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A Tempestade Perfeita de Roubini

Mini-férias acabadas?
Então voltamos ao trabalho.
Com Nouriel Roubini.

Os leitores aficionados conhecem Roubini: o economista foi um dos poucos que previu a crise começada em 2008. E agora volta a falar do futuro. Neste vídeo:

Assim, Roubini individua 4 pontos perfeitos que formam esta possível “tempestade perfeita”:

  • o deficit orçamental dos Estados Unidos
  • o abrandamento do crescimento da economia chinesa
  • a reestruturação da dívida da Europa
  • a inércia da economia do Japão

São todos elementos bem conhecidos.
E o que preocupa é mesmo isso: com a única excepção do abrandamento económico a China (a verdadeira novidade das últimas semanas), os outros são factores acerca dos quais os leitores deste blog já leram tudo e mais alguma coisa.

E, apesar disso, são problemas que ainda parecem não ter solução: arrastam-se há meses (mas seria mais correcto falar em anos), sem que sejam tomadas iniciativas resolutórias.

Triste Europa

O melhor exemplo é o da União Europeia e da reestruturação da dívida: Grécia e Portugal, em primeiro lugar.
Jan Kees De Jager, Ministro das Finanças holandês:

Para mim é inseparável. Eu só irei considerar um programa de ajuda adicional à Grécia se o sector privado tiver uma contribuição substancial.

Uma contribuição substancial do sector privado? Isso significa reestruturação da dívida, a mesma posição da Alemanha.

Mas o Banco Central Europeu defende o contrário: nada de reestruturação, nada de cortar a dívida e rever os prazos. E avança com uma sugestão curiosa: nada de reestruturação que não seja  “puramente voluntária e isenta de qualquer elemento de imposição” diz Jean-Claude Trichet, Chefe do BCE.

Na óptica do BCE a proposta até faz sentido por duas razões:

  1. a primeira é a defesa até o fim do Sistema Euro, que nas intenções de Trichet não pode demonstrar fraqueza e que tem (sempre no cerebrinho dele) todos os instrumentos para sair do pântano no qual foi precipitado e a força para atrair novos investidores; 
  2. a segunda, ainda mais importante, é que não é permitido dar o exemplo, com os privados (os bancos e os “investidores”, que sempre bancos são) a pagar parte do preço da crise: seria um sinal particularmente grave (do ponto de vista dos “investidores”), uma espécie de revolução copernicana, um Armageddon. Os bancos têm que ganhar, sempre, e ponto final.

Não acaso, o Director-Geral de Mercados do BNP Paribas diz que a reestruturação da dívida grega teria fortes implicações negativas na Europa.
Nos bancos?
Não, na Europa.
Ah.
Paul Mortimer-Lee:

Eu acho que isso seria brincar com o fogo. […] A primeira forma de lidar com a crise financeira passa por estabilizar as expectativas das pessoas e convencê-las que o futuro será melhor.

Como acabará? Na Europa acabará com uma reestruturação, talvez duas (não apenas Grécia, mas também Portugal). O problema é o prazo: as vozes falam duma reestruturação após 2013. Tarde, provavelmente tarde demais.

E este, lembramos, é apenas um dos 4 pontos em destaque na visão de Roubini.

Tristes Estados Unidos

Porque não falar do deficit orçamental dos Estados Unidos, com um novo Quantitative Easing (o terceiro!) que cada vez mais aparece como possibilidade?

Engraçado: antes o QE 3 aparecia sempre ligados a expressões do tipo: “sim, mas nem é uma hipótese séria, é apenas divagação”.
De forma lenta, os tons já sofreram uma alteração: “sim, mas afinal…”.

O problema é que a Federal Reserve não consegue encontrar outras propostas.

A mágica receita é inundar o mercado com um número ridiculamente enorme de notas sem o mínimo valor, outra vez, defraudar o patrimónios dos cidadãos (pois esta é uma das consequências do Quantitative Easing) e ver o que acontece.
Genial.

Triste Japão

Ao seguir Roubini encontramos a “caso Japão”: um dossier difícil, que sofreu ainda mais com o terramoto-tsunami dos meses passados.

A catástrofe natural veio abalar uma situação já por si complicada, enfraquecendo o sistema de produção e criando serias hipotecas no futuro do País: Tokio precisa desesperadamente de crescimento e para crescer é essencial a energia nuclear.

Tudo isso num País  que tem uma dívida de 200% do PIB (Produto Interno Bruto), despromovido no passado Janeiro pela agência Standard and Poor’s.

…e a China?

E a China. Acerca da qual é difícil fazer previsões.
Sim, pode haver uma diminuição do crescimento.
Sim, pode existir uma bolha imobiliária no horizonte.
Sim, Pequim tem problemas com os combustíveis e não apenas isso.

Mas é sempre a China, um País com recursos enormes, trabalhadores sub-pagos e um irrefreável desejo de riqueza.

O que Roubini fez foi dar voz às dúvidas que pairam no ar há muito e pelas quais ninguém consegue vislumbrar uma resposta.
O que Roubini fez foi dar um timing, lembrar que esta “doce inacção” não pode ser para sempre.

É preciso fazer escolhas, é preciso já.
Pois esta é uma corrida contra o tempo.

Nota: Mais acerca de Roubini? Então podem ler a entrevista de Maio de 2010 (link!) ou ainda a entrevista com Arnab Das, o braço direito do economista turco, de Abril de 2010 (link!).

Ipse dixit.

Fontes: RTP, Diário Económico,