A Grande Corrida: land grabbing

Mais do que o petróleo. Mais do que o gás. Até mais do que a água: o que conta é a terra.
Porque sem terra que fazes com petróleo, gás e água?

A Grande Corrida é sem dúvida para ocupar quanta mais terra possível. E desta forma volta a nascer o colonialismo. De maneira subtil,sem que a maioria possa perceber.

O que é normal.

Desta vez não há exércitos que ocupam, não há revoltas fomentadas: há, muito mais simplesmente, a aquisição de vastas áreas que ficam aparentemente na posse do País onde se encontram.

Mas apenas aparentemente, pois na verdade os donos ficam bem mais longes. na maioria dos casos, num outro continente.

É um choque dos tempos. Dum lado o tempo linear do Capitalismo histérico, incapaz de construir o próprio futuro que não seja amanhã; do outro lado é o tempo circular dos agricultores, que veem a própria terra reduzir-se até desaparecer.

Mas porque as terras? Porque este land grabbing?


O fenómeno começou em 2008, após a crise alimentar e a subida dos preços. Esta crise (bem pouco “natural”) abriu os olhos dos Países ricos em dinheiro mas pobres em terras.

Um exemplo? Arábia Saudita.

Então começou a Grande Corrida: comprar terras no estrangeiro, basicamente em África, para poder garantir a segurança alimentar do próprio povo.
E onde há uma Grande Corrida, há sempre os privados também..

Enormes áreas que produzem géneros alimentares que são exportados. Assim, o continente mais faminto do planeta exporta comida para os Países mais ricos.

Quantas terras adquiridas? Quanta comida exportada?
Difícil responder, pois não existem número oficiais. A FAO (Food and Agriculture Organization, departamento da ONU que deveria tratar destas questões) tem coisas mais importantes para fazer.

É possível quantificar a área africana vendida em 60 milhões de hectares, uma extensão mais ou menos do tamanho da França; mas é uma estimativa por defeito.

Os protagonistas, como vimos, são governos mas também grupos financeiros: muitos destes últimos, que antes tinham investido no mercado das acções, agora tratam de terra.

Pessoas formadas nas várias JP Morgan, Goldman Sachs, Morgan Stanley, já perceberam o jogo.Também porque não há muito para perceber, pois a regra é só uma: comprar a terra e tentar vende-la ao melhor oferente.
Os mais previdentes não vendem, simplesmente esperam: sabem que os preços são destinados a subir.

Quem decide produzir, pode contar com o bónus da mão de obra, quase gratuita.

Mas os governos locais estão conscientes do fenómeno? Não apenas estão conscientes, mas procuram vender terras.

Vagas promessas de desenvolvimento, corrupção ou simplesmente o desespero de quem não tem dinheiro são razões mais de que suficientes.

E, por uma vez, os governos ocidentais não têm grandes culpas, pois neste sentido bem pouco poderiam fazer. Diferente o discurso de organizações como a já citada FAO, que poderiam fazer mas não fazem.

Porquê? Adivinhem…

A terra torna-se mercadoria.
Na verdade não é uma novidade, pois desde sempre a procura de terras férteis foi motivos mais de que suficiente para o eclodir de guerras. Mas agora estamos perante aspectos novos:

  • as terras não são conquistadas, mas adquiridas;
  • os novos “ocupantes” não entendem estabelecer-se nas novas terras, mas simplesmente explora-las;
  • e os produtos assim obtidos não são consumidos no local mas exportados.

Não apenas as terras exploradas não são desenvolvida com novas aldeias, por exemplo, mas contribuem de forma indirecta para o fenómeno da emigração: com cada vez menos produção nas mãos dos Países pobres, a única solução é muitas vezes o abandono da própria terra, com destino um dos “paraísos” ocidentais.

Além da comida, há depois outra razão que empurra a procura de novas terras.
Com o preço do petróleo que não desce (e que não descerá no futuro, bem pelo contrário), é cada vez maior sentida a necessidade de outras fontes de energias, como a agro-combustível. Temos por isso uma situação pela qual as terras dum continente faminto são utilizadas a) para alimentar os Países ricos b) para produzir combustível em vez de comida.

E a necessidade dos agro-combustíveis causa uma espécie de círculo vicioso: ao subtrair espaço à agricultura, tornam as terras mais valiosas, o que se traduz em alimentos mais caros e, de consequências, numa maior necessidade de obter novas terras.

Tudo isso com a bênção do Banco Mundial e das grandes corporações internacionais: grandes extensões, monoculturas, exploração optimizada, agricultura industrial.

No futuro haverá cada vez menos espaço para a figura clássica do agricultor: as palavras de ordem são “modernização” e “globalização”.

Que depois não passam disso: palavras vazias. Porque o uso extensivo de pesticidas e as monoculturas forçadas empobrecem a terra,  ao ponto desta render menos no longo prazo de que com a prática agricultura tradicional. Isso sem falar da qualidade dos produtos, problema bem conhecido aqui no Velho Continente.

Land grabbing.
Apontem o termo, pois será útil conhece-lo no futuro.

Ipse dixit.

Fonte: Gorkan Larrabeiti em Tlaxala

3 Replies to “A Grande Corrida: land grabbing”

  1. Ta aí algo que muita gente sequer se deu conta.

    Faz todo sentido, a Terra vale muito e valerá muito mais no futuro. Pobre daqueles que ficarem sem ela…

    "Globalização", algo bom ou ruim?
    No início eu achava bom, mas depois de estudar melhor o assunto vejo que cada povo deveria ficar em seu lugar e preservar seus costumes e culturas. O mundo sempre foi assim, e as diferenças sempre existiram, ainda mais na natureza. Precisamos resgatar a pouca dignidade e tradição que ainda temos, ou tudo isso será apenas "costumes ultrapassados e antiquados"

  2. A pouco tempo atrás, ainda quando Lula era presidente do Brasil, lembro-me do Mahmoud Ahmaidsosjkfnejad o ter proposteado para adquirir algumas terras em nome do Irã, mas o brasileiro disse que preferia que o Irã investisse no Brasil ao invés de adquirir terras.

Obrigado por participar na discussão!

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