A Grande Orelha

Rupert Murdoch. As interceptações. A privacy violada. Os jornalistas. O governo.
Tudo verdadeiro.
Mas…

Prontos para uma viagem no tenebroso mundo dos espiões?
“O meu nome é Incorrecta. Informação Incorrecta”

Echelon, a Grande Orelha

Mas se existisse um sistema que escuta todas as comunicações. De privados, de políticos, de governos, de embaixadores, de chefes militares. Todas mesmo. Não seria terrível?

Pois seria. Ou melhor, não “seria”, mas “é”. Pois este sistema existe há alguns anos e é normalmente utilizado.

Não é ficção científica, nem é preciso procurar nos sites “conspiracionistas” ou “complotistas”. É só abrir Wikipedia.

Wikipedia??? O site mais obscurantista do planeta e arredores? Exacto, a enciclopédia online que tudo sabe e tudo explica desde que não contradiga a versão oficial.


Diz Wikipedia:

Echelon é o nome dado na cultura popular e media a um alegado projeto secreto de SIGINT, para o qual não existem explicações oficiais de que função possa desempenhar.

Alguns estudiosos da área afirmam que serve para interceptação mundial de telecomunicações (internet, fax, telemóvel) encabeçado pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América, com a colaboração de agências governamentais de outros países (Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia), para analisar as comunicações em nível mundial, com o fim de procurar mensagens que representem ameaças à segurança mundial.

Devido a todo o mistério que envolve o Sistema Echelon, algumas teorias o acusam de promover até mesmo espionagem industrial.

Primeira observação: esta parece ser a tradução da homóloga versão em língua inglesa, mas com algumas variações. Na versão portuguesa, por exemplo, fala-se de “alegado” projecto secreto, enquanto no original de “alegado” não há nada mesmo.

(no original: “ECHELON is a name used in global media and in popular culture to describe a signals intelligence (SIGINT) collection and analysis network operated on behalf of the five signatory states to the UK–USA Security Agreement [..] known as AUSCANNZUKUS or Five Eyes“).

Nem nas versões italianas ou espanholas parecem existir dúvidas.
Mas vamos em frente.

“Alguns estudiosos da área afirmam que serve para interceptação mundial de telecomunicações”.
Alguns estudiosos? E os outros? Os outros acham Echelon um sistema para a fabricação do algodão-doce.

Segundo Wikipedia portuguesa, este seria um sistema contra as “ameaças à segurança mundial” e o maior perigo seria representado pela espionagem industrial.

Mas quem escreve na Wikipedia portuguesa? Deve ser alguém da CIA, só pode ser.

Fechamos a versão de Camões e continuamos com aquela de Shakespeare.

Mensagens

Click para ampliar!

Echelon foi criada na década dos 60, como o objectivo de interceptar as comunicações dos Russos.

Só que com o fim da Guerra Fria as escutas continuaram com outros alvos: terroristas, traficantes de droga, espionagem política e diplomática. Tudo nas mãos do Estados Unidos e do Reino Unido.

Sim, em teoria também do Canada, da Austrália e da Nova Zelândia, mas tentamos ser sérios.

Mas como funciona?

Echelon nasceu com a interceptação dos cabos submarinos (género Aquacade e Magnum), mas hoje utiliza técnicas muito mais refinadas, quais micro-ondas, sistemas celulares, fibras ópticas, satélites geo-estacionários.

O objectivo é um só: poder “ouvir” a maioria das mensagens que os homens costumam trocar, sejam eles fax, sms, e-mail ou simples telefonemas.

Problema: mas não serão muitos? Quantas mensagens serão enviadas a cada dia? Um número difícil de quantificar, mas com certeza diversos (eis a nomenclatura numérica) fantastilhões (lololol).

Não será um bocado complicado ouvir todas estas mensagens?
Echelon poderia pagar as horas extraordinárias, mas o trabalho seria na mesma impossível.

Então, eis a ideia: não “ouvir” literalmente cada mensagem, mas fazer um scanner à procura de palavras-chave. Isso, junto com um sistema capaz de relevar a impressão vocal dum indivíduo, permite ter um panorama completo das comunicações à escala global. (obviamente falta a localização da origem da mensagem, mas neste caso as técnicas existem há muito tempo e são bastante simples).

Echelon em tribunal

A base de Menwith Hill

Ficção científica?
Repetimos: não.

Em 1997, duas raparigas pacifistas foram até o tribunal para demonstrar que Echelon era muito mais de que uma lenda metropolitana. E conseguiram.

Com documentos e testemunhos, a British Telecom admitiu que três das suas linhas em fibras ópticas acabavam em Menwith Hill, uma base da RAF (Força Aérea do Reino Unido), mas sobretudo sede dum sistema integrado de interceptação das comunicações terrestres e satelitares.

Ainda mais: a British Telecom deixou claro que esta não era uma simples escolha e que administrar uma companhia de comunicações obriga a aceitar estas “intervenções” dos serviços secretos.
Outra confirmação no caso Security Pirelli – Telecom Italia.

Mais recentemente, Martin Brady, director do Australia’s Defense Signals Directorate (DSD), confirmou oficialmente que o DSD permite a espionagem de cidadãos e empresas australianas.

Também afirmou que a Austrália é signatária da aliança secreta Reino Unido-EUA, que mantém a cooperação entre as organizações de escuta clandestina.

Também o Parlamento europeu tratou do caso, coisa que provocou muito, mas mesmo muito medo no âmbito dos serviços secretos.

