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2012: o Rei dos Gatos

Como é Agosto e o blog está de férias (melhor lembrar isso…), nada melhor do que desfrutar o tempo para assuntos um pouco diferentes.

Por exemplo: em 2012 o mundo acabará? É importante saber isso, mesmo para quem não acredita nestas coisas.

Vale a pena comprar Títulos de Estado com prazo de 5 anos? Se o Mundo acabar em 2012, melhor um prazo de 6 meses, assim teremos tempo para desfrutar dos lucros.

Mas antes de começar, dado que este blog não quer menosprezar quem tiver outras crenças, eis o artigo dedicado a quem acredita em Nibiru.

2012 e Nibiru

Em 2012 Nibiru atingirá a Terra. Todos vamos morrer.

Os Maya e a roda em falta

Agora o artigo dedicado a todos os outros Leitores.

Os Maya eram um povo estranho. Surgidos por volta do 1.500 a.C., na zona que abrange o sul do México, o Belize, El Salvador  e a Guatemala, tinham desenvolvido uma sociedade complexa e atingido grandes conhecimentos em áreas como a Astronomia, por exemplo. Doutro lado, desconheciam a roda, o que é espantoso.

Não é correcto falar dum Império Maya, pois este povo sempre preferiu um tipo de governação simples, baseada nas cidades-estado, o mesmo modelo da Antiga Grécia ou da Italia da Idade Media.

Cada cidade partilhava com as outras elementos como o idioma, a religião, a cultura, mas as leis eram próprias e existia concorrência comercial. Todavia, bem raras (ou até ausentes) eram as guerras para o predomínio das várias regiões.

No período post-clássico (o último) o culto da divindade Quetzalcoatl (também chamado de Kukulcán) , uma serpente emplumada, ganha cada vez mais força e com ele o aspecto mais sangrento da religião, com sacrifícios humanos e um maior número de combates.  

Por volta do 800 d.C., a civilização desaparece; várias são as hipóteses acerca deste fenómeno, mas a palavra definitiva ainda não foi escrita. Uma série de revoluções? A chegada de novos povos? Uma elite incapaz de governar? Estas algumas das soluções propostas.

Mas o legado que mais sorte tem nos dias modernos está sem dúvida ligado às profecias. E estas derivam da aplicação do calendário Maya.

Como antecipado, os Maya sempre dedicaram muitos recursos ao estudo da Astronomia, mas também da Matemática e ao cálculo do tempo.

Em âmbito matemático, por exemplo, os Maya tinham inventado o número zero (que os Romanos desconheciam) e tinham um sistema de cálculo baseado no vinte (20), isso é, com base vigesimal.

No lado astronómico, esta foi a única civilização pre-telescópica que conseguiu interpretar a Constelação de Orion como um conjunto e não como um simples ponto estrelar. Muitos dos edifícios seguem uma específica orientação com as Plêiades e Eta Draconis (casos de La Blanca, Ujuxte, Monte Alto e Takalik Abaj) enquanto o objecto astronómico mais importante não era o Sol mas o planeta Vénus.

A pancada do tempo e o Código de Dresda

Além disso, os Maya tinham uma verdadeira obsessão quanto ao tempo. Os monumentos estão repletos de datas e tinham não um mas bem quatro calendários.

Mas porque esta “pancada”? Por um razão interessante: os Maya estavam convencidos de que o tempo é cíclico. Isso significa que as mesmas influências e as mesmas consequências repetem-se a cada determinado período histórico.

Diego de Landa Calderón, o ocidental que mais conseguiu entrar em contacto com os restos da civilização centro-americana (séc. XVI), lembra que os Maya

conseguiam calcular maravilhosamente bem as próprias épocas […] Quem conseguiu pôr ordem no cálculo deles (o katun), fez isso com uma exactidão nunca atingida no passado.

Um perfeito exemplo disso pode ser encontrado no Código de Dresda (também conhecido como Codex Dresdensis), um dos poucos sobrevividos até os nossos dias.
Escrito entre os séculos XI e XII d.C., é uma perfeita cópia dum original que pertenceu ao período clássico (250-600 d.C.): fala das eclipses, das revoluções sinódicas de Vénus, dos rituais religiosos e das práticas divinatórias ao longo de bem 70 páginas.

