Meus amigos, vamos tratar dum assunto importante.
Todos os assuntos são importantes. É que não sabia como iniciar o artigo, então pensei que definir este como “importante” fosse uma boa maneira para destacar a questão.
Poderia ter dito: “Já conhecem a história do macaco e do Homem?”. Mas assim não teria ficado engraçado, pois mais parece o começo duma anedota. Que também pode ser importante, pois traz alegria. Então qual a diferença entre uma anedota e o assunto que vamos tratar?
Boa pergunta. Se calhar vou fazer outro post: “A anedota, o macaco e o Homem”.
Sim, já percebi, o leitor está a tentar confundir-me com todas estas histórias: homens, macacos, anedotas…mas eu insisto: vamos tratar do assunto.
Porque é importante.
The Thainer enviou-me um e-mail bem interessante.
A propósito: aconselho dar uma vista de olhos no Canal YouTube de The Thainer, pois tem coisas mesmo bonitas, coisas que ajudam a reflectir. E não é pouco.
O mail de The Thainer consta essencialmente dum vídeo. Um vídeo com o qual não concordo, mas que tem algumas partes interessantes: mais ou menos os primeiros dois minutos, depois é como entrar numa igreja.
Eis o vídeo:
Quem fala é o Doutor Jobe Martin, biólogo.
Tem as suas ideias e temos que respeita-las. Mas também temos o direito de discordar.
Os argumentos apresentados pelo Dr. Martin podem ser condensados numa simples frase: “A Natureza é demasiado boa, só o Criador pode ter feito isso”.
Que como argumento não é grande coisa.
Peguem num quadro, peguem no quadro mais famoso do Mundo: a Gioconda de Leonardo da Vinci.
Bonito, não é? (eu nem gosto…). Demasiado bonito para ser obra do Homem.
E nem falamos da hipótese de ter sido feito apenas por um homem.
Deve ser obra de Deus, só pode ser.
Perante coisas bonitas, maravilhosas, é necessário introduzir a figura do Criador. Porquê? Porque as coisas são bonitas e maravilhosas. Assim o círculo fica fechado.
Este é o raciocínio do Dr. Martin.
Mas o que interessa aqui é outro assunto: a Evolução do Homem.
Actualmente temos duas teorias para explicar a presença do Homem neste planeta.
A primeira teoria é a dos Criacionistas, a segunda é a dos Evolucionistas.
A primeira teoria é de tipo religioso: implica a existência dum Ser Supremo (Deus) que escolheu criar tudo, Homem incluído.
A religião cristã é bastante precisa neste aspecto, fornece datas e cronologia.
Em seis dias Deus criou tudo, no sétimo tirou folga, a seguir criou o Homem e a Mulher. E com esta última começaram os problemas.
Mas quando aconteceu tudo isso?
O Arcebispo de Armagh, James Ussher, no séc. XVII chegou a calcular a data da Criação, baseada nas Sagradas Escrituras: Ussher concluiu que a Terra tinha sido criada às 9 horas da manhã do dia 23 de Outubro de 4004 a.C (um Domingo), Adão e Eva foram expulsos do Paraíso em 10 de Novembro de 4004 a.C (uma Segunda-feira) e a arca de Noé parou no Monte Ararat no dia 5 de Maio de 2348 a.C (uma Quarta-feira).
Ao longo dos séculos (em particular nos últimos) a Igreja foi obrigada a rever as próprias posições: hoje o Vaticano admite que a Criação tal como descrita na Bíblia é uma alegoria; que as eras geológicas são uma realidade; que nunca houve um Adão ou uma Eva.
Mas o ponto central, a ideia duma Criação por intervenção divina, permanece inalterada.
A teoria criacionista tem uma grande vantagem: não cria problemas. É só acreditar.
Porquê aconteceu? Porque assim Deus quis.
Ámen.
No máximo podemos falar de quanto é bom este Deus, o resto não tem relevância.
Na mesma linha colocam-se as teorias de Sitchin, com os seus Annunaki e o imprescindível Nibiru e, no geral, todas as teorias que incluem seres de outros mundos que chegaram até este planeta e não tiveram mais nada para fazer a não ser criar o Homem.
Neste caso Deus é substituído pelos alienígenas, mas sempre de criação se trata.
Característica importante: segundo as ideias originais da religião, a Vida é algo de estático. Foi criada tal como podemos observa-la hoje.
A segunda teoria é aquela dos Evolucionistas.
Neste caso a figura em destaque é Charles Darwin, embora o conceito de Natureza dinâmica fosse já presente antes do naturalista inglês (Julien Offray de La Mettrie, Georges-Louis Leclerc conte di Buffon e Pierre-Louis Moreau de Maupertuis no séc. XVIII e ainda antes Tito Lucrezio Caro, séc. I a.C.).
