Site icon

Ser patriota, ser Português

Um post dedicado ao País onde moro. Um País do qual gosto, e muito, mas que enfrenta enormes dificuldades sem que isso consiga despertar uma qualquer reacção.

Uma ocasião para um pouco de auto-crítica? Fazer o ponto da situação para tentar encontrar uma solução?
Para alguns não.


Diz o Anónimo ao comentar o artigo “O que é o rating”.

Apesar de Portugal, Grécia e Irlanda precisarem de ajuda do FMI e BCE, não quer dizer que os três estejam em situações totalmente iguais. Por favor, não seja mais um especulador! Não faça esse tipo de comparações, sem pelo menos conhecer as realidades de cada país.

Esperemos que o Brasil não volte a passar o que passou e que nunca mais precise do FMI.

Esperemos também que nunca sejam alvo de especuladores. Porque se um dia forem, irá sentir o que eu e qualquer Português patriota sente neste momento.

Esta sua postagem, foi um bocado azeda para qualquer Português.

Antes demais, obrigado Anónimo por participar: como sublinhei várias vezes, os comentários mais úteis para qualquer discussão são aqueles que expõem um ponto de vista diferente do meu.

E, como também escrevi, aqui os Leitores podem encontrar não “A Verdade”, mas apenas uma verdade, a minha, que pode estar totalmente errada. Isso sem contar as dúvidas, que são muito mais numerosas do que as alegadas “verdades” apresentadas.

Dito isso, gostaria de realçar alguns pontos.

Eu nunca disse que a situação de Portugal, Grécia e Irlanda estejam iguais: o que eu disse é que entre as três, a Irlanda parece-me o País que terá menos dificuldades para sair da péssima situação na qual se encontra. Um degrau abaixo estão Portugal e a Grécia.

Existe uma razão para isso, e passo a explicar.
Contrariamente aos casos da Grécia e de Portugal, a Irlanda não entrou em crise apenas por causa duma economia com trend negativo.

Lembramos que pouco antes de pedir a ajuda do FMI, o Primeiro Ministro de Dublin gastou o equivalente de um quinto do PIB (Produto Interno Bruto) do País para salvar os bancos privados. Um quinto, duma vez todas, e todo para os privados.

Não é difícil imaginar as consequências duma tal acção; e pouco depois a Irlanda pediu a “ajuda” do FMI e do BCE.

Repare que nada disso aconteceu na Grécia ou em Portugal.
Em Lisboa houve o caso do Banco Privado de Negócios, mas nada de comparável em termos de volumes.

O que tramou Atenas e Lisboa foi algo de muito mais profundo: a estrutura do País, que é insustentável.
Grécia e Portugal não conseguem manter o nível de vida até aqui suportado e, ao mesmo tempo, pagar as dívidas (que existem e não são poucas) com relativos juros.

Um ataque dos especuladores? Sim, sem dúvida. Mas faço uma pergunta: perante um grupo de antílopes, quais ataca o leão? Resposta: as mais jovens ou as mais fracas.
É exactamente isso que está a acontecer.

As agências de rating são más e oferecem um péssimo serviço (mas atenção: o serviço era aceite até ontem, mesmo em Portugal, quando já era péssimo, como no caso da Grécia), mas não criam as situações, limitam-se a desfruta-las.

“Não faça esse tipo de comparações, sem pelo menos conhecer as realidades de cada País.” é uma boa observação, mas que entende com “conhecer a realidade”? Pegar num avião, ir até Atenas e pedir os livros contabilísticos? Depois fazer o mesmo em Dublin?

Há uma maneira mais simples: ler e comparar os dados, oficiais e não. É exactamente o que estou a fazer desde pelo menos um ano em companhia dos Leitores. Pois o Leitor não pode, com certeza, considerar como “realidade” as notícias que passam na televisão.

Esta é a realidade oferecida pelos media. Ligeiramente, apenas ligeiramente diferente dos acontecimentos reais.
E não podemos esquecer as vozes anteriores, segundo as quais Portugal não teria seguido o destino da Grécia, nunca teria pedido uma ajuda, pois os dois Países eram incomparáveis.
Ou já esquecemos disso?

Vice-versa. que dizem os dados?
Os dados dizem que o PIB Paridade por Poder de Compra de Portugal é o nº 49 no Mundo; atrás do Bangladesh (44º), atrás da Roménia (47º), atrás da Argélia (48º). A Grécia ocupa o 38 º lugar.  (Dados oficiais do FMI, podem ser consultado na Wikipedia).