E foi mesmo este código que permitiu perceber como o calendário Maya tinha uma data última: 21 de Dezembro de 2012.

Para perceber, nada melhor do que aprender a ler os calendários Maya.

O Calendário

Os Maya tinham dois tipos de ciclos anuais: o ciclo Tzolkin (de 260 dias) e o ciclo Haab (de 365, como o nosso ano). Mas os anos não eram contados por simples soma aritmética (ano 100 + um ano = ano 101); utilizava-se a Contagem Longa, bastante complicada, que tinha como base um sistema de numeração posicional misto com base 13, 18 e 20.

Agora seria possível mostrar contas, números, introduzir termos como Kin, Uinal, Tun, Baktun, Karaktun, Kinciltun, Autun…mas como o bom Max arrisca o desmaio cada vez que encontra operações mais complexas do que uma adição com 4 dígitos, vamos ao que interessa.

E o que interessa é que segundo os Maya, cada Contagem Longa corresponde a uma Era do mundo. E a actual Contagem Longa, começada no dia 6 de Setembro de 3114 a. C, está próxima do fim. O novo ciclo começará no dia 22 de Dezembro de 2012.

Por isso, primeiro ponto: segundo os Maya, o Mundo não irá acabar em 2012, esta data marcará o começo duma nova Era.

Em que forma acontece esta passagem entre Eras? Ninguém sabe disso ao certo, pois os Maya não deixaram nada de escrito neste sentido.

Mas a última página do Código de Dresda reporta uma imagem, com a água que destrói o Mundo ao sair dos vulcões e a obscuridade que derrota a luz.

A partir daqui nasceram todas as especulações que é fácil encontrar na internet: o mar que cresce por causa do aquecimento global, uma série de erupções aterradoras, um meteorito, Nibiru (com respeito falando), um novo elemento libertado pelo Large Hadron Collider, uma guerra mundial…enfim, cada um pode escolher o fim do mundo que mais lhe apetecer.

Mas sem esquecer que não de verdadeiro fim se trata: os Maya, repetimos, falam de começo duma nova Era, coisa bem diferente.

Numa inscrição do Monumento 6 em Tortuguero, aparece a data 2012, altura em que algo despertaria uma misteriosa divindade Maya, tal Bolon Yokte, que parece um deus bastante enervado. Todavia, existem outras inscrições com datas bem sucessivas ao 2012.

Na internet esta coisa do fim do Mundo pegou bastante. Não é a primeira vez (no 999 d.C. aconteceu o mesmo, e sem a web…), mas funciona sempre.

Eis algumas das grandes catástrofes propostas:

Deslocação dos Polos

Os Polos magnéticos do nosso planeta não são fixos.

Além dum movimento lento, diário (a posição do Polo Norte magnético de hoje não é a mesma de 100 anos atrás), existe também a inversão dos Polos, isso é: o Polo Sul ocupa o lugar do Polo Norte e vice-versa.
Já aconteceu no passado, temos muitas provas disso, mas ninguém estava presente para relatar os acontecimentos.

Pode isso significar o fim da humanidade? Parece que não.

Os dados demonstram que as grandes extinções do passado não estiveram ligadas à inversão dos Polos magnéticos. O problema seria o desaparecimento destes ou uma forte diminuição, isso sim que seria a morte do homem e de quase todas as espécies viventes.

A última inversão dos polos aconteceu há cerca de 700 mil anos e os primatas já existiam, tal como nas deslocações anteriores: 0,9 milhões de anos, 1.06, 1.19, 1.78, 2.0, 2.08, 2.14, 2.59…

O Sistema Solar abaixo do Equador Galáctico

Não existe um Equador Galáctico: está é uma linha imaginária e empírica, sem ligações com a realidade astronómica. 

O alinhamento planetário de 2012

Não há nenhum alinhamento digno de nota em 2012. Quanto ao alinhamento da Terra e do Sol com o centro da Galáxia (na Constelação do Sagitário), este acontece todos os Dezembros. E ainda aqui estamos.

O meteorito e o cometa

Um enorme meteorito ou um cometa atingirá a Terra em 2012?

O cometa parece que não, pois Elenin não irá despenhar-se contra o nosso planeta e outros não estão à vista.
Quanto ao meteorito: possível, embora improvável. Meteoritos sempre precipitaram na Terra, no passado com mais frequência. Poderia acontecer o mesmo hoje? E porque não? Existe um sistema de relevamento, mas está longe de ser perfeito.

