os assets (que, como aprendemos, nunca são um verdadeiro problema) deveria ter sido suficiente. Mas não: Dexia estava feita.

A mumificação

O jogo tinha ficado duro, então os duros tiveram que intervir: os governos de França e Bélgica cobriram de dinheiro a carcaça do banco, já sem um tostão.

No dia 30 de Setembro de 2008 os governos de Bélgica, França e Luxemburgo anunciaram que a partir de então os respetivos governos teriam assumido o controle do banco, isso além dum resgate de 6,4 biliões de Euros.
Dinheiro dos contribuintes, óbvio.

A simpática Christine Lagarde, actual responsável do Fundo Monetário Internacional, justificou a operação com o risco da Dexia não poder sobreviver e consequente crise sistémica financeira.
Porque é melhor prevenir do que remediar.

Eis os sortudos que tinham comprado a Dexia em 2008: os cidadãos da França e da Bélgica.

A surpresa da múmia

Mesmo mumificada, a Dexia não estava vazia. Um pouco como os ovos de chocolate, no interior há a surpresa.
E qual a surpresa da Dexia? 3,4 biliões de Títulos de Estado…

Wow, é riqueza!

…da Grécia.

Wow, é só dívida!

E segundo as estimativas, poderiam existir também 17,5 biliões de Títulos de Portugal, Espanha e Italia.

Difícil imaginar um banco mais seguro.
Deve ser por isso que há três meses a Dexia passou os stress-tests.

Reciclagem

E agora? Agora há que encontrar uma solução: nacionalização das perdas.
A Bélgica já disse que não pode pagar tudo sozinha. E que a França terá que participar.

Então eis o plano genial:

O Governo francês inclina-se para a separação da parte do Dexia que financia os municípios em França, para combiná-la com o banco público Caisse des Depots (CDC) e o braço bancário dos Correios, o Banque Postale.

Já a Bélgica deveria ficar responsável pelo negócio do Dexia Bank Belgium, largamente baseada na banca de retalho, […] quanto às unidades do banco no Luxemburgo e na Turquia, deverão ser vendidas, com o Governo do Luxemburgo a ficar com uma minoria do capital.

Mas como? Os contribuintes destes Países não tinham já pago antes?
Sim, e agora voltam a pagar outra vez.
Não podemos arriscar uma crise sistémica, não é?

Ipse dixit.

Fontes: Informazione Scorretta, Wikipedia (Inglês), Público.

5 Replies to “Vida e obras dum Too Big To Fail”

  1. Olha a BBC outra vez a cavar o buraco para o Euro.

    Este ao menos diz que os EUA não vão estar imunes ao colapso bancário das das próximas semanas na Europa.

    Dizem que a solução é recapitalizar os bancos, ahahahahahah, mas o que foi feito até agora?? não foi isso??

    Lembrem-se 2 a 3 semanas, isto está a aquecer.

    saudações

  2. Nos EUA todos os dias vão à falência 2 ou 3 bancos, não sabiam?

    (Max por favor expilica)

    Já ouviram algum alarido à volta disso?

    Não, é normal uma empresa privada ir à falência, outros naturalmente tomam o lugar, outros compram os activos e o resto vai para o lixo.

    Mas porque carga de água é que este banco, o BPN e o BPP não faliram naturalmente?

    – Nunca percebi!

    Os depósitos até 100 mil euros estavam garantidos.

    Agora estamos aqui a apertar o cinto, porque salvámos não sei o quê, enquanto os que roubaram e os que especularam, não tiveram percas nenhumas, estão confortávelmente nos seus palacetes, com pena do povo que está a passar fome e a sacrificar-se por eles!

    Há qualquer coisa que não bate certo nesta sociedade capitalista, pois o capitalismo no fundo só se aplica aos pobres, enquanto que os ricos gozam de uma espécie de comunismo onde vão ao erário público abastecer-se quando as coisas correm mal, depois os culpados são os desgraçados que vivem do "rendimento minimo", dos subsidios, e até do trabalho, mundo cruel…

    Max

    Continua

    Nunca desistas

  3. http://3.bp.blogspot.com/-Dml6EDshplg/TorxzfnDoCI/AAAAAAAAASM/rb5dvtJ3DvE/s1600/dexia+percentage+gdp+france+belgium.JPG

    Max aqui tens um grafico que demonstra bem o peso que o Dexia tem na Belgica. Os activos deste banco em 2010 eram €595B. Muitos deles toxicos ta mais que visto.
    Sera este o primeiro domino a cair?
    A confirmar-se considero que seja bastante ironico o primeiro grande banco a cair seja de Bruxelas.

    Abraco e continua o bom trabalho 🙂

  4. Só para dizer que gosto imenso do seu seu estilo de escrita: ágil, astuto, inteligente e com toque de comédia aqui e além. Se estas palavras servem para algo, que sirvam para que continue o seu trabalho na blogosfera.

  5. Carlos… Eles, os USA, estão em stress total pois os principais bancos da Wall Street têm +- $2.7 triliões pendurados aqui nos Bancos Europeis que estão em risco de colapso… Até já põem a Marioneta Obama a mandar recados para a Europa… imagina o pânico!

    De resto isto é tudo apenas uma questão de tempo… e já não falta muito. Até rebentar os grandes bois ainda vão emitir uns valentes mil milhões de dívida para salvar os bancos… dívida essa que caíra nos nosso lombos obesos… e vai e corta a gordura em excesso…

    Mas no final o estouro vai ser tal que será digno se ser visto da EEI…

    E enquanto andarem a recorrer às mesmas ferramentas que nos conduziram a este estado… o resultado não poderá ser diferente…

    E é verdade, assets são assets… ihih

Obrigado por participar na discussão!

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