Legítima defesa

…e basta falar mal dos Estados Unidos!
E que raio, afinal são ou não são os alvos de Al-Qaeda?
Não, não são.

Ah.
Tá bom, mas aos menos respeitam a lei. É isso que conta.

Anwar al-Awlaki, 1.348º Número Dois de Al-Qaeda, foi morto no Yemen. Barack Obama terá dado pessoalmente ordem para matar Anwar al-Awlaki, o que não admira sendo o simpático Obama Nobel da Paz também, e responsáveis norte-americanos confirmaram que Awlaki foi morto num ataque discreto, centrado por uma avião (aparelho não pilotado).

Assim, para não dar nas vistas.

Mas eis a dúvida:

A operação, que foi executada na sexta-feira por elementos da CIA e do exército dos Estados Unidos, gerou fortes críticas, uma vez que o alvo era um cidadão norte-americano.

E levantou dúvidas legais, que terão levado o Departamento de Justiça a certificar que o Presidente americano tem autoridade para contornar as garantias constitucionais e ordenar a morte de cidadãos nacionais estabelecidos no estrangeiro, como medida de contra-terrorismo.

Dois pontos a reter.

Primeiro: é legal justiçar um cidadão sem regular processo?
Resposta: se for um cidadão estrangeiro sim, não há problema, e porquê deveria haver?
Mas se for Americano? Porque Anwar al-Awlaki era cidadão dos Estados Unidos. Então as coisas mudam, porque neste caso falamos dum cidadão de primeira categoria, não dum mentecapto qualquer.

Segundo ponto a reter: o Presidente dos Estados Unidos tem o direito de ignorar a Constituição e matar (ou fazer matar, porque ele, enquanto Nobel da Paz, não mata em primeira pessoa, não ficaria bem) quem lhe apetecer, desde que haja uma acusação de “terrorismo”?
Resposta: sim, sem dúvida. E porquê não deveria?

De facto, estamos perante um novo sistema judiciário,  muito mais rápido e eficaz.
Processos? Provas? Juiz? Testemunhos?
Coisas do passado, boas só para atrapalhar. O Presidente faz tudo: formula acusação e a sentença.
Gosto deste sistema, imaginem quanto dinheiro poupado. Isso para não falar do tempo.

E os Americanos gostam também. Eis o comunicado da Casa Branca:

De maneira geral, é inteiramente legítimo que o Governo dos Estados Unidos actue contra dirigentes de topo de forças inimigas, independentemente da sua nacionalidade, quando estes estão envolvidos em planos para a morte de americanos.

Essa autoridade foi outorgada pelo Congresso quando sancionou o uso da força militar contra a Al-Qaeda, os taliban e grupos associados, e está estabelecida na legislação internacional que reconhece o direito à legítima defesa.

Ahhh, é “legítima defesa”, então ainda melhor: se for defesa o problema não existe mesmo.
Observa o Director executivo do Centro para os Direitos Constitucionais, Vince Warren:

As leis internacionais dos direitos humanos determinam que não se pode unilateralmente atingir um alvo que não represente uma ameaça iminente à segurança de um País.
Ora a informação à disposição do Governo é vaga e não permite concluir especificamente que Anwar al-Awlaki cumpre os critérios definidos pela lei internacional para justificar um ataque.

Coitado do Director, nunca ouviu dizer que a melhor cura é  a prevenção?
Anwar se calhar não representava uma ameaça iminente. Mas um dia poderia ter pensado mal dos Estados Unidos: porquê esperar?

Mas afinal quem era Anwar al-Awlaki, o ilegítimo agressor?
Anwar nasceu no estado do Novo México e foi imã de uma mesquita de San Diego, na Califórnia, durante a década de 90, chegou ao Iémen em 2007, onde se tornou um dos mais proeminentes líderes da Al-Qaeda da Península Arábica.

Isso dizem os Estados Unidos. E ao falar de Al-Qaeda ninguém sabe mais do que os Estados Unidos…

Em sucessivas ocasiões apelou à jihad contra Washington, tendo sido implicado em vários ataques, nomeadamente um assalto na base militar de Fort Hood que provocou 13 mortos em 2009. E um mês depois eis que organizou o falido ataque no voo para Detroit, o ataque da “Bomba nas cuecas”.
Seria preciso escrever muito, mas muito mesmo acerca desta operação, mas vamos em frente…

Além de al-Awlaki, foi morto um outro cidadão norte-americano, Samir Khan, que dirigia a revista de língua inglesa “Inspire”, uma publicação de propaganda da Al-Qaeda.

