A escolha da Suíça

Também os Suíços, de vez em quando, ficam enervados.
E embora os media falem pouco do assunto (o que não é uma grande novidade), algo está a mexer-se.

A Suíça, terra de vacas, relógios, chocolate e bancos, decidiu fixar uma taxa de câmbio máxima entre a moeda local, o Franco, e o Euro: não menos do que 1,2.

E a história dos mercados que se auto-regulamentam, dos mercados eficientes, do papel funcional da especulação? Às urtigas. O banco central de Berna decidiu fechar a porta.

Acontece que a crise do Dólar e do Euro provocou uma fuga para o Franco Suíço, considerada moeda “segura”. Só que assim o Franco ganhou poder, demasiado. E uma moeda forte provoca problemas.


Uma moeda demasiado apreciada dificulta as exportações, porque a mercadoria suíça custa cada vez mais no estrangeiro. Assim, io ideal é uma moeda forte, mas não demasiadamente forte. “Fortinha” é o ideal.

A Suíça decidiu não entrar no grande bordel do Euro e,de forma inteligente, escolheu manter a própria autonomia em termos monetários, não atirar pontapés aos próprio cidadãos e não tentar destruir a economia do País.

Resultado: uma decisão com efeito imediato, Franco Suíco acima de 1,2.

A seguir, algumas declarações de Philipp Hildebrand, Presidente do Banco Nacional Suíço:

Temos que aceitar o facto que os custos (associados à esta operação) são altos.
[…] Não fazer nada infligiria sem dúvida consideráveis danos à nossa economia.
Coma medida de hoje, o Banco Nacional Suíço actua no interesse do País inteiro.

E algumas passagens do comunicado oficial do Banco; reparem no tom “Cada um por si e Deus contra todos”:

Com efeito imediato não ser´amais tolerado um câmbio Euro/Franco abaixo de 1,2.
O Franco 1,2 mesmo assim é sobre-avaliado.
O Banco Nacional aponta para um substancial enfraquecimento da moeda.
A acção será conduta com a máxima determinação.
Se a situação tornasse isso necessário, ou se emergirão riscos deflactivos, serão adoptadas medidas suplementares.

Efeitos: o Franco Suíço perdeu logo 7% perante as maiores moedas e o câmbio com o Euro subiu de quase 9 pontos percentuais, quota 1,2026.

O gráfico dos últimos 5 dias de câmbio Euro-Franco Suíço.

Os Suíços não brincam em serviços.

Além dos efeitos nos mercados, há também um aspecto de maior alcance. Berna decidiu enviar um sinal forte: não abdica da própria soberania e reivindica a independência económica.

Não fico admirado. Conheço bem a Suíça, pois alguns parentes moram aí e depois fica a duas horas de autoestrada de Genova. Um País com as colunas antitanques bem dissimuladas nas estradas, com um refugio em cada prédio, um povo bem armado e treinado, uma democracia que de democracia tem bem pouco.

Um País que não é perfeito, mas onde as coisas funcionam mais de que na maioria dos outros lugares.
Não vão vender-se em troca dum prato de lentilhas.

Berna acaba de dizer: “O Euro? Engraçado, fiquem com ele, mas não tentem desestabilizar o nosso mercado”. Nada de Euro, nada de Dólar.
Não seria mal aprender algo.

Nota final: o Fundo Monetário Internacional acaba de avisar: as medidas de contenção do deficit da Áustria não são suficientes. Venha o próximo…

Ipse dixit.

Fontes: Informazione Scorretta

One Reply to “A escolha da Suíça”

  1. Será por isso que os EUA estão na peugada dos que utilizam os offshores na Suíça? ou não terá nada a var com isso?
    Se todos os Países fizessem o mesmo… punham a suíça a saltitar nas brasas!…

    Os Estados Unidos terão feito um ultimato à Suíça para que forneça informações detalhadas sobre cidadãos norte-americanos que utilizam contas helvéticas para fugir ao fisco.

    http://pt.euronews.net/2011/09/05/eua-fazem-ultimato-a-suica/

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