Grécia: o ponto da situação. Ainda uma vez.

A situação na Grécia tornou-se caótica.
Tentamos fazer o ponto da situação.

Papandreou: o novo executivo

O primeiro-ministro grego, George Papandreou, desistiu da ideia de formar um governo de unidade nacional. 

Não apenas não conseguiu recolher o apoio dos partidos da oposição, mas tem de controlar o próprio partido, o PASOK, que continua a perder pedaços: nos últimos dias foram 5 os deputados que fugiram do Parlamento.

Hoje o Primeiro Ministro irá anunciar a nova equipa governamental, na qual o actual Ministro da Defesa, Evangelos Venizelos, será Ministro das Finanças e Vice-Primeiro Ministro; e George Papaconstantinou (o criador da impopulares medidas de austeridade postas em prática para satisfazer as exigências da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional) ocupará o cargo de Ministro do Meio Ambiente.

Venizelos, que concorreu para a liderança do Partido Socialista PASOK em 2007 e que ainda está a agradecer os Deuses do Olimpo por não ter ganho, ocupou vários cargos governamentais na administração socialista desde meados dos anos noventa, incluindo o do Porta-voz do Governo, Ministro da Justiça, Ministro do Desenvolvimento, Ministro da Defesa e agora, como vimos, será Ministro das Finanças. 


No futuro poderá desenvolver o papel de Ministro da Saúde, da Instrução, das Obras Públicas, mas também o de cozinheiro, piloto, domador de aves…tudo, desde que seja um cargo bem remunerado. 
Este Venizelos faz lembrar políticos de outros Países.

Mas os problemas de Papandreou não são os Ministros: os problemas são outros.

O chefe do Governo precisa implementar as medidas que são indispensáveis para obter um novo empréstimo do Fundo Monetário Internacional (e da União Europeia) e, ao mesmo tempo, acalmar os Gregos. 

Uma missão quase impossível, pois para satisfazer as exigências do FMI é preciso bater nos Gregos: é difícil pegar num cidadão, cortar-lhe o ordenado, cortar-lhe os serviços, reduzir-lhe a reforma, aumentar-lhe os impostos e depois convence-lo que tudo é feito para o bem dele. 
O cidadão pode desconfiar.

Pensamentos Profundos

A situação da Grécia preocupa a comunidade internacional: uma boa ocasião para que declarações ridículas sejam vendidas como “pensamentos profundos”. 

É o caso do CEO da Goldman Sachs Asset Management, Jim O’Neill, que numa entrevista à Bloomberg TV declara:

Os Gregos podem dizer: “sabem que mais, estamos fartos que nos tratem como crianças, vamos fazer aquilo que nós queremos”

Na cabezinha de O’Neill, a ideia de que os Gregos possam escolher o próprio futuro representa uma heresia, quase um paradoxo. Em qualquer caso: algo que terá de ser evitado.

E CEO do Deutsche Bank, Joseph Ackermann, defendeu hoje que a Grécia não deve entrar em incumprimento “de forma alguma”:

Se a Grécia precisa de mais dinheiro, nós vamos fornecê-lo. Temos de ajudá-los

Dito assim até é comovente: um banco que ajuda um País em evidente estado de necessidade. Parece quase ficção científica. Mas não é, é sacanagem. 

Vamos ver qual o pensamento que ocupava o cérebro do senhor Ackermann enquanto este proferia a frase acima reportada:

Se a Grécia precisa de mais dinheiro, nós vamos fornecê-lo. Temos de fazer um novo empréstimo, com juros claro, pois o dinheiro custa e esta não é a Cruz Vermelha. Como a Grécia irá conseguir pagar o empréstimo é simples: considerado que o Produto Interno Bruto é ridículo, a única forma será vender tudo, mas tudo mesmo, até as ilhas e o Pártenon, e será preciso também intervir de forma directa na arrecadação dos impostos, pois estes Gregos malditos podem pensar “Olha, não pago, estou farto de pagar”, ehhhh não meus amigos, quiseram o empréstimo? agora vão pagar, não quiseram o empréstimo? não importa agora pagam na mesma, gostariam de entrar em falência, não é?, pois gostariam, claro, nem que fosse para criar dificuldades aos bancos estrangeiros, é isso que querem, não é? raça maldita, nem pensar, não querem sair do Euro, pois não? olha o espectro da Dracma, uhhhh, a Dracma! que horror, fome, miséria, toma o empréstimo e afasta o espectro da Dracma.

