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Manobras de preparação

A Turquia apaga todos os contratos comerciais e militares com israel, expulsa o embaixador israelita que deixa nos escritórios de Ankara o segundo secretário, a pessoa que na hierarquia diplomática tem a classificação mais baixa.

Diplomaticamente falando, a Turquia deu um pontapé nos dentes de Tel Aviv.

Tudo isso por causa dos episódios do ano passado, quando para-quedistas israelitas e unidades navais atacaram os navios da Flotilha da Liberdade: esta era uma iniciativa pacífica para romper o cerco de Gaza (que tinha começado em 2007), trazendo-lhe comida, medicamentos, cimento e outras coisas necessárias.

Os israelita atacaram em águas internacionais, a 90 milhas (150 km) da costa, massacraram pelo menos 9 pessoas (de acordo com outras fontes, foram 19) e sequestraram o navio que foi levado até o porto israelita de Ashdon.
Aqui o navio foi esvaziado de seu conteúdo com grande meticulosidade: os israelitas ficaram com os artigos mais simpáticos e úteis: no navio, por exemplo, havia cadeiras de rodas eléctricas para as crianças que perderam um ou ambos os pés, os israelitas ficaram com os paneis fotovoltaicos (que, de facto, dão sempre jeito), os acumuladores, e deitaram no lixo o resto.


Entretanto, é de poucas semanas a notícias de que, durante um ataque israelita contra civis em Gaza, as bombas atingiram um posto de controle no Egipto, matando cinco soldados. Episódio após o qual israel recusou-se a apresentar um pedido de desculpa público, enervando assim também o governo interino egípcio.
E se nas próximas eleições o governo tivesse que ser formado pela Irmandade Muçulmana, difícil que as coisas possam melhorar.

E talvez seja mesmo esta a ideia.

Em suma, o governo de Tel Aviv está a fazer todo o possível para ficar odioso ao olhos do Países vizinhos. Turquia e Egipto eram os dois únicos Países islâmicos com relações diplomáticas normais com israel, e de facto tem havido muitas tentativas, especialmente da Turquia, para actuar como um intermediário nas negociações com os Países vizinhos.

Mas agora as coisas mudaram, óbvio, e na hora errada. De facto, na inútil Organização das Nações Unidas, no próximo dia 20 de Setembro será examinado o reconhecimento dum Estado palestiniano.
Já agora os favoráveis são 120 num total de 282. Com a possível influência da Turquia e do Egipto, o “risco” é um um Estado da Palestina possa mesmo surgir.

Verdade, israel pode contar com o apoio incondicional dos EUA (que já deixaram claro o próprio voto contrário), mas agora a sua influência sobre os Países africanos e da Ásia é extremamente reduzida.

Parece portanto que israel decidiu dificultar a própria posição. Pois o que resta nas mãos do dirigentes de Tel Avive? A força militar, com o arsenal nuclear. Sobretudo este último é grande, pois há suficientes mísseis nucleares para atacar todas as principais cidades do Médio Oriente e da Europa: mas ao longo de quanto tempo será suficiente?

São 40 anos que ninguém ataca israel, a última vez que isso aconteceu tinha sido em 1973, com a guerra do Kippur. Desde então, israel sempre foi ao ataque: em 1980 e 2006 no Líbano, nos territórios palestinianos, mas também na Síria, Irão, Iraque… praticamente não há nenhum País da área que não tenha sido atingido pela artilharia, soldados ou aviação com a estrela de David.

Ao longo de quanto tempo isso pode continuar? Nenhum País na história sobreviveu muito tempo usando apenas a força. Talvez por isso seja preciso passar para um nível de fricção superior: ao afundar o relacionamento com a Turquia e a complicar aquele com o Egipto, israel escolheu ficar irremediavelmente sozinho.

Uma clássica condição de vítima, a favorecida de israel, que justifica amplamente o uso da força.

Será até o povo escolhido por Deus. Mas também Deus poderia ter escolhido alguém mais simpático.

Ipse dixit.

Fonte: Saigon2K