Site icon

London´s burning

Milhares de Leitores perguntam: “Max, mas que se passa na Inglaterra? Explica! Explica!!!”.
Ok, não foram milhares, mas centenas. Ou dezenas. Talvez ninguém pediu nada, mas não faz mal, vamos falar do que se passa na Terra da Rainha.

Quais são as causas dos motins 
em Londres e em todo o Reino Unido?

Boh.

Que como explicação não é grande coisa, mas, como sempre, identificar as causas dum fenómeno tão complexo como os tumultos em Londres e no Reino Unido não é fácil.

Podemos procurar um denominador comum entre o que começou em Tottenham e os tumultos na banlieue de Paris ou os confrontos na Via Padova em Milano.
Primeiro: a agitação social nos subúrbios.

Podemos tentar conectar tudo ao fenómeno das revoltas árabes.
Segundo: o desconforto que tornou-se raiva para os efeitos da Grande Depressão.

Ou ainda podemos acreditar que esta seja o fruto duma abordagem simplesmente violenta, característica das camadas inferiores da sociedade inglesa; afinal esta é a terra onde nasceu o punk.
Ponto três: um substrato social dispostos a confrontação física. 

Mas qual será a resposta correcta?

Boh.
Outra vez? Tá bom, vamos tentar perceber algo…

As causas dos motins em Londres e no Reino Unido

Nas televisões podemos ver pessoas que assaltam lojas, roubam e, já que saíram de casa, aproveitam para partir tudo.
Apenas ladrões? Se assim fosse, porque não actuaram antes?

A causas dos motins em Londres e no Reino Unido são mais complexas disso. é mais um conjunto de situações, são fenómenos humanos e sociológicos.

Talvez a resposta melhor resida numa mistura das três hipóteses acima ilustradas, sendo redutor apontar apenas uma dela qual causa fundamental.

1.
Mesmo hoje falei com Anil, amigo logo regressado de Londres: não tem dúvidas em descrever Tottenham (onde tudo começou) como um bairro complicado, onde a multirracialidade não é uma escolha mas uma consequência das dificuldades da vida..

Há ressentimento contra o sistema, há desespero, com blocos étnicos que comportam-se como placas telúricas.

Para que o fósforo pegue fogo é preciso enxofre na cabeça: em Tottenham e em outros bairros socias da Inglaterra, o enxofre não falta. O gueto e a exclusão do contexto urbano, onde não há nenhuma maneira fácil de sair, com o desemprego e sem espectativas para o futuro, tudo isso faz crescer a raiva.

Esta é a cabeça do fósforo, aqui temos o enxofre. Que é um bom ponto de partida, mas nem sempre suficiente para que o fogo possa espalhar-se.

2.
O impacto da Grande Depressão, como no caso das revoltas árabes, foi decisivo.

Intensificação pelo desemprego, a falta de capacidade para pagar as rendas das casas,  o facto dos que trabalhar sofrerem a maior exploração, especialmente no caso dos grupos étnicos de cor diferente do branco.

E doutro lado o espectáculo dos super-ricos que, apesar da crise, tudo podem comprar: um espectáculo que todos podemos observar nas revistas patinadas, nas televisões: um estalo na cara, dia após dia. Tudo isso e uma faísca.

Os que partem as vitrinas, as montras, os que deitam fogo, todos eles não pedem liberdade ou democracia, não querem uma melhor distribuição da riqueza ou novos conceitos particularmente elevados.

No entanto partem, e haverá uma razão.

Isto é, poderiam beber uma cerveja em vez de partir tudo. Mas partem.

Normalmente, por trás duma manifestação de agressão, há uma demanda de atenção ou um grito de socorro. Com os saques das lojas roubam televisões de plasma, leitores de DVDs, roupas de marcas populares; duma certa forma têm aplicado uma redistribuição da riqueza.

À maneira deles, claro, à maneira de quem nasceu e sempre viveu num lugar assim, por uma noite tomaram-se mais ricos.

Aproveitar a confusão para tirar algumas mercadorias, talvez para depois vende-la, talvez para comprar as coisas que não podem comprar porque sufocados pelas dívidas e o colapso económico da Grande Depressão: isso tem algo em comum com as revoltas árabes.

Depois há sem dúvida uma sentimento de revolta contra as instituições. A raiva de quem já não sabe o que fazer.

Ninguém quer justificar o que acontece nas cidades inglesas, que fique claro; mas temos o dever de perceber: tudo isso é uma faísca potente.

3.
E o substrato social? Na Islândia nada disso aconteceu. Nem na Somália, onde de fome se morre. Cada um reage com base em o que é.

Uma certa fisicalidade inata (a boxe nasceu aqui, o punk nasceu aqui, os hooligans nasceram aqui), combinada com um baixo nível cultural e um forte consumo de álcool. Mas isso já é generalizar, o que é sempre bastante estúpido e em pouco pode ajudar na compreensão do problema.

Porque depois existem milhares de outras causas.

O copo

Surpresa? Nem por isso.

Artigo Profecias para 2011:

Aqui as previsões para 2011 são simples: na Europa e nos Estados Unidos, aumento da criminalidade. Normal, há mais pobreza.

Repito: uma previsão verdadeiramente simples.
Vamos ler a História: pobreza e revoltas vão de mãos dadas.

Por isso pensar que os tumultos do Reino Unido sejam algo de distante e ligado à causas locais seria um erro.

Na Terra de Sua Majestade chegou a conta; e entre o silêncio dos media, outras contas acabaram de ser entregues: no Chile, por exemplo (milhares de pessoas contra o Governo de Sebastián Piñera; ou na Índia, em Puna e Nova Deli, com mortos.
Na semana passada em Madrid, Espanha, com os indignados; ou em Bari, Italia, com a raiva dos imigrados.

Hoje estava no autoestrada a ouvir a autorádio: um economista explicava que temos de compreender, temos de baixar o nosso nível de vida. Que poderia ser uma boa ideia se todos baixassem os próprios padrões. Mas quando “todos” significa apenas alguns e sempre os mesmos?

Quando o copo está cheio, basta uma gota.
E não faltam copos por aí.

Ipse dixit.

Fonte: Informazione Scorretta