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Bonequeiros

A última semana no blog foi bastante divertida. E triste também.

Divertida porque quis “provocar” os Leitores e os resultados não faltaram: nunca o blog tinha recebido tantas críticas, algumas das quais hilariantes.
Triste porque, infelizmente, algumas suspeitas ficaram confirmadas.

No post O regresso de Nibiru já expliquei algumas coisas; hoje gostaria de realçar alguns aspectos que julgo serem mesmo muito importantes.


Como já afirmei, pouco sei acerca de Nibiru ou de 2012, dois assuntos não necessariamente ligados.
Acerca das teorias de Zacharias Sitchin sei o que pode ser encontrado nos blogues e nas páginas dedicadas e nem tenciono saber mais (será um meu direito escolher os assuntos para os quais interessar-me ou não?); acerca de 2012 sei um pouco mais porque reputo o argumento mais interessante. Mas em qualquer caso não posso definir-me um perito, longe disso.

Pouco mal: em ambos os casos, tal como tinha acontecido ao falar da religião, o desejo não era convencer as pessoas, nem dizer uma palavra final em relação aos argumentos. A intenção era bem outra. The Observer e poucos outros Leitores, por exemplo, perceberam a ideia. Outros nem por isso.

Este blog, desde que nasceu, rogou duas coisas: não ser apenas espectadores passivos e pensar com o próprio cérebro. Falamos do segundo aspecto.

Cada um de nós tem alguns gramas de matéria cinzenta, muita da qual não é utilizada, o que é uma pena. Como já afirmei, neste blog não encontram Grandes Verdades, por uma razão muito simples: eu não tenho estas Verdades.
E como é evidente que os donos das Verdades são poucos (sempre que existam), a única coisa que podemos fazer é utilizar os poucos gramas de matéria cinzenta para criar pensamentos.

Pensar é importante porque ao fazer isso criamos dúvidas. E esta é a única coisa na qual acredito.

A sociedade

A nossa sociedade é construída duma forma pela qual as dúvidas existem, sim, mas encontram rápida solução.

Os media desenvolvem um óptimo trabalho neste sentido, tudo é pensado para espalhar uma ideia de “certeza”.

Há problemas económicos? Sim, mas fiquem descansados: os peritos estão ao trabalho, quem melhor do que os peritos pode encontrar uma solução?

A ciência trabalha para fornecer bases teóricas a esta serenidade aparente, enquanto a escola forma novos escravos (e utilizamos os termos correctos de vez em quando) que terão tarefas muito simples: trabalhar, procriar, morrer.

O Estado, sob forma de democracia, é a maneira de legitimar com a força da maioria escolhas que não são da maioria.

Para manter o cidadão numa condição de inconsciente escravidão existem a televisão, o medo (terrorismo, pandemias) e algo ao qual até hoje dedicámos pouca atenção: as palavras, talvez a mais perigosa das armas.

A elite

Qual a nossa melhor forma de defesa? O pensamento.

Não importa que a ideia pensada seja correcta: eu, por exemplo, transcrevo para Informação Incorrecta muitos dos meus pensamentos e com certeza muito deles estão errados.

Mas repito: não é importante, pois a coisa fundamental é pensar. Só assim podem nascer as dúvidas e a vontade de saber mais.

Uma ideia incorrecta pode ser emendada, mas apenas uma vez pensada.
Vice-versa, uma ideia não pensada simplesmente não existirá; e com isso nem as sucessivas dúvidas.

O que este blog acabou de demonstrar nestes dias é que até quem frequenta o âmbito da informação alternativa não fica imune ao risco do não-pensamento. Aliás, nós corremos mais riscos do que os outros: porque partimos do princípio que as nossas fontes são alternativas, contrárias à versão oficial, e por isso devem estarem certas.

Os Leitores mais antigos podem lembrar que um dos meus medos foi o de criar uma espécie de “elite”, com tiques snob: pessoas convencidas de conseguir ver “A Verdade”, contrariamente aos outros.

Agora reconheço que o meu medo estava infundado: esta elite já existe.

É uma elite fechada, que tem as próprias regras apertadas e das quais não é possível escapar.

Foi suficiente pôr em dúvida alguns dos pontos nos quais residem as bases desta elite para ser atacado. Foi o caso de Nibiru e de 2012, mas poderia ter sido outro assunto (pois não faltam).

Como escrevi, passei de bestial a besta num prazo extremamente curto.
Até fui acusado de “faltar de respeito” (isso faz-me lembrar The Godfather lololol) simplesmente por ter afirmado que Nibiru não existe; até o facto de eu utilizar o meu blog para escrever quais as minhas ideias foi posto em causa e com isso todo o trabalho desenvolvido até agora e relativo à economia.

