Rezamos…

É Domingo, dia de Missa.
Rezamos.

Não sei se todos os Leitores repararam, mas houve uma interessante troca de ideias no blog acerca da religião, um assunto importante.

Diz o Anónimo 1:

Não há outro conhecimento sobre o mal e o bem a não ser o livro divinamente inspirado.
As obras de satanás estão no mundo, cegando e oprimindo, pois ele esta no mundo desde o príncipio da criação.

E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Lucas 10:18
E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. 2 Coríntios 11:14
Mas, porque vos digo a verdade, não me credes. João 8:45

Diz o Anónimo 2:

Caro anónimo do comentário do livro divinamente inspirado:
Lamento dizer-lhe, mas muito do que está na Bíblia também foi deturpado ao longo do tempo, nem que seja nas traduções.

Vou-lhe dar um exemplo: por aquilo que andei a pesquisar, a História de Jesus difere em muitos pontos entre os textos de várias religiões. Compare os Evangelhos e o Corão. Logo para começar, na história do nascimento de Jesus que se conta no Corão, não houve mangedoura nenhuma, Maria deu à luz num deserto debaixo de uma palmeira (o que por sua vez, é algo parecido com a história do nascimento de Buda…). O que lhe garante que a versão que está certa é a que se conta deste lado? […]

Diz o Anónimo 1:

caro amigo anônimo também
compreendo sua colocação histórica, na qual já pesquisei errôneamente também. Não posso te convecer por palavras que escrevo aqui, mas, posso te afirmar, que a salvação é pela Fé, quando digo que a bíblia é divinamente inspirada, é que a mesma foi escrita através da vontade de Deus pelo seu Santo Espírito.

Somente se testifica tal palavra se tens o Espírito de Deus, do contrário, são meras palavras impressas. Se desejas encontrar, busca enquanto tens tempo para a verdadeira “Sabedoria”.

Que Deus abençoe sua vida.


Antes demais: quando um blog consegue favorecer a troca de ideias dos Leitores e entre os Leitores, então este é, na minha óptica, um bom blog.; ou pelo menos um blog útil. Informação Incorrecta demorou cerca de um ano a atingir isso, mas cá estamos agora.

A seguir: acho que os dois Anónimos falam idiomas diferentes.
O Anónimo 1 fala o idioma da Fé, o Anónimo 2 fala o idioma do raciocínio: não há possibilidades de entendimento, Fé e Razão estão nas antípodas. (pelo que, afinal. Informação Incorrecta favorece conversas que não podem ser entendidas…)

Aqui não vou falar de Fé, este é um assunto pessoal que cada um tem de desenvolver segundo os próprios moldes.

Aqui vou falar de Religião, o que é diferente.

Há algumas semanas encontrava-me na casa duma conhecida, uma pessoa muito devota (demais para mim), quando encontrei um postal com esta frase:

Não é preciso ser santo para sofrer,
mas não se pode ser santo sem sofrer.

Minhanossasenhoradailhadopicoearredores, mas que é isso? Que é esta sede de sofrimento, que é este masoquismo elevado a estilo de vida?

Este é um problema grave, na minha óptica, em particular da igreja católica.

Entra-se numa igreja e somos acolhidos por um ambiente escuro, frio (o que dá jeito no Verão, admito); nas paredes imagens e estátuas de gente que sofre, pessoas com setas em todo o corpo, cadáveres estendidos em caixas de vidro, pedaços de membros, Virgens que choram.

Sentadas ou ajoelhadas, pessoas com roupas escuras (normalmente preto, cor da morte), que, em silêncio, rezam e, nos momentos altos, até choram.

Quem viu o filme “A Família Adams” não pode não reparar em muitas semelhanças, excepto o sentido religioso, claro.

E eu pergunto: mas porquê?

A Igreja católica é fundamentada basicamente no Novo Testamento, nas palavras de Cristo. Como é representado Cristo? Em estado de profundo sofrimento, na melhor das hipóteses é sentado à mesa para a Ultima Ceia, mesmo antes de ser crucificado, e este é o máximo da diversão.

Nunca uma imagem de Cristo que ri; parece, pelo contrário, afecto por uma qualquer doença, provavelmente paralisia dos músculos faciais, que impede a demonstração de qualquer tipo de emoção que não seja dor.

Mas esta  é apenas obra dos homens, pois o Novo Testamento não é nada disso. O Novo Testamento é Esperança, é Amor, é alegria.

Sim, isso mesmo: alegria. Porque Deus deu a vida, uma prenda que só por isso merece ser vivida da melhor forma. Porque Deus ama a criação Dele até o ponto de sacrificar o próprio Filho para a Redenção do Homem: como não ficar felizes ao saber que há alguém que ama-nos até este limite?

