Site icon

Coisas de mulheres

Falamos de moda?
E porque não? Afinal sempre sociedade é.

A revista Elle propõe este completo para mulheres. Gosto. Da modelo entendo, parabéns aos pais pelo óptimo trabalho; mas a roupa?

A t-shirt cheia de buracos, que minha mãe deitaria no lixo ralhando pelo facto de ter um filho que tem idade para ter juízo e ainda veste camisolas arruinadas que depois os vizinhos o que pensam “olha, nem o dinheiro das camisolas têm” e passamos uma vergonha, na verdade é um objecto muito fino e custa o equivalente a 411 Euros.

Pouco? Sim, mas é pelo facto de pertencer à colecção 2010: no ano passado custava 1.624 Dólares, mais ou menos 1.150 Euros.

Agora, tentamos ser sérios: 411 Euros uma camisola que estava na moda no ano passado? Mas que é isso?


Mas Elle não tem apenas roupa velha: bem pelo contrário, a revista realça a última moda.
Observem a seguinte imagem:

Estas não são três deficientes quaisquer: são deficientes que, além de terem consumido ácidos há pouco, vestem um turbante de 300 Euros. Sim, aquela coisa peluda na cabeça, uma criação de Steven Meisel, génio que trabalha para Prada.

E a galeria continua:

Mesa estilo “Ficção Cientifica anos ’60”, em puro acrílico natural, 450 Dólares (cada, não o conjunto); banco de jardim modelo “estava a construi-lo depois tocou o telemóvel e esqueci de acabar”, 3.470 Dólares.

Mesa de futebol modelo “Gay Pride”, 4.365 Dólares; sapato “gente fina, vê-se logo”, 775 Dólares.

Cinto modelo “Normal, apenas caro”, 375 Dólares; T-Shirt “Nem na pior loja chinesa”, 100 Dólares;

Vestido “Tenho alguns problemas”, 1.990 Dólares; vestido “Vou um segundo ao mercado para comprar o peixe”, 2.350 Dólares.

Agora: cada um faz do próprio dinheiro o que mais lhe apetecer. Mas não estamos a perder de vista algo? Quando gastarmos 411 Euros para uma t-shirt cheia de buracos ou 450 Dólares numa mesa de plástico (objecto que terá um custo de produção que nem chega aos 5 Dólares) não surgem algumas dúvidas?

Aqui não é questão de “arte”: este são objectos vendidos na internet, em larga escala, não há exclusividade, a não ser no preço.

E mais: as mulheres não têm nada a dizer? Tratadas desta forma, como autênticos seres sem cérebro, sempre atrás da última moda, boas só para gastar dinheiro em futilidades?

Verdade, também há maneiras para os homens deitarem dinheiro no lixo, mas o número de revistas dedicadas às mulheres não tem comparação: porquê?

Ipse dixit.

Fonte: Elle, Tra Cielo e Terra