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Da Europa e de outras anedotas

E porque não fazer o ponto da situação da Europa? Eh? Eh? Eh?

Boa ideia, vamos fazer o ponto da situação a Europa.

A situação não é boa. Aliás, é mesmo má. Mas quem segue este blog há alguns tempos não terá ficado surpreendido: tudo segundo os planos.

Para quem, pelo contrário, descobriu Informação Incorrecta só nos últimos tempos (e percebeu ter gasto a sua vida inutilmente até hoje), eis um breve resumo.

Não um resumo dos acontecimentos: isso é inútil. Grécia falida, Irlanda falida, Portugal falido, Espanha e Italia em coma, Moody’s que faz downgrade um dia sim e outro também, as declarações, as reuniões. Muita cena, mas bem pouca substância.

Exemplos?

O Fundo Monetário promove a Italia: bem a redução do deficit e o empenho.

A Italia está a fundar e o FMI dá os parabéns. Mais: podem substituir o termo “Italia” com Grécia” para obter as mesmas declarações de Março e Abril do ano passado, antes da Atenas ser obrigada a pedir “ajuda”.

UE prepara cimeira extraordinária para sexta-feira
(Diários de Notícias)

E as duas reuniões de ontem serviram para quê? Para dar os parabéns uns aos outros? Os mercados esperam decisões e as Mentes Pensantes de Bruxelas conseguem acordar-se só acerca das datas das próxima reuniões? 

Presidente do Conselho Europeu já reuniu com Cavaco
(Diário de Notícias)

Eis outra reunião, desta vez entre um membro do grupo Bilderberg e o Presidente amigos dos bancos: partilham a mesma visão da economia, um telefonema teria sido mais de que suficiente.

Depois temos as frases históricas: 

Nenhum país estará em risco se a zona euro e a União Europeia estiverem unidas, disse hoje o ministro luxemburguês das Finanças, Luc Frieden, à entrada para o conselho de ministros das Finanças. (Expresso

Façam o favor de apontar esta sentença e por-la bem em vista, perto da mesa de cabeceira se possível. De manhã leiam uma vez (é suficiente) para lembrar um dos motivos para o qual é preciso mudar.

Cortinas de fumo, espalhadas para que não seja possível ver os verdadeiros problemas. Já falámos deles, por isso o seguinte é apenas um curto resumo.

A União Europeia não existe.

A União Europeia como realidade política não existe.

Todavia, se alguém decidir de declarar uma guerra (como no caso do marido de Carla Bruni e a Líbia), todos ficamos envolvidos.

Doutro lado nem a Nato consegue desenvolver o papel dum tempo: sem direcção política europeia, com os Estados Unidos que têm bem outros problemas, o Reino Unido que está na Nato, mas apenas com um pé na União).

Os banqueiros acima de tudo e todos.

O poder dos banqueiros não conhece limites. Governos, Estados, políticos de qualquer País dobram-se perante as instituições bancárias que agora, de facto, decidem as directivas das políticas nacionais.

De forma directa (caso dos Países sob custodia do FMI), ou indirecta. Podem obrigar Países a vender o próprio património, até as próprias terras (caso da Grécia).

Se Deus existe deve ser um banqueiro.

A moeda sem sentido

O Euro é uma aberração. Nunca na história do Homem, um amoeda tinha nascido antes do Estado.

Resultado: Países tão diferentes por número de habitantes, peso económico, ideias políticas, religiosas, educação, até idioma, usam o Euro que outra coisa não é a não ser um Marco alemão disfarçado. E a Alemanha até agora funcionou bem com o Euro, sendo a verdadeira (é única) leadership neste campo.

Mas os tempos estão a mudar: nesta União Europeia, os Países endividados emprestam o dinheiro uns aos outros, como se isso fosse normal e com os aplausos do FMI e do Banco Central Europeu.
Pormenor interessante: muito do dinheiro emprestado pertence, na realidade, aos bancos alemães que detêm grande parte das dívidas dos Países em dificuldades.
Até quando será sustentável esta situação?
O que aconteceria se apenas um dos Países em crise entrasse em bancarrota (oficial, pois a não oficial já foi alcançada)?

Políticos e pensadores procuram-se

Já não há: não há políticos nem pensadores.

Os políticos foram substituídos por yes-men, burocratas que têm como objectivo executar as ordens do poder económico. Em Portugal temos os actuais Primeiro Ministro e Presidente da República que são excelentes exemplos.

Os pensadores, simplesmente, desapareceram. As vozes que podemos ouvir são as dos banqueiros ou dos economistas, nada mais. Esperar num pensamentos alternativos, nestas condições, é impossível.

A civilização europeia morreu.

Os media-megafones

Os meios de informação estão a desenvolver um papel importante. Quem pensa que exista uma real censura erra, e erra de forma profunda: não há censura nenhuma e isso é ainda mais trágico.

Jornais, rádio, televisões, todos relatam o que fizeram hoje os políticos, o que pensaram os economistas, as profundas observações dos banqueiros, as determinantes decisões (mas quais???) de Bruxelas.

Ninguém, mas mesmo ninguém tenta perceber ou explicar.

Assim 500 milhões de cidadãos do Velho Continente assistem ao desaparecimento da própria soberania nacional, dos patrimónios acumulados ao longo de décadas ou até séculos; vêm as próprias poupanças desaparecerem, o trabalho cada vez mais precário, o nível de vida baixar, um futuro (o nosso e o das próximas gerações) em tintas pretas. Tudo isso com a máxima normalidade, graças em primeiro lugar à obra dos media.

Sem o silêncio da informação não teria sido possível chegar até este ponto: uma aberração como Tratado de Lisboa, por exemplo, não teria sido possível.
Lembram do caso da Irlanda? Os cidadãos votaram “não” ao tratado e logo começou uma campanha nunca vista antes: mas quem são estes irlandeses, mas é justo que um País tão pequeno possa decidir por conta de todos, etc. etc. Até que voltaram a votar e disseram “sim”.

A informação hoje funciona desta forma.

Esta é a situação.
Pelo que é fácil perceber que concentrar a atenção nas declarações ou nas falsas decisões de Bruxelas ou de qualquer outro governo periférico faz muito pouco sentido.

Soluções?

Sim, três.

1. Se a decisão for de continuar com a anedota da Zona Euro, então a única solução é instituir a dívida comum. Esta Neurozona é uma união ou não? Se sim, então que a dívida dos vários Países seja considerada como a dívida de todos, como a dívida da União. Porque não podemos continuar com uma moeda para todos e todos com as próprias dívidas.

2. Criar duas Neurozonas, uma para os Países “em forma” (como a Alemanha), outra para os Países “desgraçados” (Grécia, Portugal, Espanha, Italia, Irlanda, Bélgica…).

3. Aproveitar o momento para refundar tudo de forma séria e rigorosa: basta de Euro, basta de BCE e começamos com o criar uma Federação digna deste nome.

Escolham Uma das três, mas escolham em vez de gastar tempo, o nosso tempo, em cortinas de fumo.

Como sempre, o Leitor é que sabe.
Ah, não: neste caso é Bruxelas.

Ipse dixit.