GEAB 56 Especial Verão: Crise sistémica global

E vamos com o novo número do Geab.
Antes o texto original, a seguir algumas necessárias considerações.

Boa leitura!

Último aviso antes do choque do Outono de 2011, 
quando 15.000 milhões de Dólares de activos financeiros
vão desaparecer

Em 15 de Dezembro de 2010, o GEAB nº 50 antecipou a explosão da dívida pública Ocidental no segundo semestre de 2011. Em seguida, descreveu um processo que começaria com a crise da dívida pública europeia e que de seguida teria atacado o coração do sistema financeiro global, a dívida federal dos Estados Unidos.

É mesmo neste ponto que estamos, no início do segundo semestre de 2011, com a economia global totalmente à deriva, um sistema monetário cada vez mais instável  e os centros financeiros mundiais numa situação desesperada, e tudo isto apesar dos milhares de milhões de dinheiro público que foram investidos para evitar exatamente esse tipo de situação.

A insolvência do sistema financeiro mundial, em primeiro lugar do sistema financeiro ocidental, volta como protagonista, depois de pouco mais de um ano de cosmética política, destinada a enterrar este problema fundamental sob montanhas de dinheiro.


Tínhamos estimado, em 2009, que no mundo havia cerca de 30.000.000.000.000 (3 com mais 13 zero) de Dólares de activos fantasma. Quase metade desapareceu em fumo nos seis meses entre Setembro de 2008 e Março de 2009. Segundo a nossa equipa, será agora a outra metade, os resíduos 15.000.000.000.000 de Dólares em activos fantasma que, simplesmente, desaparecerão entre Julho de 2011 e Janeiro de 2012.

E desta vez será também envolvida a dívida pública, ao contrário dos anos 2008/2009 em que tinham sido em maioria entidades privadas a serem afectadas.
Para medir a magnitude do terramoto que está a chegar, é útil saber que os bancos dos EUA estão a começar a reduzir o uso de T-Bonds (Títulos de Estado) dos Estados Unidos, para garantir as próprias transações, por causa do medo dos riscos enfrentados pela cada vez maior dívida pública dos EUA.

Para os jogadores do mundo financeiro, o choque do Outono de 2011 será, literalmente, como ter a areia movediça sob os pés, pois a cair drasticamente é o próprio fundamento do sistema financeiro global, os T-Bonds dos Estados Unidos.

Nesta edição discutimos os dois aspectos mais perigosos do choque do Outono de 2011, nomeadamente:

  • o mecanismo de detonação da dívida pública europeia,
  • o processo de explosão da bomba dos EUA, em matéria de dívida pública.

Ao mesmo tempo, no reequilíbrio das relações do poder global, sob forte aceleração, introduzimos a predição dum processo geopolítico importante, o desenvolvimento de uma cúpula Euro-BRICS até 2014.

Finalmente, as nossas recomendações incidirão sobre os meios adequados para não ficar envolvido nesses 15.000.000.000.000 de Dólares fantasma, que irão desaparecer nos próximos meses, com uma menção especial para o desenvolvimento do imobiliário na Europa, cujo colapso programado para 2015 terá início de facto a partir já de 2012.

Nesta edição do GEAB, inserimos uma parte da previsão quanto ao mecanismo de explosão da dívida pública europeia.

O mecanismo de explosão da dívida pública europeia 

Os agentes financeiros Anglo-Saxónicos têm desempenhado o papel de aprendiz de feiticeiro no último ano e meio, e a manchete do jornal Financial Times, em Dezembro de 2009, rapidamente transformou a “crise grega” na “crise do Euro”. Não vamos gastar mais tempo sobre os acontecimentos desta enorme fraude, orquestrada pela City de Londres e Wall Street, porque durante todo este período temos dedicado muitas páginas ao assunto.

Basta dizer que, 18 meses mais tarde, o Euro vai bem, enquanto o Dólar continua a sua corrida para o fundo, contra as principais moedas do mundo, e que todos aqueles que apostaram no colapso da Zona Euro perderam um monte de dinheiro.

