Tristeza? Ora essa…

Grupo de Leitores de Informação Incorrecta

Opá…

Nos últimos dias sucedem-se comentários tristes. De Leitores que experimentam tristeza, melancolia, desilusão. Isso por causa do mundo em que vivemos, da realidade que nos rodeia.

Ohé, ohé, oheeeeeé!!! Mas que é isso?

Informação Incorrecta não nasceu para espalhar sentimentos negativos. Nasceu, em primeiro lugar, para tentar procurar a verdade, sempre que exista. E para fazer isso é necessário perceber onde estamos.

Líbia, Fukushima, Climagate, 9/11, Afeganistão…são todas coisas que sempre existiram. Com outros nomes, com diferentes modalidades, sem dúvida, mas sempre nos mesmos moldes.
A única diferença é que agora podemos falar disso, partilhar informação com internet (até quando esta for livre) e tomar consciência da situação quase em tempo real, com imagens, vídeos, testemunhos.

O quê? É mesmo o facto de tomar consciência que entristece? E porquê?
Não deveria ser este processo uma conquista de cada um de nós? Eu vejo isso desta forma.


Cada vez que vou ao dentista, acabo sempre por aborrece-lo com as minhas perguntas; eu sei disso, mas não me importo, pois quero saber o que tenho, porque dói, qual o tratamento, etc.

O homem pega num frasco? E eu pergunto: o que é aquilo? Serve para quê?

Série: As Delícias da Informação Alternativa

Não é simples curiosidade, é terror, verdadeiro terror (se houver um Inferno, deve ter o aspecto dum consultório dentário).
E ao longo da minha vida “dental” percebi que é bem melhor saber o que se passa em vez de ficar aí, sempre com a dúvida “Oh Minha Nossa Senhora dos Três Rebuçados, e agora que irá acontecer?”.

Traduzindo isso para o nosso mundo: há uma guerra? Há um corte nos ordenados? A gasolina fica mais cara?
Fazemos o quê? Ficamos aí, a pensar “Olha tu que coisas estranhas que acontecem no mundo…” ou tentamos encontrar uma explicação racional?

Eu torço para (ou “pela”? Raio de idioma…) explicação racional.

Triste por causa do Homem, que afinal é mau?
Mas temos a certeza? O Homem é mau?

A minha resposta é : não, não é. É apenas estúpido, o que é diferente. E entendo todos os homens, a começar por quem está a escrever (sou eu!…ehi, é impressão minha ou acabei de chamar-me estúpido???).

Somos estúpidos porque vivemos uma vida que não é a nossa.

O Homem não nasceu para trabalhar 8 horas num escritório ou oficina, entrar num carro, ficar engarrafado no trânsito entre escapes malcheirosos, enervar-se à procura do estacionamento, entrar numa loja para comprar o pão e sair com o saco cheio de artigos inúteis, sentar-se em frente da televisão para ouvir que sim, de facto o mundo é uma porcaria, ver um programa para atrasados mentais, pôr o despertador e no dia seguinte começar tudo outra vez.

Enquanto isso, temos de ouvir uma voz de fundo repetir que esta é a melhor das vidas possíveis.

Mas não é, e sabemos disso. Não é esta uma vida normal, natural. Aceitamos tudo porque desta forma foi ensinado, porque “assim vai o mundo”. Mas tudo tem custos e este estilo de vida não é excepção.

A nossa sociedade está doente porque nós estamos doentes e temos atitudes doentias. Nisso reside a nossa estupidez.

E isso explica os homens insensíveis, mais frios, menos comunicativos, mais egoístas, mais estúpidos ainda. Não é maldade, é estupidez em estado avançado. A mesma estupidez que impede qualquer tipo de reacção.

Então vamos substituir o termo “mau” com “doente”, pois acho que este último adjectivo fica mais perto da realidade. O Homem está profundamente doente.