Mas foi com Darwin que a Evolução encontrou uma forma acabada e suportada por “evidências científicas” (as aspas são uma necessidade neste caso).
A ideia é simples: a Vida não é algo de estático mas dinâmico; no caso do Homem, este é o resultado de milhões de anos de evolução que mudaram as características de alguns primatas até alcançar a forma actual.
Sucessivamente a teoria de Darwin foi revista, mas os princípios permaneceram inalterados.
Não escondo que a minha preferência vai sem dúvida para a teoria da Evolução. Mas com uma série de grandes “mas”.
De facto, o Evolucionismo apresenta “buracos” e falhas esmagadoras, e a ideia é que no futuro surgirão novidades tais que tornarão preciso ou rever de forma radical esta teoria ou até abandona-la em favor de algo de novo.
Mas quais são estas falhas? A mais evidente é a falta dos “anéis de ligação”.
O mesmo Darwin avançou com a hipótese de que, por cada espécie actual, deveriam existir um grande número de formas intermédias. E o problema é mesmo este: no caso do Homem as formas intermédias não existem.
Entre o Homo habilis (2,4 milhões e 1,5 milhões de anos atrás) e o Homo ergaster (2-1 milhões de anos) deveriam ter existido formas intermédias; formas que teriam vivido ao longo de centenas de milhares de anos. Mas não há. Temos o H. habilis e de repente eis que aparece o H. ergaster.
Abracadabra.
Mesma coisa entre o Homo rhodesiensis e as duas espécies supostamente derivadas, o Homo neanderthalensis e o Homo sapiens.
Duplo abracadabra.
Este último caso é ainda mais impressionante, pois o Homo neanderthalensis e o Homo sapiens apareceram entre 400.000 e 200.000 anos atrás, pelo que encontrar fósseis preservados de formas intermédias deveria ser mais “simples”.
Mas não há. Temos o Homo rhodesiensis, talvez o Homo heidelbergensis (mas a discussão ainda não está fechada), e a seguir, olé, eis que aparecem o H. neanderthalensis e o H. sapiens.
O que acontece com o Homo, infelizmente repete-se com as outras espécies: os “anéis de ligação” (ou reconhecidos como tais) são poucos, mas poucos mesmo. E se considerarmos a quase infinita variedade de espécies que já apareceram e desapareceram do planeta, esta falta de “anéis” torna-se embaraçosa.
Outro aspecto preocupante do Evolucionismo é o conceito de macro-evolução, assumir que uma ou mais mudanças no interior duma espécie possam dar origem a uma nova raça.
Um réptil pode evoluir (e já vimos quais as dificuldades neste contexto com a questão dos anéis em falta) e dar origem a uma nova espécie de répteis. Esta pode ser definida de micro-evolução.
Mas assumir que um réptil possa evoluir para uma nova raça, como no caso répteis-aves, é um passo gigantesco.
Não impossível, pois numa escala de tempo particularmente longa, as várias combinações genéticas podem dar origem a uma série quase infinita de resultados. Mas não deixa de ser um passo enorme, com implicações relevantes.
A primeira das quais será, ainda uma vez: onde estão os anéis em falta?
Paradoxalmente, neste contexto o Evolucionismo deixa de ser ciência e torna-se fé.
Não podemos esquecer que para uma teoria poder ser definida como “científica” são precisas três condições:
1. poder ser observável
2. poder ser medível
3. poder ser reprodutível
O Evolucionsmo não satisfaz nenhum deste pontos (embora o establishment científico não goste de realçar este “pormenor”) pelo que para acreditar na teoria da Evolução é precisa fé.
Evolucionismo condenado então?
Não, absolvido. Com pesadas suspeitas, mas absolvido.
Mais por demérito do adversário que por méritos próprios, verdade seja dita.
O facto é que temos em cima da mesa duas alternativas.
A primeira, a religiosa, diz: “Assim foi, ajoelha-te e agradece”.
Na prática, o Criacionismo pede para não fazer muitas perguntas. As coisas correram assim porque alguém já tinha pensado em tudo.
Porquê? Não interessa.
Como? Não interessa.
E…? Não interessa. É um dogma e ponto final.
A segunda diz: “Assim foi” e ao dizer isso tenta manter fechada uma porta da qual saem ossos, genomas, uma gruta, algumas pinturas, um dente…,”Eh, sim está um pouco de confusão, mas acreditem, é mesmo assim, epá, não se percebe nada mas tudo isso pode dizer alguma coisa, não é?”.
Eu acho que sim, que pode dizer alguma coisa.
Depois é verdade que ao encontrar um dogma fico sempre enervado…
Ipse dixit.
Fonte: The Thainer,