Como antecipámos, a crise favorece o surgimento dum novo “soberano”, Eurolândia, que agora permite que a  Zona Euro esteja muito mais preparada do que Japão, Estados Unidos ou Reino Unido ao choque de Outono de 2011… apesar da mesma Zona Euro, com muita relutância, acabar sendo o detonador.

O “bombardeio” (dado que temos de chamar as coisas com o nome delas), intercalado com intervalos de várias semanas, que teve como alvo a Zona Euro durante este período, teve três efeitos consecutivos principais, dois deles bem longe dos resultados esperados por Wall Street e a City:

1. Numa primeira fase (Dezembro de 2009 – Maio 2010), tem removido o senso de invulnerabilidade da moeda europeia, que se tinha formado em 2007/2008, introduzindo dúvidas sobre a sua durabilidade e acerca da ideia de que o Euro fosse em perspectiva a alternativa natural ao Dólar dos EUA (e também o sucessor dele).

2. Então (Junho de 2010 – Março de 2011), levou os líderes da Zona Euro a começar a trabalhar com a velocidade máxima em todas as medidas de salvaguarda, protecção e fortalecimento do Euro (medidas que deveriam ter sido tomadas há vários anos). Ao fazê-lo, revitalizou a integração europeia e redefiniu o núcleo fundador que conduz o projecto europeu, resultando na alienação, em particular, do Reino Unido.

Ao mesmo tempo, tem favorecido o aumento do apoio à moeda europeia por parte dos BRICS, liderados pela China, que após um momento de hesitação perceberam dois pontos fundamentais: primeiro, os Europeus haviam agido com seriedade no resolver o problema, e, segundo, que o Euro é uma ferramenta essencial para qualquer tentativa de fugir do “mundo do Dólar “.

3. Finalmente (Abril de 2011 – Setembro 2011), está a convencer a Zona Euro a tomar medidas para alcançar o justo objectivo pelo qual os investidores privados ajudem a solucionar o problema grego, especialmente através da reprogramação de reembolsos “voluntários” (ou qualquer outra forma de redução dos úteis previstos).

Como é possível imaginar, se o primeiro efeito foi realmente um dos objectivos prosseguidos por Wall Street e a City (além de desviar a atenção dos enormes problemas do Reino Unido e dos Estados Unidos), os outros dois tiveram um efeito completamente oposto ao resultado desejado, que tinha sido pensado para enfraquecer o Euro e reduzir a sua atractividade.

Ainda mais, um quarto efeito está em preparação e, no início de 2012, o lançamento dum mecanismo Euro-Bond, permitindo a partilha de parte das emissões de dívida dos Países de Eurolândia e a crescente e inevitável pressão política para aumentar a quota das contribuições privadas neste processo mais amplo de reestruturação da dívida dos Países periféricos da Zona Euro.

E com esse quarto efeito entramos no coração do processo de contágio que irá acionar a bomba da dívida federal dos Estados Unidos. Porque, primeiro, ao criar media globais e círculos financeiros ultra-sensíveis às questões da dívida pública, Wall Street e a City revelaram o tamanho dos insustentáveis deficits ​​dos EUA, do Reino Unido e do Japão.

Este também forçou as agências de rating, cães de guarda fieis aos dois centros financeiros, a participar numa corrida louca para a desclassificação dos Estados. É por esta razão que os Estados Unidos estão agora sob a ameaça de um downgrade, assim como tínhamos previsto, embora parecesse impensável para a maioria dos especialistas apenas alguns meses atrás.
Ao mesmo tempo, o Reino Unido, a França, o Japão também estão na mira das agências de notação da dívida.

Lembramos que estas agências nunca previram algo de importante (a crise do subprime ou a crise global, a questão grega, a Primavera árabe…).
Que gostem ou não, se têm de fazer downgrade agora, é porque foram capturadas no seu mesmo jogo.

As “hipóteses” de que é impossível, para qualquer Estado, o default da própria dívida, têm sofrido três anos de crise e é aqui que Wall Street e a City têm caído na armadilha que ameaça todos os aprendizes feiticeiros . Não previram que teria sido impossível para eles controlar a histeria desencadeada pela dívida grega.