Tratamentos? Em primeiro lugar: tomar conhecimento da própria doença.
Se o paciente não assume a própria doença, qualquer tratamento será inútil, pois o doente não seguirá uma dieta, um estilo de vida mais saudável, não tomará os medicamentos, etc.

Como costumo dizer, neste blog não encontram “Grandes Verdades”, pois não tenho. Mas quem o frequenta faz isso porque sabe que há algo que não bate certo, que está mal.
É uma sensação, mais do que isso, é o resultado das nossas vidas no fundo das quais podemos ver algo que não encaixa.

Este é o único ponto firme de Informação Incorrecta: há algo que “não encaixa”.
Daí inicia a tentativa de perceber.

Alternativas? Sim, há, como sempre.
Desligar internet e limitar-se a aceitar a “verdade” oferecida pelos media. Mas reparem, mesmo nesta verdade há massacres, guerras, injustiças: o que muda é a justificação para tudo isso, o resto fica.

Tomar consciência da própria situação não significa acrescentar dor e injustiça, simplesmente perceber quais as razões que estão na base da dor e da injustiça que já existem.
E ficamos tristes porque conseguimos entender alguma coisa? Não faz sentido.

Aliás, deveria ser motivo de consolação: afinal podemos descobrir que o Homem não é estúpido, apenas idiotizado, embora num estado avançado.

Para acabar.

Auto-retrato

Não sei que ideia tem o Leitor de mim, não é fácil perceber certas coisas ficando sentados em frente dum ecrã.

Talvez a impressão seja a duma pessoa com 124 anos de idade, num quarto escuro, vestida com um hábito de monge, uma cruz à direita do ecrã e Nossa Senhora que chora à esquerda, empenhada em navegar entre os instintos mais negativos do ser humano.

Mas esta é uma ideia profundamente errada.
Acho ser uma pessoa alegre, adoro brincar, rir e ver comédias (não românticas, que põem-me maldisposto…). Gosto da ironia, tento sempre ver o lado divertido das coisas, mesmo quando de divertido não há nada (às vezes excedo, admito).

Eu sei que quanto escrevo no blog muitas vezes é assunto triste. Mas não é uma boa razão para que a realidade consiga tornar-me triste. Pelo contrário: tenho consciência de que faço algo para mim e para todos os que desejam participar nesta procura.

Que ganhamos com isso?
Nada. Mas já disse: o Homem é estúpido 🙂

Ipse dixit.

12 Replies to “Tristeza? Ora essa…”

  1. Sabe Mário, tive sempre cá para mim, que é uma pessoa maravilhosa e muito distanciada do monge eremita, ou asceta, com o silício na mão… pelo contrário… a sua veia irónica e até sarcástica, dão-lhe uma aura muito positiva e muito "sui generis". Ainda quero reafirmar que isto sim, é serviço público com muita qualidade, pelo qual estamos com toda a certeza, muito agradecidos!

    Um forte abraço, Max, e Parabéns pelo post! 🙂

  2. MAX,
    Ups… Mário?! Deve ser da estupidez… põe-se para aí a dizer com toda a razão, que somos estúpidos e depois provo a teoria de imediato! 🙂 MAX!!! 🙂

  3. Eu sei que sabendo ou não, tudo continuará à acontecer… as crianças serão massacradas nas guerras… pelos agrotóxicos…

    Essa atrocidade toda, como você mesmo diz, pela nossa idiotice (e ignorância) já nos acostumamos… você mesmo adora uma boa carne… mas sabe como deva ser a vida de quem lhe deu à comer… existe um documentário brasileiro chamado A CARNE É FRACA… você vê a expressão no rosto das vacas… você vê os pintinhos indefesos sendo escolhidos por uma mulher… é complicado…

