A queda de casa Murdoch e o controle mediático

Rupert Murdoch

O caso Murdoch.

O magnate da informação, o simpático australiano Rupert Murdoch, dono dum império com bem poucos limites, está em crise. Não económica.

O problema é que um dos seus jornais, o News of the World, fez tudo o que é vivamente desaconselhado fazer: escutas ilegais, chantagens, corrupção.

Objectivo? Vender mais cópias.

Uma tristeza.

Vamos gastar duas palavras acerca do assunto?
Acho que sim. Afinal é um bonito retrato do mundo dos media.

Rebecca Brooks algemada, James Murdoch investigado, Rupert Murdoch no parlamento britânico, o chefe do News of the World algemado, o chefe da Scotland Yard demitido: o escândalo da News Corp, lançado pela News International (uma divisão da News Corp) é explodido.

A News Corp está a viver o seu momento mais difícil.
Ou talvez estamos apenas a testemunhar a queda dum outro império, o império da News Corp de Rupert Murdoch.

O império News Corp

O império controla quase 40% dos jornais britânicos, incluindo The Sun e o Times, e uma enorme coleção de revistas em todo o mundo, especialmente no Reino Unido, EUA e Austrália: a plataforma SKY, os canais National Geographic, Fox, 20th, MySpace (vendida nos últimos tempos com fortes perdas), IGN, e muito, muito mais.

Todo o mundo lembra dos Simpsons, de Avatar, e da Fox News, primeira nos Estados Unidos que declarou George Bush como Presidente enquanto as eleições ainda não tinham acabado (mas a Fox sabia).

Poucos sabem que BabyTV também pertence à News Corp, um canal de televisão declaradamente dedicado ao público entre 0 e 3 anos, com todas as aberrações que resultam quando se dá a luz a um canal de televisão para hipnotizar as crianças de 0 até 3 anos.

Canal desenvolvido por uma equipa inteiramente israelita, dito como curiosidade.

É, portanto, o grupo editorial maior do mundo, com um volume de negócios que ultrapassa o PIB de muitas nações. Tudo isso, com processos empresariais estruturados em perfeita sincronia, uma máquina de guerra das mais eficientes do mundo.

Como manter em plena eficiência uma máquina deste tamanho? O escândalo destes dias explica como: corrupção, chantagens, pressões, que envolvem os mais altos níveis da política, dos media e da polícia no Reino Unido.

A tampa

Tudo começa quando a tampa saltar.
No passado dia 4 de Julho, o Guardian, que há muito denuncia o sistema de corrupção e subornos da News Corp, mostra que em 2002 o telefone de Milly Dowler foi espiado ilegalmente pelos repórteres de News of the World, nos dias imediatamente após o seu sequestro em 2002. A estudante acabou morta.

Já em 2009 o Guardian tinha levantado a questão, denunciando o sistema de corrupção, de interceptações, a pressão política, a intimidação e a perigosa conspiração na Inglaterra, bem como inúmeros casos de “acobertamento” postos em prática pelas eminências pardas da News Corp, incluindo James Murdoch.
Mas na altura as denúncias tinham caído no vazio.

Andy Coulson

Desta vez algo acontece.
Quatro dias mais tarde, Andy Coulson, antigo porta-voz do primeiro-ministro David Cameron e ex-editor do News of the World entre 2003 e 2007, é preso pela polícia e interrogado durante nove horas com acusações de corrupção e escutas ilegais feitas pelo jornal sob a sua direção.

Cameron diz que pela nomeação de Coulson como porta-voz assume “total responsabilidade”.

Cerca de 8 dias depois, Rupert Murdoch e James Murdoch estão no Parlamento em Londres, perante a comissão de inquérito criada especificamente para lidar com o incidente, para dar a sua versão dos factos.

Para ter uma ideia do tamanho do escândalo, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown disse à BBC que os jornais de propriedade do magnata australiano Rupert Murdoch têm usado “meios criminais'”, dizendo que estava “chocado” com o escândalo das escutas telefónicas ilegais; escândalo que depois investiu também o Sunday Times e The Sun, culpados, segundo Scotland Yard, de ter espiado celebridades, incluindo o ex-primeiro-ministro britânico e uma dúzia de membros da família real.

A ruiva e a Comissão

Na prática, a News International interceptava todos aqueles com alguma importância no Reino Unido. Cantores, actores, políticos, mesmo o primeiro-ministro, ministros e membros do parlamento e da família real.

Tudo para poder publicar na primeira página as últimas fofocas ou para ameaçar as carreiras.

Assim, agora podemos ouvir na TV um membro do Parlamento, Tom Watson, que diz que sim, todos nós sabíamos, ministros e ex-ministros, de serem interceptados por eles, mas ninguém falava “porque assustados e intimidados pela News International”.