Por isso, é hoje no Congresso do Estados Unidos, com o debate feroz acerca do tecto da enorme dívida federal e dos cortes no orçamento, que irá estender as consequências dos enganosos artigos da imprensa sobre a Grécia e a Zona Euro.

Mais uma vez, a nossa equipa só pode enfatizar que, se a História tiver um senso, este é certamente a ironia.

 Considerações finais

Até aqui o texto original do grupo Geab.
Que, na minha opinião, sofre das falhas de costume.

O Dólar? A Esterlina? Um desastre, o fim é próximo.
O Euro? Uma maravilha, a melhor invenção após a roda.

Reparem: neste número o Geab chega a prever uma crise imobiliária no continente Europeu, um terramoto que terá a força de fazer desaparecer 15.000.000.000.000 Dólares, tal como aconteceu com a crise dos subprimes nos Estados Unidos.
E o mesmo Geab avisa que desta vez não serão apenas os investidores privados a perder dinheiro, mas até estará interessada a dívida pública. Coisa que na Europa não falta.

Perante tudo isso, quem é que sofre? Os Estados Unidos.

Mais: o Geab, para demonstrar quanto seja boa a situação do Velho Continente, publica um gráfico do qual é fácil perceber que as necessidades de financiamento da Grécia continuarão a aumentar nos próximos anos, com uma União Europeia (leia-se contribuintes europeus) cada vez mais presente.

E nem se fala da Irlanda, de Portugal e de outros Países com situações delicadas (Espanha, Italia, Bélgica, por exemplo).

Este, segundo o Geab, é um Euro que “vai bem”.
Melhor não imaginar qual possa ser um cenário com um Euro que “vai mal”.

Os Estados Unidos têm problemas, e muitos graves, disso não há dúvida.
Uma eventual crise imobiliária na Europa teria (ou terá) fortes consequências também nos EUA. Mas como irá comportar-se o Velho Continente? Quais armas tem a disposição? O FMI (que aumentará a própria participação na dívida grega também)? O Geab esqueceu quem é que manda no FMI?

As afirmações acerca das atitudes de Wall Street e da City perante a “tragédia grega” fazem todos os sentidos; já percebemos também qual o papel das agências de rating e quem estava atrás das vagas de ataques que, de seguida, atingiram Atenas, Dublin e Lisboa.

Mas atenção: os “especuladores” ingleses e americanos desfrutaram uma situação já por si precária, não foram Washington ou Londres a cria-la.
Situação que ainda hoje está longe de ser resolvida e cuja solução encontrada, até agora, foi aquela de “descarregar” nas carteiras dos contribuintes as dívidas dos bancos (não apenas americanos ou ingleses).

Pois é este o problema de fundo do Geab: não consegue sair do dogma “dívida”. No máximo pode aplaudir perante a coragem de Bruxelas que pede aos bancos para que, de forma voluntaria (claro, não queremos que fiquem incomodados, não é?) abdiquem duma parte dos úteis.

Faz sentido separar o futuro de duas economias (a europeia e a anglo-saxónica) baseadas nos mesmos idênticos axiomas?

Ipse dixit.

3 Replies to “GEAB 56 Especial Verão: Crise sistémica global”

  1. Max, eu acho que as coisas não são bem assim: Quando morei na Europa e ouvia os europeus falarem dos EUA. Eu sempre dizia: Vocês não tem idéia o que é os EUA, a dinâmica que é aquilo. Só a Victorinox (canivetes) têm 87% de sua produção destinada aos EUA. Um norte americano consome 4 vezes mais que um europeu, já foi 6 vezes. E a produção deles não é brincadeira, basta fazer proporções; produção/população/consumo/dívida externa. Os gastos deles são exorbitantes? Sim, mas devido as armas e tudo que envolve isso, esse é o detalhe.

    Abraços sinceros

    Obs. Não curto nem um pouco os EUA, mas…

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