O Novo Testamento é um Indivíduo que trata os doentes, que devolve a vista, que ressuscita os mortos. Não é uma Pessoa que passa a vida a chorar, a rogar o sofrimento, a auto-mutilar-se.

Cristo multiplica o pão, não diz: “Têm fome? Penitência!”:
Cristo multiplica o vinho, não diz: “Têm sede? Que aprendam a sofrer como vou sofrer eu na Cruz”.

Quando Cristo está na Cruz, não passa o tempo a dizer “Ahi como sofro, ahi estes pregos doêm mesmo, ahi que dor, uhiuhi que prazer estar mal”. Pelo contrário, perdoa e demonstra amar a vida até o último segundo.

Reparem: quem escreve (sou eu!) considera-se um neo-platónico, não um Católico (horror! Um herético!!!). Possível que os Católicos sejam todos atraídos pelo lado mais mórbido da Religião?

Há razões óbvias para glorificar a dor e o sofrimento, muito menos religiosas e muito mais terrenas, mas não vamos por ai nesta ocasião.

Vamos, pelo contrário, observar como a Igreja Católica esteja a perder fiéis; e quem ganha são, na maioria dos casos, autênticos palhaços (os das curas milagrosas em directo) que, todavia, transmitem uma mensagem de esperança, de Amor, de alegria, de prazer da religião. Acham um acaso?

E, por favor, não venham dizer que a mensagem fundamental da Igreja é a Esperança, pois esta é apenas uma parte da verdade: a Igreja oferece esperança através do sofrimento, o que é bem diferente.

Não seria altura de recuperar os verdadeiros Valores da mensagem cristã?
Não seria altura de livrar-se do supérfluo (e o Vaticano tem muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito supérfluo) para abraçar as ideias simples de São Francisco? (Mesmo não sendo eu católico, esta é uma figura que admiro muito).
Não seria altura de abrir a Igreja à Luz (Deus é Luz, não escuridão!!!), à alegria de viver, à música: e possivelmente fazer isso sem uma máquina chupa-dinheiro como Canção Nova?

A palavra aos interessados.

A Missa acabou, é tempo de almoçar. E depois praia!
Ámen.

Ipse dixit.

13 Replies to “Rezamos…”

  1. sem querer ofender ninguem, dou meu aval ao blogue com estes comentarios!está divinal!

  2. Olá Max: tu dizes estar falando de religião, mas me ´parece que estas coisas que te encomodam no catolicismo têm muito mais a ver com os interesses de uma máfia muito antiga chamada igreja católica do que própriamente com religião. Pra inicio de conversa,é sabido que sacrifício (o que nos enche de medo),culpa (o que nos enche de insegurança), penitência (o que nos exige confessar a um juíz fora da nossa consciência) são pilares da infantilização humana, formas inteligentes que uma máfia sediada no Vaticano inventou para conduzir mais facilmente os fiéis da religião católica. E conduzir para que, para onde? Para manter sob seu controle multidões que rezem na cartilha moral e econômica da igreja em função dos seus interesses em cada momento histórico especialmente no ocidente. Foi assim que os evangélios apócrifos foram banidos concílio após concílio, foi assim que o crucifixo – ícone do sofrimento e da dor – foi tornado símbolo mais significativo do catolicismo. Foi assim que a mulher foi subtraida das decisões, tornando a família patrarcal e o papel da mulher ao invés de companheira (como no subtraido evangelho de Maria Madalena), uma imagem de mulher, Maria, mãe de Jesus, submissa e tão idiotizada, que acreditou que pariu sem copular. A lista de mentiras é tão grande quanto a lista de crimes de lesa humanidade praticada pela igreja católica ao longo dos séculos; uma lista tão quilométrica quanto a conta bancária, as propriedades acumuladas, o ouro furtado e escondido, as obras de arte surrupiadas, o poder exercido sobre governos, empresas, coroas, exércitos. Tudo isso por conta dos viézes produzidos na religiosidade das pessoas e calcado na falta de respeito pelas pessoas de fé na vida, na esperança, na caridade e no amor.Essa rede de poder, uma das maiores e mais sutis existentes penetra sob o manto de organizações como opus dei, através de cursilhos e comunidades religiosas em todo o tecido social, apodrecendo-o. Não que outras máfias concorrentes com a católica não funcionem de maneira similar, mas decididamente me parece que isso nada tem a ver com a consciência religiosa ou a espiritualidade das pessoas.
    Pessoalmente respeito qualquer crença, qualquer fé. Como não fazê-lo, se é de crenças que vivemos quase todos nós! Só lamento que as pessoas de fé sejam levadas por tantos podres poderes, pensando que estão vivendo sua religiosidade.
    Em tempo: também sou fã de S. Francisco (um sujeito decente), protetor dos animais e também de S. Roque, protetor dos cães abandonados.