Os dados dizem que o PIB Per Capita de Portugal é o pior dos Países Ocidentais Europeus, ocupando a posição nº 32, enquanto a Grécia, a tão pior Grécia, ocupa a posição nº 27 e a Irlanda a nº 6 do Mundo (Dados do FMI, podem ser consultados na Wikipedia também neste caso).

Isso para não falar do PIB nominal, acerca do qual é melhor calar um piedoso pano.

Os media oferecem palavras, eu ofereço dados. Cabe ao Leitor escolher a versão mais querida.

Mas se o Leitor espera que eu entre no circo mainstream, que comece a dizer que sim, é uma vergonha, pois Portugal não tem nada a ver com a Grécia, esta é uma grande injustiça, os Portugueses têm tudo para sair desta situação sozinhos, e que sim, as agência de rating mentem, etc. etc, então está redondamente enganado: não vou fazer isso.
A função deste blogue não é desfrutar as desgraças nacionais para fazer populismo e somar leitores.

O que vou continuar a fazer é o que sempre fiz: ler os dados, comparar e dizer uma coisa tão óbvia mas que ninguém quer lembrar nestes dias de ataque contra o solo sagrado: Portugal não produz.

O resto é conversa.

Mas o Leitor acha normal que a primeira empresa em Portugal, aquela que sozinha contribui para 1 ponto percentual do PIB (sozinha!!!), afinal seja estrangeira (Autoeuropa, do Grupo Volkswagen)?

Mas o leitor acha normal que quando houver uma empresa que exporta, as três televisões enviem jornalistas para fazer reportagens, apresentando tudo como “um caso de sucesso”? Eu nunca, mas mesmo nunca vi uma reportagem deste tipo em outros Países Ocidentais.

Há alguém capaz de dizer-me como e porque Portugal é tão diferente da Grécia? E porque, então, Lisboa está a seguir os mesmos passos de Atenas, apenas com um ano de diferencia?

O Leitor fica ofendido ao lembrar estes factos? (Depois seria interessante falar acerca deste aspecto: ficar ofendido de quê? Mas não vamos gastar outro tempo).

Há uma solução extremamente simples: não visitar este blog e todos os outros que tentam não cair na retórica dos media. Esqueçam Informação Incorrecta, esqueçam a informação alternativa e o Mundo, de repente, parecerá um lugar maravilhoso: os bons dum lado, os maus do outro, tudo muito simples, mais directo, nem são preciso esforços. 

“Esperemos também que nunca sejam alvo de especuladores. Porque se um dia forem, irá sentir o que eu e qualquer Português patriota sente neste momento.”

Eu, muito sinceramente, (e peço desculpa pela crueza das palavras) estou nas tintas acerca do que os Portugueses sentem: estou interessado no que os Portugueses fazem. E o que fizeram foi entregar o País nas mão da mesma classe política que arruinou Portugal.

O Leitor nem imagina quanto eu gostaria de ver uma reacção ditada pelo orgulho: um mínimo de amor próprio, um acesso de raiva que exija uma verdadeira mudança e respeito pelo País. Nem imagina. E por várias razões, não apenas porque afinal moro em Portugal e gosto deste País.

“Esta sua postagem, foi um bocado azeda para qualquer Português.”

Meu amigo: deveria haver muitas, mas mesmo muitas postagens como e bem pior do que esta, e não apenas no meu blog.
O que é preciso fazer para que os Portugueses despertem?
O que é preciso para que voltem a ser o que um tempo foram?
O que é preciso fazer para que o orgulho regresse aos corações deste Povo e para que este decida ser o dono do seu próprio destino?

Entretanto permito-me uma sugestão: que tal ser um pouco menos patriota nas palavras e um pouco mais nos factos?

Porque de patriotas a palavras há muitos, alguns até cantam:

(eheheh…Toy é mesmo um golpe baixo…)

É assim que desejamos ser?
Eu acho que este País merece um pouco mais do que isso.

E ralhar com o blogueiro porque este relata os dados que todos podem ver, não me parece uma estrada que possa dar grandes frutos.

Caro Anónimo, tem a certeza que seja este patriotismo a palavras a melhor solução? Não passar para “fora” a imagem dum País com problemas reais, é esta a nossa principal preocupação? Ou acordar, falar, tentar perceber, debater, procurar alternativas, fazer?

Como sempre, o Leitor é que sabe.

Um abraço,

Max