    Mas há sempre um mártir… é como o olhar da vaca… esse índio não é puro nem é santo (até por que um dos 10 mandamentos não permite a existência de santos :))… mas a expressão no rosto dele… a simplicidade da carta… a ignorância e ingenuidade… é maravilhosa… é esse tipo de coisa que se torna ícone…

    Estamos acostumados à aceitar o sofrimento das vacas para ter uma boa refeição. Estamos acostumados à aceitar as crianças sendo bombardeadas (gasolina) ou envenenadas (etanol) para termos combustível no nosso carro… já toleramos isso…

    Toleramos até o ponto de ver a expressão do índio…

    Você Max, sem querer, usou uma arma fortíssima da publicidade dos grandes mídia: ativou a parte emotiva do cérebro… por momentos paramos de agir com razão e sim com a emoção!

    Por mais melancólico que pareça, também sou extremamente feliz, irônico e sátiro. Sou uma pessoa pública, tenho várias entrevistas na Internet e dá para perceber isso.

    E saber essas coisas realmente mais colabora para a felicidade do que a tristeza. Acontece isso tudo? Já sabiamos… saber os detalhes não muda a emoção… mas aumenta a satisfação do conhecimento… o que aumenta o bem estar intelectual e com isso colabora para a felicidade…

    E falei muito… é o café Italiano importado do Brasil que acabei de tomar… 😛

  4. Sabe Max e amigos,

    A carapuça caiu na conta. No post mais acima, sobre a América, cada pergunta sobre seu estado de sanidade me atinge como um direto na cara. Minha melancolia está sobre controle. Te garanto. Você a suporta contrabalançando com o amor dos entes queridos: a esposa, os filhos (no meu caso 3), bons amigos, talvez um gato, no meu caso, o hamster Julieta de minha caçula (Romeu, seu par, ingeriu cicuta, mas Julieta roeu a corda, ou melhor, a gaiola). Não sou melancólico compulsivo, nem Max e sua indumentária de monge penitente me torna um. Com certeza consigo compensar as coisas com os motivos expostos. Tampouco, ponho a culpa dos males do mundo "apenas" na caneta-tinteiro do Max, "mas também" em outras canetas-tinteiro poraí e suas assinaturas. Também, e de acordo com o que está escrito, prefiro saber a verdade dolorosa a ""sentar no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar"" (O cara que escreveu isso, também morreu. Fazer o que?). Lógico, falo do fiosinho da meada que sei, e que por saber se tratar de ninharia confrontada com toda sordidez possível, anabolisa meus sintomas de melancolia. Talvez a minha principal dificuldade esteja em enxergar a luz no final do túnel, e pior, creio que nenhum de nós é capaz de enxergar luz, nem túnel, nem, desculpem, merda nenhuma que nos sinalize, mesmo que de forma tímida, esperança de dias melhores. Gargalhadas? Também dou as minhas. Também gosto das comédias. Raras, raríssimas na atualidade. Mas onde está o novo Peter Sellers? Monty Python? Putz! Mais desculpas, até nisso há uma certa melancolia. O que fazer? Chaplin, Keaton, Ronald Golias, Oliver & Hardy, Harpo, Groucho e Chico Marx… A culpa não é minha se o mundo perdeu um pouco de sua graça. Fomos abandonados neste mundo cinzento. Também tenho consciência de que o mundo não é assim de agora. Sei que estamos apenas nos apercebendo o que nos rodeia. O que na verdade dói é a percepção de que a coisa tá tomando um vulto espantoso, como demonstrado no post sobre a América Totalitarista, mais acima. Rapaz, será que alguém pôde, antes do 11/09/2001, pitonisar tamanha mudança de curso da história americana e sua velocidade? Ah sim: Orwell, Huxley, desculpem. Na verdade, estes foram além, vaticinaram todo o planeta. A coisa afronta. A próxima medida do Obama será a retirada da estátua daquela senhora gorda que sustenta uma tocha, de seu pedestal.

