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A culpa é de Moody’s.

A notícia do dia no mundo económico é o downgrade de Portugal.

Na prática, Moody’s afirma que hoje a dívida pública de Lisboa é lixo.
Olha a novidade.

Mas gostem ou não, este é o novo passatempo neste bairro para o dia de hoje.

Até o Presidente da República, Aníbal Catatónico Silva, acordou para dizer as evidências de costume:

O Presidente da República considera “não haver a mínima justificação” para o corte de rating a Portugal por parte da agência de notação financeira Moody’s e defende uma “resposta europeia” nesta matéria, disse à Lusa fonte oficial de Belém. […]
O Presidente da República, segundo a mesma fonte, “congratula-se com a condenação da atitude da agência de notação financeira Moody’s por parte da União Europeia, de instituições europeias e internacionais e de vários governos europeus”.
Cavaco Silva defende ainda que “as questões em torno da avaliação do risco e da notação financeira dos Estados-Membros da União Europeia devem merecer uma resposta europeia”.

…zzzzzzz…eh? Ah, sim: palavras importantes, que ficarão nos livros de História, sem dúvida.
Como as palavras que o mesmo Presidente tinha proferido em 2010:

O Presidente da República disse esta terça-feira não valer a pena «recriminar» as agências de rating mesmo que se possa sentir alguma «injustiça», considerando que Portugal deve trabalhar para depender cada vez menos no financiamento externo.

«Não vale a pena recriminar as agências de rating. O que nós devemos fazer é o nosso trabalho para depender cada vez menos das necessidades de financiamento externo», afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, citado pela Lusa, em declarações aos jornalistas a saída da escola básica do primeiro ciclo e jardim de infância da Serra das Minas, no concelho de Sintra.


Eh sim, outros tempos: na altura como Primeiro Ministro não havia um colega da partido.
Ou talvez tenha sido o fresquinho ar de Sintra, quem sabe.

Mas não é apenas o Presidente que refila: todos os homens da hierarquia político-económica fazem quadrado contra o ataque de Moody’s. Até na Europa. Todos contra Moody’s, o novo inimigo.

Porque o inimigo é Moody’s. Não é uma dívida podre, um sistema que não funciona, um País que não produz.
É Moody’s.

E não é o facto deste governo (mas com qualquer outro a história teria sido a mesma) que assinou o pacto com o Diabo (FMI) e que agora sufocará ulteriormente a economia, provocando recessão.
É Moody’s.

Não é uma classe política que faliu completamente, incapaz de prever as consequências de acções insanas, como a emissão de dívida atrás dívida (a propósito: será que o bom Presidente lembra ainda o período 1985-1995, quando era Primeiro Ministro, e o total da dívida que emitiu?).
É Moody’s.

Não são as instituições públicas, verdadeiras caravanas que recolhem de tudo, pessoas que trabalham e pessoas que têm como único objectivo evitar o trabalho e serem pagos na mesma.
É Moody’s.

Não é a corrupção, não são os gestores públicos com ordenados ou reformas de dezenas milhares de Euros.
É Moody’s.

Não é uma total falta de organização e responsabilidades a qualquer nível, desde a pequena freguesia até o maior dos hospitais.
É Moody’s.

Não é um País que tem um índice de alfabetização atrás de Venezuela, Romenia, Mongolia, Grécia, Macedonia, Uzbequistão, Bosnia Erzegovina, Servia, Costa Rica, Ilhas Barbados, Bielorrússia, Ucrânia, Arménia, Cazaquistão, Turcomenistão, Hungria, Quirguistão, Polónia, Moldávia, Tonga, Albânia, Guiana, Bulgária e outros ainda (dados das Nações Unidas).
É Moody’s.

Não é um País onde não passa mês sem que haja um dia festivo e relativa “tolerância de ponto”.
É Moody’s.

E seria possível continuar. Mas já percebemos: o problema de Portugal tem um nome, e este nome é Moody’s.
Uma agência que em bom italiano é definida como “zoccola” (não, não vou traduzir…), tal como as colegas delas, pois é claro o papel que é tudo mas não inocente.

A única minha dúvida é a seguinte: onde estavam todas as pessoas revoltadas hoje, que questionam a legalidade desta instituição, quando esta começou as próprias avaliações?
É que já vão uns aninhos e não lembro de ter ouvido protestos…

Onde estavam estas pessoas quando a mesma Moody´s começou a disparar contra a Grécia e a Irlanda? Não lembro de toda esta indignação na altura, mas pode ser uma falta da minha memória…

Mas não importa: em qualquer caso, a culpa é de Moody’s, não esqueçam.

Ipse dixit.

Fontes: Expresso, Agência Financeira,