De inteligente para demente por ter feito afirmações contrárias aos sagrados ditames da informação alternativa.

O que está em causa não é o facto de ter recebido comentários negativos, nem o facto dalguns destes terem sido ofensivos. Quem abre um blog tem que ficar à espera disso.

Mas eu li com atenção os comentários e a coisa que mais me espantou foi a raiva e a incapacidade dalguns Leitores de responder utilizando a força da razão. Aliás, todas as críticas que recebi foram construídas numa base bem pouco racional.

Isso, na minha óptica, demonstra que a informação alternativa é um lugar bem perigoso: no sentido que é mesmo aqui que podemos ser alvos das piores manipulações.

Manipulação

Lancei uma ideia que não foi recolhida: e se Nibiru fosse uma maneira para nos entreter, afastar as atenções dos verdadeiros problemas?

Agora, abandonemos Nibiru e pensamos mais no geral: quantos dos assuntos típicos da informação alternativa poderiam ser utilizados com o mesmo fim?

Reparem, não seria uma novidade. Não existem nas nossas democracias as oposições? Na maior parte dos casos são uma farsa (não estou a dizer que quem faz oposição parlamentar seja um palhaço; estou a dizer que há pessoas em boa fé cujo trabalho pode ser explorado para outros fins).

Mas realmente pensamos que uma enorme “área cinzenta” como aquela da contra-informação seja deixada nas mãos dos blogueiros? Se a resposta for “sim”, então alguém pode explicar porque The Huffington Post (blog de grande sucesso nos Estados Unidos) foi comprado por Google?

Não estou a sugerir que Nibiru, o 2012, os Ufo, as Pirâmides e tudo o resto sejam apenas manipulações: mas quem pode ter a certeza de que não sejam utilizados para manipular? Até a que ponto, por exemplo, o fenómeno Ufo é autêntico e onde entra a manipulação?

Quem costuma seguir o “dossier” Ufo (como faço eu, por exemplo) sabe que o fenómeno existe mas sabe também que existe uma vontade manipuladora que não pode ser esquecida (o vídeo de Ray Santilli, por exemplo, é uma maravilha neste aspecto).

Mas se no âmbito ufológico a ideia da manipulação é aceite (e até é possível encontrar páginas web que tratam do assunto) em outros casos isso dá direito a um bilhete de só ida para o inferno: é heresia e ponto final.

Como escrevi no já citado post, nos precisamos de acreditar em algo: e ao aceitar algo sem questionar, tornamos isso uma fé. O problema é que os fieis são as pessoas que mais facilmente podem ser manipuladas, mesmo pelo facto de não questionar (e, ainda uma vez, eis a importância da dúvida).

De verdade acreditamos que quem mexe os fios pode perder uma ocasião como esta?
Se não aceitarmos esta ideia, porque não pôr em causa as nossas crenças? Porque deveriam existir assuntos acima de qualquer suspeita? Duma certa forma invejo estas pessoas cheias de convencimentos, porque não tenho isso. E gostaria que alguém pudesse mostrar-me estes tais pontos “fora de questão”.

Um Leitor utilizou o adjectivo “tentacular”. Uma boa imagem, que todavia implica uma pergunta: onde está o limite dos tentáculos? E porquê?

Desanimador?

O panorama não é animador: a ideia é que os inimigos podem residir não apenas “fora”, na assim chamada versão oficial, mas também entre as fileiras de quem diz fazer informação alternativa.

Pior: o inimigo principal poderia residir em nós, no nosso desejo de crer em alguma coisa.

Solução? Sim, uma, sempre a mesma: pensar com o nosso cérebro. E questionar. Tudo, sempre.

Custa? Claro que custa. Quem não gosta da ideia de sentar-se em frente dum ecrã e poder ler as melhores Verdades Absolutas?
Vice-versa, imaginar que para poder entender algo seja preciso trabalhar (pensar é trabalhar) não é tão simples.

Doutro lado, como se diz em Portugal, não há almoços de graça.

Mas nem tudo é assim mau.
Como disse no início, uma das funções da actual sociedade é evitar o pensamento. O nosso pensamento, claro.
E quem procura no mundo da informação alternativa é alguém que já percebe uma coisa: percebe que nem tudo é tão simples como costuma ser contado. Isso não é pouco, porque significa que já encarou a dúvida.

Duvidar das nossas convicções (ou, se o Leitor preferir: pensar e procurar confirmações para as nossas ideias) é o passo seguinte, que requer coragem, um pouco de humildade, e que pode abrir novos caminhos.

Eu acho que o mundo é suficientemente grande para conter qualquer tipo de crença; a diferença é entre crer em algo de nosso ou algo que outros decidem.

Como costumo repetir: o Leitor é que sabe.

Ipse dixit.