    Tô escrevendo tudo isso as 18 horas de Brasília e daqui a poucas horas vou estar batendo papo com os amigos e seguindo o caminho do meio como os mestres chineses nos ensinaram. E estarei bem. Mas aquela comichão continuará incomodando após cada gargalhada, que sinceramente têm rareado. Mais honesto seria dizer: após cada sorriso. Lamento, mas como o post mesmo afirma, são tempos de procurar a verdade, dizê-la e vivenciá-la. Sem subterfúgios.

    Bem: sigamos pelo caminho do meio.

    Até a próxima,
    Walner.

  5. Olha Max, eu te considero um excelente jovem professor (deves estar entre 30 e 40 anos)porque excelente decodificador de alguns idiomas herméticos, tipo econonomia, astronomia e outros "ias". Portanto és tradutor independente de mais idiomas do que imaginas, além do mais com humor, o que faz de ti ótimo comunicador. Perfeito editor de blog pela capacidade de síntese e de "acuieração" como já disse em outro comentário.Inteligência aguda e arguta na escolha e análise dos assuntos. E por fim tens o que para mim é a melhor qualidade que alguem possa ter: gostas de animais, Leo que o diga. Consequistes juntar alguns comentaristas que também amam os animais e eu fico contente em ler diariamente os posts e os comentários, a ponto de dar algum pitaco, fazer algumas perguntas e tal, coisa pouco comum em mim atualmente. Em suma, sem conhecer-te, te estimo bastante. Em Portugal, seguro que voltarei. Tenho amigos de verdade por aí. E tanto que , se por acaso me encontrar em Almada, busco o canil municipal (não moras longe), daí fácil localizar um casal inteligente, ele falando português com sotaque de italiano, de nomes fulano e fulana,que tomaram a seus cuidados um cãozinho abandonado a quem deram o nome de leonardo, que hoje deve ter uns 4 anos de vida feliz.
    Quanto a mim, tenho sim momentos de grande alegria quando olho nos olhos dos meus animais, quando planto, quando colho, quando invento alguma coisa que dá certo, quando vejo alguem legal fazer a vida funcionar bem, quando vejo lindas paisagens, quando ouço as músicas que gosto, quando tem vento, quando o cheiro é bom, quando leio algo que me ensina o que não consegui entender, quando ouço uma idéia que considero brilhante, quando a comida é boa, quando a erva funciona, quando as cores são bonitas, quando a obra é boa. Mas que ninguem venha me dizer para ser feliz em semelhante mundo, já isso é demais para mim. Abraços

  6. Ah, assim como
    Maria, também me agrada muito a música!

    Tenho um irmão que quando garoto, adorava ver filmes de terror, principalmente do Drácula com Cristopher Lee no papel do conde, ou com Bella Lugosi e aqueles morcegos que voavam por fios de nylon. Quando a última estaca era cravada, ele virava e dizia: "agora vou mudar pra TVS (antigo nome da TV do Silvio Santos) e ver o seriado do Batman (Adam West) pra aliviar".

    Bem, depois de ler Max, ligo o som e escuto uns sambinhas, umas salsas. Pra aliviar.

    Até max,
    Walner.

  7. Max, como sempre muito bom e como comentado, conseguiu reunir comentaristas de bom nível que só ajuda a acrescentar, sempre somam.
    Eu, em especial, me amarro em ler Maria, ela em seus "pitacos" é ótima, arguta, inteligente, escreve bem e consegue transmitir isso, com pequenos comentários suaves que transmitem paz de espírito consciente de que para conseguir chegar lá ela se fortaleceu em sua independência,que deixou muita gente com "água na boca" e assim ela nos mostrou que não foi agora que ela despertou. Maria, continue nos brindando com seus "pitacos", aposto que muitos gostam de lelos.
    Alias, COMENTÁRIOS é parte integrante dos posts de Max, o que pouco faço, mas não passo se ler.
    Um abraço, e afagos no Leo.

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