Echelon no mundo

DSD Austrália com kanguru que escuta (talvez)

Concluímos com as alegadas bases Echelon espalhadas no mundo:

  • Hong Kong (provavelmente desactivada)
  • Australian Defence Satellite Communications Station (Geraldton, Austrália)
  • Menwith Hill (Yorkshire, Reino Unido)
  • Misawa Air Base (Japão)
  • GCHQ Bude, formerly known as GCHQ CSO Morwenstow, (Cornwall, Reino Unido)
  • Pine Gap (Northern Territory, Austrália)
  • Sugar Grove (West Virginia, EUA)
  • Yakima Training Center (Washington, EUA)
  • GCSB Waihopai (Nova Zelândia)
  • GCSB Tangimoana (Nova Zelândia)
  • CFS Leitrim (Ontario, Canada)

Outras potenciais sedes:

  • Ayios Nikolaos (Chipre, base militar do Reino Unido)
  • Bad Aibling Station (Bad Aibling, Alemanha, base militar EUA, em 2004 deslocada Griesheim)
  • Buckley Air Force Base (Aurora, Colorado, EUA)
  • Fort Gordon (Georgia, EUA)
  • Gander (Newfoundland & Labrador, Canada)
  • Guam (Pacific Ocean, EUA)
  • Kunia (Hawaii, EUA)
  • Lackland Air Force Base, Medina Annex (San Antonio, Texas, EUA)
Dúvida: Echelon para quê?

Mas afinal qual o problema com Echelon? Serviços secretos sempre existiram e podem contribuir na prevenção de actos de terrorismo, por exemplo, ou de outros perigos.

Isso é verdade. Mas há alguns pontos obscuros.

Em primeiro lugar: quem tem acesso aos dados de Echelon?

Em teoria os Países que fazem parte da UKUSA, a aliança de Países anglo-saxónicos que tem como objectivo a recolha de informações com a actividade de SIGNIT (SIGnail INTelligence). Por isso, um cidadão americano pode ser bem feliz de ser espiado se o objectivo for a segurança sua e do seu País: mas nós?

Em segundo lugar: quem supervisiona a actividade da UKUSA (e, portanto, de ECHELON)? Quais garantias de privacidade temos?

Resposta: não há garantias. Pelo contrário, há fortes suspeitas de que o Echelon já foi envolvido em actividades de espionagem industrial  ou que tenha sido utilizado para favorecer determinados Países em detrimento de outros, mesmo que membros duma mesma organização (a Nato).

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Há ainda um terceiro aspecto que não pode ser subestimado.

As potencialidades de Echelon são quase infinitas: de facto, é possível controlar todos os tipos de comunicação, em qualquer ponto do globo, “ao vivo”; individuar não apenas as mensagens mas também os remetentes, os destinatários; especificar se for homem, mulher; conhecer o local exacto donde partiu a mensagem e o local exacto onde acabou.

Perante esta impressionante quantidade de dados, e tendo em conta o facto de Echelon trabalhar sem pausas desde (pelo menos) os anos ’60, surge a seguinte questão: quantos dos recentes acontecimentos que marcaram o mundo representaram uma autêntica surpresa?

11 de Setembro, armas de destruição maciça do Iraque, atómica do Irão, atómica da Coreia, atentado em Madrid, atentado em Londres, fuga de Bin Laden…todos eventos que foram conduzidos de forma a eludir por completo a rede Echelon?

E, pelo contrário: quais acontecimentos foi capaz de prevenir Echelon? Não há notícias acerca disso.
O que é compreensível, em parte, sendo matéria dos serviços secretos.
Em parte.

Mas quando a ameaça e as suas raízes forem eliminadas? Porque não declarar “Meus senhores, com o emprego de Echelon fomos capazes de salvar a Humanidade”? De certeza não é para “esconder ” Echelon, pois a sua existência pode ser encontrada até nas páginas de Wikipedia.

Concordo: a minha é uma afirmação ingénua. Mas sobra uma pergunta: se Echelon não foi capaz de detectar as ameaças, então serve para quê?

Em outros blog ou sites podem encontrar muitas respostas, baseadas em hipóteses, pois dados concretos não há..

Nós ficamos com a dúvida.

Ipse dixit.

Fontes: Wikipedia (PT), Wikipedia (UK), Disinformazione, GlobalResearch, Paddington Nine MSN

4 Replies to “A Grande Orelha”

  1. "Os outros acham Echelon um sistema para a fabricação do algodão-doce."
    hahahaha

    O blog está muito engraçado hoje.

    Mas o assunto não deixa de ser sério,
    e esse Echelon me fez lembrar de outro programa obscuro, o HAARP.

  2. Olá Leonardo!

    Pois é: este Echelon é um assunto sério. Afinal onde está a privacidade?

    E o HAARP. Ainda não percebi, há muitas vozes acerca disso, mah…

    É só esperar para ver: cedo ou tarde algo emergirá. Espero.

    Abraço!

  3. Olá Pedro!

    De facto é assim: estamos rodeados por jogos de interesses, rios de dinheiro (apenas com uma direcção) e mentiras não faltam.

    Todavia cá estamos nós, a falar do assunto.
    E como nós há muitas, muitas outras pessoas.

    O problema dum blog como Informação Incorrecta é que apresenta uma realidade bastante feia.
    Mas, para boa sorte, não é a única realidade.

    Às vezes pode ser difícil lembrar disso: mas é só sair na rua e algo de bom não faltará.

    Abraço!

Obrigado por participar na discussão!

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