Por enquanto, dois são os corpos no espaço que preocupam:

  • o asteroide 2007 VK184, com uma probabilidade de impacto de 1 em 2700 no dia 3 de Junho de 2048
  • o asteroide 99942 Apophis, com uma probabilidade de 1 em 40.000 (a Nasa diz 1 em 250.000) em 2036.

Mas nada para 2012. Embora, naturalmente, haja sempre Nibiru, com respeito falando.

Alienígenas

E porque não uma invasão de alienígenas?

E porque sim? Os Maya não falam de alienígenas: esta não passa duma especulação. Por isso cada Leitor pode escolher a invasão que mais lhe agrada.
Enormes lagartos de Zeta Reticuli? Pérfidos anões de Próxima Centauri? Pepinos gigantes de Aldebaran?

O quê? Os pepinos gigantes não assustam? Experimentem ser esmagados por um pepino de 4 toneladas e depois voltamos a falar.

Ah, obviamente há os Annunaki de Nibiru. Com respeito falando.

A tempestade solar

Outra possibilidade é que uma gigantesca tempestade solar possa aniquilar a vida da Terra.

O Homem conhece alguma coisa acerca do Sol, mas muitas outras permanecem sem explicação. Esta falta de informação, aliada ao comportamento do astro nos últimos anos, tornam este o cenário mais verosímil.

A Terra já foi atingida por uma tempestade solar de fortes dimensões, precisamente em 1859; na altura a sofrer foi a rede telegráfica, mas nos dias de hoje, num mundo cada vez mais dominado pela electrónica, as consequências poderiam ser bem mais graves.
Até a distribuição dum elemento precioso como a água poderia ser posta em causa.

É o caso de ficar preocupados?
Talvez não ao ponto de perder o sono, mas é verdade que esta não é uma previsão dum qualquer blogueiro à procura de celebridade, mas do respeitado National Center for Atmospheric Research, e confirmada pela Nasa.

Nemesis, a anã!

E que tal uma companheira do Sol?

Estamos habituados a considerar o Sol como a nossa estrela, solitária com os seus 8 planetas. Mas a verdade é que no espaço as estrelas solitárias são uma excepção: a maior parte dos sistemas são binários (compostos por duas estrelas) ou até binários múltiplos (com mais de duas estrelas).

Isso, aliado às observações de ligeiras irregularidades orbitais dos planetas externos, fez pensar na eventual presença duma companhia do Sol, chamada normalmente Nemesis.

Esta seria uma anã bruna, um objecto curioso: com massa maior de que um planeta mas menor do que o Sol, demasiado pequena para dar início às reacções de fusão nuclear típicas das estrelas. Uma vez acabado o deutério (o que aconteceria após poucas centenas de anos), as anãs brunas emitem luz no espectro do vermelho e sobretudo infravermelho.

Isso torna a individuação bastante complicada e, de facto , poucas são as anãs brunas conhecidas.

Poderia ser uma desta Nemesis? E porque não? O facto de ainda não ter sido observada não significa que não possa existir. No caso, Nemesis não entraria no Sistema Solar, mas poderia perturbar a Nuvem de Oort e os corpos que normalmente aí passam a vida. E esta perturbação poderia levar à criação de cometas imprevistos, com riscos de impacto acrescentados.

Problema: o facto de ainda não ter sido observada não significa que não possa existir, mas nem que possa existir. E, por enquanto, Nemesis fica como simpática teoria.

O Rei dos Gatos

Segundo um conhecido filósofo almadense (Leonardo), 2012 será o ano em que o terrível Rei dos Gatos voltará para conquistar o Mundo, obrigando todos os cães a fugir e esconder-se debaixo das camas.

Já tentei convencer Leo de que não deixarei entrar nenhum gato em casa, nem que seja um rei, mas Leo afirma que estas coisas ultrapassam os humanos e que o fim está a aproximar-se.

Segundo as fontes de Leonardo, o planeta Mauu entrará no Sistema Solar, dará um pontapé a Plutão, ficará a jogar com os anéis de Saturno, depois avançará até a Terra, onde obrigará os Homens a pescar peixe todo o dia enquanto os cães capturados serão dizimados com uma compilação dos sucessos de Roberto Carlos.