Mais ou menos é isso.

Merkel, o marido de Carla Bruni e os velhos problemas

Entretanto a chanceler alemã, Angela Merkel, e o marido de Carla Bruni, Nicolas Sarkozy, reúnem-se hoje, em Berlim, para debater o impasse sobre a ajuda financeira suplementar à Grécia.
“Suplementar”, pois é bom lembrar que no ano passado já tinha sido entregue uma “ajuda” de 100 mil milhões de Euros. 
100 mil milhões que não saíram da cartola mas dos bolsos dos contribuintes europeus.
100 mil milhões que não foram suficientes para travar a hemorragia das finanças gregas.
Agora a Merkel e Sarkozy deveriam encontrar o caminho: viabilizar a nova “ajuda”, incumprimento ou participação dos privados dos credores privados?

Da “ajuda” já falámos. Significaria mergulhar ainda mais a Grécia com uma nova vaga de dívida sem ter certeza nenhuma. É o cenário mais provável.

O “incumprimento” seria uma forma elegante para oficializar a bancarrota de Atenas. Uma situação que já existe (a Grécia está falida, e não desde hoje), mas que ninguém quer admitir. Sobretudo os bancos veem isso como uma heresia.

A “participação dos credores privados” é a terceira hipótese: significa que os credores deveriam assumir as próprias responsabilidades e…perder dinheiro. Seria a solução mais lógica (investiram, o investimento correu mal, perderam dinheiro: normal num mundo financeiro “normal”) e por isso parece a solução mais improvável.

Entretanto, na véspera da cimeira, o comissário para os assuntos financeiros, Olli Rehn, anunciou que a ajuda à Grécia está pronta: já no próximo Domingo pode ser libertada a próxima “tranche” do empréstimo em vigor da União Europeia e do FMI, para que Atenas honre compromissos financeiros imediatos.

O que significa utilizar a “ajuda” para pagar Títulos de Estado que estão a caducar: pagar dívida antiga com dívida nova.

A segunda fase, que poderia incluir o novo pacote de “ajuda”, só poderia estar disponível no final do Verão.

Um ano depois…

Os leitores mais antigos provavelmente lembram que Informação Incorrecta já tratou destes últimos assuntos várias vezes. 
Demasiadas vezes. 
De facto, o blog nasceu pouco antes da primeira “ajuda” do FMI e BCE. E, após 13 meses, estamos aqui, ainda a falar das mesmas coisas, com as mesmas dúvidas, as mesmas perspectivas.
Nada mudou ao longo do último ano. Só a situação da Grécia piorou.
Isso deveria fazer reflectir acerca das reais capacidades dos protagonistas. E, porque não?, acerca da vontade de resolver o “Dossier Grécia”.
Não podemos esquecer que há poucos dias Moody’s baixou o rating da Grécia. Qual o sentido de baixar o rating já ínfimo dum País que todos sabem estar falido, numa situação da qual não pode sair, à beira duma guerra civil?
Só se for para atirar lenha para a fogueira. Manter a Zona Euro numa situação crítica. E desviar as atenções.
“Fanta-finança”? Talvez.
Mas pensamos nisso: o que seria do Dólar nesta altura perante um Euro um pouco mais “sólido”?
Já conhecem os últimos dados macro-económico dos Estado Unidos?
Ipse dixit.

Fontes: Reuters, Jornal de Negócios, Expresso

One Reply to “Grécia: o ponto da situação. Ainda uma vez.”

  1. O pessoal ainda não deu conta que a Grécia foi ao 1º País a bater na parede chamada "Realidade de um Mundo Finito" e por mais que queiram deitar por terra esta Parede, com bombas da "Economia Infinita e Emissão de Moeda apoiada em Ares" o resultado será sempre o mesmo – NADA –
    A única forma é reconhecer que esta forma de "Economia de Consumo Infinito" acabou, pois não é "recursomicamente" viável, e virar a página deste livro… a próxima página está em branco há espera de ser escrita noutra linguagem que não a dos últimos 3/4 séculos!

Obrigado por participar na discussão!

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