Segundo um oficial da Administração, a CIA não sabia que Khan se encontrava com al-Awlaki no momento do ataque, mas o mesmo responsável afirmou que o conhecimento da sua presença não o teria impedido, uma vez que o nome do editor também constava na lista dos “beligerantes” que conspiravam contra a segurança dos Estados Unidos.

Justo. O que faz uma pessoa perto dum terrorista? Só se for outro terrorista, portanto tem que morrer, por legítima defesa.

A revista

E a propósito deste Samir Khan.
Este era o editor da revista Inspire, da qual ontem descarreguei uma cópia da interent. Uma publicação interessantíssima.

Já imagino os terroristas a sair dos esconderijos e pôr-se em fila na revenda dos jornais. Isso, claro, sempre que o al-qaedista não opte pela entrega a domicílio, muito mais prática e com desconto.

Mas vamos ver o que diz Inspire.

Cartas ao Director (Pág. 11)
Pergunta: “Vivo no Ocidente e desejo muito participar na Jihad em terras como o Afeganistão ou o Yemen. Tenho dinheiro, o problema é que não tenho contactos com os Mujahidin. Que faço?
Resposta: “Caso não seja possível conduzir operações no Ocidente, melhor guardar dinheiro suficiente para residir naquele País [Afeganistão ou Yemen, NDT] ao longo dalguns tempos até contactar alguém. Encontrar um Mujahidin é já por si uma prova de Allah“. 

No comment.
Faça você mesmo: Abrir um kalashnikov. (Pág, 24)
Juro, há mesmo isso. Uma coisa que pode ser vista até no Youtube, que quase aparece nos filmes de acção, está aqui, na revista dos terríveis guerreiros de Allah.

Artigo do mês: O Tsunami da mudança. (Pág. 50)
Porque é assim, as revoltas na África do Norte foram todas espontâneas, disso não há dúvida. Foi o povo islâmico que decidiu derrubar os opressores, e fizeram tudo sozinhos, sem ajudas externas.
Já isso fornece uma certa ideia acerca do verdadeiro editor da revista, mas vamos em frente.

Reportagem: A minha vida em Falluja (Pág. 56)
…e vocês conhecem as mentiras dos media que afirmam que os Americanos atingem apenas alvos terroristas!
…Soldados americanso eram mortos diariamente. Uma das estrategias dos irmãos [combatentes, NDT] era baseada no ditado: ao cortar a cabeça da cobra também a cauda acaba por morrer“.
..Afinal juntámos um gram númerod e armas, para poder trazer desgraça para América, com a ajuda de Allah“.
Revelações bombásticas, tudo muito revolucionário, sem dúvida.

O resto da revista é, claro, um conjunto de delírios político-religiosos que respeitam os cliches de Al-Qaeda. Ou melhor: os cliches que um Ocidental está a espera de encontrar numa revista de Al-Qaeda.

Não é bem a mesma coisa.

Ipse dixit.

Fontes: Público, Inspire (download da internet)

5 Replies to “Legítima defesa”

  1. Voz
    A única coisa que desejo aos EUA é que o próximo presidente seja a Michele Bachmann, ai era um mix dos 2 últimos, e a imagem certa para aquele pais..

    Saudações

  2. O próximo Presidente vai ser a Hillary Clinton, ela vai torturar, esfolar, escalpelar e matar, esta sim é a encarnação do mal, ainda mais agora que ela se converteu ao Sionismo Cristão(???).

    Sionismo Cristão, eu acho isso um contra-senso, afinal quem mandou crucificar Cristo foram os judeus.
    Que loucura, não entendo mais nada, cada vez fica mais enrolada a coisa toda. hehehehehe

    Abraços

  3. Mas Bush era " DU MAL" e Obama é "DA PAZ", é até NOBEL. Ainda vamos conseguir mesclar os 2 pra equilibrar. Osistema atual é por "cotes de gastos",muito mais barato.

  4. Isto já a acontecer há muito tempo. Lembrem-se de Waco e do rancho Davidiano. Se o objectivo era apanharem o David Koresh tinham-no feito quando ele se deslocava à cidade. Ao incendiarem o rancho abateram quem tentou sair pela porta nas traseiras e nunca ficou provado quem disparou primeiro. Desde 1993 as coisas evoluiram e já nem disfarçam =/

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