Afirma também que os Maya já tinham previsto isso, o que me parece bastante suspeito.

Conclusões

Obviamente seria possível continuar com mais eventos catastróficos e mais cenários de fim dos tempos.

Por exemplo, porque não falar do Popol Vuh? Esta é uma compilação de contos de carácter religioso de diversos grupos étnicos da actual Guatemala.

Segundo os catastrofistas, o Popol Vuh contém grandes verdades. Quem diz isso, usualmente, são pessoas que riem perante a Bíblia ou o Alcorão, mas são incapazes de explicar porque estes últimos seriam brincadeiras enquanto o Popol Vuh seria superior.

Da mesma forma há relatos de astrólogos que prevêem o 2012 como o Ano do Juízo Final, isso porque Marte entra em Virgem enquanto a Balança declina em Jupiter deixando Saturno bastante chateado. 

Mas a realidade é muito mais simples: até hoje não há certezas absolutas. Como vimos há a possibilidade do Sol estar a preparar uma grande tempestade magnética. E há a possibilidade duma anã bruna (Nemesis) poder desencadear (?) uma chuva de cometas e meteoritos.

São mesmo isso: possibilidades. Às quais podemos acrescentar eventos nas cujas origens está o Homem: que tal uma guerra mundial?

Mas também há algo de muito menos traumático e que por isso ganha muito menos adeptos: e porque não uma Nova Humanidade? Se teria que apostar o meu dinheiro numa das hipóteses, talvez apostasse nisso.

Se olharmos ao nosso redor, podemos ver que as grandes mutações já começaram. Não no céu, mas aqui, no chão. O “equilíbrio” que nos acompanhou ao longo das últimas décadas está a desmoronar-se; e ainda não é claro o que acontecerá a seguir.

Para os Maya (e apesar da imagem da última página do Código de Dresda), o fim dum ciclo era a oportunidade para celebrações, não para o desespero. O velho ciclo acabava e abriam-se as portas para o novo.

Sim, eu sei: “E a tempestade solar? E a vaga de terramotos? Não são estes sinais dum 2012 terrível?”
Sim, podem ser, porque não? Mas também podem não ser.

Já passámos por várias tempestades solares; o planeta já sofreu sequências de terramotos (que no passado eram muito mais violentos do que agora); e já a raça humana viu um dilúvio (que, é bom lembrar, não é apenas bíblico), tal como o avanço e o recuo do gelo. E ainda aqui estamos. Ninguém tem as provas definitivas, nem num sentido nem no outro: ninguém sabe ao certo qual será o futuro.

Além disso é bom lembrar alguns factos.

1. Os Maya foram incapazes de prever o próprio fim.
Por isso falar em “profecias” Maya é bastante arriscado…

2. Segundo os Maya o tempo é cíclico.
E isso deveria ajudar a perceber que, em qualquer caso, falar de “fim do mundo” está fora de questão.

3. Todas as religiões contemplam um fim.
E neste sentido os Maya não são uma excepção. Porque os Maya devieram estar certos enquanto todos os outros errados?

Com isso não digo que em 2012 nada acontecerá (repito: ninguém tem as chaves do futuro. E se depois morremos todos, que figura faço?). Aliás, a ideia de tempo “circular” parece-me muito boa (sem dúvida superior à nossa ideia de tempo que corre apenas numa direcção: uma ideia errada, como a moderna física já demonstrou). Que os Maya tivessem percebido uma coisa simples que nós ainda não conseguimos aprender: que a História tende a repetir-se?

Mas em vez de passar a vida à espera de catástrofes (sempre à espera de punições, como na religião…apenas um acaso?), porque não pensar em algo de positivo? Um Homem mais consciente do próprio papel? Ou uma sociedade um pouco mais justa (e não seria preciso muito)?

Mais do que com a Natureza, eu estou muito mais preocupado com as atitudes do Homem, capaz de coisas maravilhosas mas também de crimes horrendos. E nos últimos tempos, de coisas maravilhosas não é que haja muitas. Não seria tempo de mudar?

Em qualquer caso: falta pouco mais de um ano, tenham paciência.

Ipse dixit. 

Fontes: Mysterium, Corriere della Sera, Wikipedia, Coolstreaming, Julianasazi