Rebecca Brooks

E Adam Prince, outro deputado, admite que a Comissão Cultural da qual ele era membro, e que tinha de investigar os telefonemas interceptados, quando teve de interrogar a vermelha e hebraica Rebeca Brooks, evitou “colocar Rebeca Brooks numa situação apertada por causa do medo de que os jornalistas dela pudessem investigar as próprias vidas privadas.

“Próprias” dos membros da Comissão, óbvio.

Por outro lado, outro ex-líder trabalhista confessa que na época do governo de Blair “Murdoch era a figura mais poderosa do governo depois de Tony Blair e Gordon Brown. Os diretores de Murdoch eram o equivalente dos apparatchniks (importantes funcionários de partido) duma ditadura “.

Medo. Intimidação. Ditadura. Palavras pesadas no País onde a ideologia liberal ​​nasceu e cresceu.

Resume o professor Steve Barnett, da Universidade de Oxford:
“O abjecto fracasso do parlamento e do governo contra Murdoch é a coisa mais perturbadora de todas “.

As dimensões do escândalo

Tony Blair

Eis que aparecem as reais dimensões do escândalo.

Não são apenas os 30 mil euros de suborno para a polícia, não apenas a pressão para “afogar” as investigações: é a perfeita realização de todo um sistema de corrupção e conivência estruturado essencialmente para manter o governo e o parlamento sob contínua chantagem.

E nesta altura temos de reflectir, e muito, acerca da figura de Tony Blair.

O ex-primeiro ministro, de facto, deve grande parte do seu destino político ao apoio firme e sistemático de Murdoch. Foi com  Blair que o sistema da News Corp prosperou, e ao acabar o domínio do partido de Blair, eis que acaba o império de Murdoch também.

Uma simples coincidência? Se o Leitor acreditar nas coincidências então sim, foi o acaso.
Para os outros, eu incluído: não podemos esquecer as outras obras-primas de Blair, como a campanha mediática para convencer da existência das armas de destruição maciça de Saddam Hussein, por exemplo.
E eis que tudo começa a ter um sentido.

O sistema global News Corp

E enquanto David Beckham e Paul McCartney agora fazem queixas porque sabiam de serem interceptados, nos Estados Unidos também Jude Law e alguns familiares das vítimas do 11 de Setembro foram ilegalmente interceptadas. E o FBI abriu uma investigação.

Ou desejamos pensar que a News Corp, império global, operava de forma ilegal apenas no Reino Unido?

Na verdade não há nada de novo: controle dos media e capacidade de exercer um forte poder e, em última instância, afectar as escolhas de uma inteira nação.

Como dito, nada de particularmente novo, excepto que agora saltou a tampa da News Corp. Ou talvez é apenas mais um pedaço frágil e instável que está a ceder, no crepúsculo duma sociedade que já não fica junta nem com o arame.

A morte não suspeita

Sean Hoare

Última notícia: Sean Hoare, ex cronista de News of the World que tinha feito “saltar a tampa” News Corp nas semanas passadas, o homem que tinha falado com o New York Times acerca de Andy Coulson (o ex porta-voz do primeiro ministro David Cameron), foi encontrado morto ontem na sua casa.

Segundo Scotland Yard, a morte é até agora julgada sem explicação mas não suspeita.

Vamos ver…ataque cardíaco? Não é difícil de simular sem deixar rastos.
Ou overdose: o jornalista tinha tido problemas com a droga no passado, simular uma overdose é ainda mais simples.

Quanto ao facto de ser uma morte “não suspeita”: concordo, não é suspeita. Todos sabemos porque Hoare foi morto.

Ipse dixit.

Fontes: Informazione Scorretta, Diário de Notícias

3 Replies to “A queda de casa Murdoch e o controle mediático”

  1. Desgraçados…

    Fazem qualquer coisa para conseguir uma manchete, uma matéria. Para eles é aquela coisa: "o fim não justifica o meio"

    E o pior, além de fazer tudo isso para ter "conteúdo" a passar, são totalmente tendenciosos e muitas vezes mentirosos e exagerados, talvez motivados por outro objetivo ou ordem superior.

  2. Olá Leonardo! Olá Observer!

    É complicado. É difícil encontrar um diário ou uma fonte de informação qualquer de confiança. Todos querem o "scoop", a exclusiva": todos querem vender mais, lucrar mais.

    A história de Murdoch ensina outra coisa também: estamso perante um conjunto tóxico, feito de jornalismo, política, chantagem, manipulação.

    De facto, é assustador…

    Abraço!!!

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: