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Vacinas, terrorismo, estupidez

As vacinas funcionam?

Afirmar que todas as vacinas são inúteis é um disparate. Tal como afirmar que toda as vacinas são úteis.

É suficiente confrontar alguns dados históricos para perceber que muitas doenças já estavam em fase regressiva aquando da introdução da vacinação e que o golpe de graça foi dado pelos novos hábitos dos homens: mais cuidado com a higiene pessoal, tratamentos dos resíduos mais eficientes.

Também temos o outro lado da moeda: doenças como a poliomielite efectivamente baixaram a própria incidência, e como a simples higiene ou novos hábitos pouco têm a ver com isso, é óbvio que as vacinas desenvolveram um papel determinante.

Infelizmente, recentes episódios no mínimo suspeitos (para não dizer verdadeiros embustes) como o caso da Gripe A (ou H1N1 ou Gripe Suína) não ajudam a esclarecer as dúvidas. Pelo contrário, favorecem a desconfiança: eis explicado porque são cada vez mais os pais na Europa que recusam as vacinas obrigatória para os filhos.
Só em Portugal são três mil as crianças que cada ano não são vacinadas (e a taxa de mortalidade não aumentou, diga-se).


Depois, ao descobrir que as campanhas de falsa vacinação podem ser simplesmente utilizadas por fins militares, a confusão aumenta. Mas é isso que se passou.

A CIA e a hepatite do Paquistão

Conforme relatado pelo The Guardian e, mais tarde, pelo New York Times, alguns oficiais da intelligence dos Estados Unidos têm financiado uma falsa vacinação na esperança de obter uma amostra do DNA para demonstrar que Bin Laden realmente vivia num determinado distrito do Paquistão.

The Guardian:

O DNA de um dos filhos de Bin Laden poderia ser comparado com uma amostra da irmã dele, que morreu em Boston em 2010, para fornecer evidências da presença da família na área.

[…] Assim, os agentes contactaram [Shakil] Afridi, o oficial médico responsável pelo distrito de Khyber, uma zona tribal que corre ao longo da fronteira afegã.

[…] O médico foi para Abbottabad em Março, e disse ter recolhido fundos para vacinar gratuitamente contra a hepatite B. Ignorando os serviços de saúde em Abbottabad, pagou bem operadores de baixo nível do governo local, que tomaram parte na operação sem conhecer a ligação com Bin Laden.

[…] Em Março, os trabalhadores de saúde administraram uma alegada vacina no bairro de Sher Nawa, um pobre área nos limites de Abbottabad. A vacina para a hepatite B é geralmente subministrada em três doses, a um segunda um mês após a primeira. Mas em Abril, em vez de entregar a segunda dose em Sher Nawa, o médico voltou e mudou toda a equipa para Abbottabad Bilal enfermeiros, um outro subúrbio.

Não há nenhuma evidência de que a “vacinação” terá produzido o tão desejado DNA. O médico citado neste artigo foi preso pelas forças de segurança paquistanesas e a CIA recusou-se comentar.

Pode simplesmente parecer mais um exemplo de mau gosto por parte dos Estados Unidos. Mas a coisa é bem mais grave do que isso.

Existem no mundo islâmico fortes resistências perante o programa das vacinação. Lógico, as vacinas na maior parte dos casos são produzida por empresas ocidentais.

O caso de Nigéria

No Outono de 2003, um grupo de imam no norte do estado de Kano, na Nigéria (área onde havia na altura a maior taxa de transmissão de poliomielite) começou a pregar contra a vacinação anti-polio, afirmando que não de um acto de protecção se tratava mas duma campanha para esterilizar e matar as crianças muçulmanas.
 
O Presidente do Supremo Conselho da Nigéria disse à BBC: “Há fortes razões para acreditar que a vacina contra a poliomielite foi contaminada com produtos anti-fertilidade, com o vírus que causa o HIV/AIDS, e com o Vírus Simian que poderia causar câncer”.

Os rumores espalharam-se como fogo e outros políticos aproveitaram a oportunidade para fins políticos, como um acordo pós-eleitoral de partilha de poder entre os muçulmanos do Norte e o Sul cristão.  

Três estados de maioria muçulmana, Kano, Kaduna e Zamfara, pararam completamente as vacinações contra a poliomielite.  

A aceitação da vacina no resto do País declinou tão rapidamente que o governo nacional foi forçado a agir. 
Ordenou testes sobre a vacina, formou uma comissão especial para visitar os laboratórios onde as tais vacinas eram preparadas e a Organização Mundial de Saúde convocou uma reunião de emergência.

Entretanto, todavia, a poliomielite alastrou.
No final de 2003, quando o boicote tinha começado, havia apenas 784 casos conhecidos de pólio em todo o mundo.  
No final de 2004, havia 793 novos casos na Nigéria. 

A doença espalhou-se para além das fronteiras da Nigéria e infectou Benin, Botswana, Burkina Faso, Camarões, Chade, República Central Africano, Cote d’Ivoire, Etiópia, Gana, Guiné, Mali, Sudão e Togo. 

Rastos de poliomielite do tipo “nigeriano” têm aparecido no Yemen, que abriga o maior porto no Mar Vermelho e Arábia Saudita, pondo em risco os milhões de peregrinos que chegam ao País para o Hajj (a peregrinação islâmica à Meca) 

Isso foi conseguido apenas por “vozes” infundadas. Agora estamos perante mais do que isso: um facto.
E as vacinas voltam a estar no meio da tormenta. Não apenas as “más” vacinas, mas todas elas.

Olha quem fala…

Diz o Dr. Unni Karunakara, presidente internacional de MSF, a Médicos Sem Fronteiras. 

A mera sugestão de que a prestação de cuidados médicos tenha sido feita sob falsos pretextos irá danificar a percepção pública do verdadeiro propósito da actividade médica.

O que é verdade. 
Como não deixa de ser verdade que Médicos Sem Fronteiras foi envolvido no tráfego de órgãos humanos durante a guerra do Kossovo…   

Ipse dixit.

Fontes: Diário de Notícias, Wired, The Guardian, The New York Times