  3. Olá, aos interessados na verdade.
    Procurem pela trandução das Sagradas Escrituras na versão YAHÚSHUA, pois ele é O Messias! Ou neste link: http://verdadesquelibertam.wordpress.com/ .
    Essa versão é muito esclarecedora, ao contrário das outras versões. E comprovarão isto lendo o Kanódgaluth (ou apocalipse) nela. YAHUH ABÍ seja com todos quanto crerem em YAHÚSHUA O MESSIAS!

  4. Olá Max e Maria,
    Todo um livro baseado no temor por deus, não pode dar em nada de muito diferente do que temos assistido ao longo dos milênios. Ser temente à Deus, assim se jacta o judeu, o cristão e o islamita. E deus sempre fez questão de que assim o fosse, desde o princípio. Há templos nos quais o nome do coisa ruim é tão ou mais presente que o nome de Jesus, e até mesmo, mais do que o do Criador. O medo é a fonte que prende o ser humano às teias de um livro que serviu de fato, para distender as diferenças entre os povos. Falar de alegria nos atos e palavras de Jesus, é afirmar que Ele rompeu com o velho testamento e todas suas incontáveis histórias punitivas. É o que me alegra nas atitudes e palavras deste Homem. "O Shabat foi feito para o homem, não o homem para o Shabat".

  5. Este post está um must, MAX!
    Descreve com argúcia o sentimento dos católicos actuais na sua grande maioria:- missa, medo e depois para esquecer, barriga cheia de donuts e passeiozinho na praia! Já agora umas horas de TV diária e o quadro fica perfeito. Ora que bem visto isto está! e com uma pitada de humor negro… realmente está soberbo!
    Já agora umas palavras com as quais concordo plenamente:

    «O mundo contemporâneo encontra-se polvilhado por destroços de projectos utópicos, planos para aperfeiçoar a experiência humana que acabaram por matar milhões. Da Alemanha à Rússia, passando pela China ou pelo Afeganistão, sociedades inteiras foram destruídas. Perseguindo o sonho de um mundo sem mácula, foram declaradas guerras e espalhado o terror a uma escala sem
    precedentes.

    As ideologias utópicas que moldaram grande parte da história mundial do século passado afirmavam basear-se na ciência, rejeitando as fés tradicionais. Apesar disso, tais ideologias eram devedoras do mito do Apocalipse – a crença de que um evento grandioso poria fim à história e aos seus conflitos. Mas a religião acabou por regressar sob a forma de mitos políticos.

    A morte da utopia não significa necessariamente paz. Pelo contrário, prenuncia a ressurgência de antigos mitos, agora abertamente fundamentalistas. Camufladas no manto obscuro das lutas geopolíticas pelo controlo de recursos naturais, as religiões apocalípticas regressaram em força aos conflitos globais. À entrada no século XXI, o mundo continua a preparar-se para novas guerras santas.»

    Vemos isso nos neoconservadores, cristãos fundamentalistas e que dominam agora os neoliberais, e sem dúvida, o Mundo do Islão.
    Quanto a religiões monoteístas é e será sempre dividir para reinar, daí o tão utilizado trunfo: o Medo.
    Ámen, Max.

  6. Amei! Amor dever ser mesmo alegria. A igreja católica nos mostra um Cristo muito sofredor, nenhum sorriso. Eu não sabia por que aquilo nunca conseguiu me cativar. Eu nunca gostei da dita cuja. Aquele Deus sempre na cruz era deprimente.

    Parabéns pelo post! Vamos aguardar que algum artista pinte um Cristo lindo e sorridente.

    Abraços!

  7. Vejo que todos falam de religião.
    Quem poderá descrever a criação?
    Quam dentre vocês é tão sábio para conhecer as coisas do Altíssimo?
    Tudo o que há nos universos, céus e terra é criação, mas Deus é Criador de tudo e é diante d'Ele que devemos dobrar os nossos joelhos em adoração e louvor. Deus é Único, não pode ser comparável, nem com árvores, nem com animais, nem com estrelas, mares, rios, nem sequer com pessoas. Tudo foi criado por Ele e para Ele (Eclesiastes 5:2).

  8. Como surgiu Deus?

    O universo é infinito e é um ciclo, não existiu começo, não existe fim, já pararam para pensar nisso?

    Nada surge do nada, é tudo infinito, não existiu começo, até porque não existe um fim. Tudo é transformação.

    Big Bang???
    Será? E de onde veio a matéria antes do Big Bang? E o cosmos? Não existe começo, nunca existiu, pois até o "tempo" é uma ilusão dependendo de onde estivermos.
    Existem universos paralelos e são infinitos, em forma de cilindros.

    O fim não existe, muito menos o começo.

  9. Muito, mas muito bom.
    Seria este o verdadeiro significado de democracia? Onde duas antíteses cohabitam, discutem e ficam de boa?
    Abraço!

Obrigado por participar na discussão!

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