Visões do futuro: A Estrada da Pérsia – Parte III

E vamos, meus senhores, vamos ler a última parte deste Which Path to Persia que eu achava ser um pouco menos comprido mas afinal era bem longo não faz mal eu sei que traduzir é um pouco uma seca mas é sempre um prazer fogo da próxima vez será melhor contar bem as linhas e só depois eventualmente começar a tradução porque estou mesmo farto disso.

Como dizia: vamos ler.

Página 109: Usar a força militar para ajudar as revoluções do povo
(Pág. 122 do Pdf)

Por conseguinte, se os EUA foram capazes de desencadear uma revolta contra o regime clerical, Washington deve levar a considerar a possibilidade de apoia-la com alguma forma de ajuda militar para impedir que Teheran possa trava-la.

Esta exigência significa que uma revolução popular no Irão não faz parte do modelo das “revoluções de veludo” que ocorreu em outros lugares.

O ponto é que o regime iraniano pode não querer despedir-se em silêncio, ao contrário do que aconteceu nos regimes da Europa Oriental, poderia decidir lutar até a morte. Nestas circunstâncias, se não houvesse intervenção militar externa, os revolucionários não só não venceriam como seriam massacrados.

Por conseguinte, se os Estados Unidos vão prosseguir esta política, Washington deve considerar tal possibilidade. Isso acrescenta uma outra exigência à lista: a iniciativa deve incluir um sistema para enfraquecer as forças armadas ou a vontade dos líderes do regime iraniano de apoiar-se nas forças armadas, caso contrário, os EUA deverão estar prontos para agir para derrota-los.

Vamos traduzir: esta no Irão vai ser uma coisa séria, não como as brincadeiras que fizemos no Países do ex-bloco soviético. Aí era só distribuir alguns pacotes de massa ou grelhar salsichas nas praças, mas no Irão vai ser diferente. E não apenas porque não comem salsichas.

Como na África? Shhhhhhhhht! Quem falou de África? Silêncio, ainda é cedo para certos assuntos!

Não, no Irão vai ser complicado porque o actual regime pode não aceitar a derrota. Estranho, verdade? Mas são feitos assim, gente esquisita, não são como nós, são casmurros mesmo: em vez de aceitar a nossa democracia e a nossa liberdade de braços abertos, até ficam irritados. Deve ser por culpa do coiso ai, o Alcatrão ou Alcorão como se chama.

Imaginem, até têm um exército!
Não como o de Saddam, quatro desgraçados mortos de fome. Não, este têm um inteiro exército de casmurros. E que vamos fazer? Uma guerra à sério? Mas estamos a brincar ou quê? Já tivemos o nosso Vietname, nem conseguimos derrotar uma cáfila (conjunto de camelos, em bom Português) no Afeganistão, e agora vamos ficar presos no Irão? Nem pensar.

Temos que ser finos, astutos como um hamster siberiano, temos que usar a intelligence. Pensem nas eventuais consequências! Não, não pensem em nós! Pensem nos pobres revoltosos! Todas aquelas pessoas inocentes, as crianças, as mãe que choram: massacrados, ouviram?, massacrados!!!
E quem iria a explicar os gastos no Congresso?

Página 113: Armar, financiar e usar as organizações terroristas
(Pág. 126 do Pdf)

Os Estados Unidos podem trabalhar com grupos como o National Council of Resistance of Iran (NCRI), no Irão, e o seu braço militar, o Mujahedin-e Khalq (MEK), ajudando milhares dos membros que, sob  o regime de Saddam Hussein, foram armados e conduziram operações de guerrilha e de terrorismo contra o regime.

Embora pareça que o NCRI esteja de momento sem armas, a situação pode ser rapidamente alterada.

Página 117: Potenciais Agentes Locais
(Pág. 130 do Pdf)

Talvez o mais importante grupo de oposição (e certamente o mais controverso) tomado em consideração como potencial agente dos Estados Unidos é o NCRI, o movimento político formado pelo MEK (Mujahedin-e Khalq). Os críticos acreditam que o grupo não é democrático, bem como impopular e verdadeiramente anti-americano.

Os defensores argumentam que o grupo, com a oposição de longo prazo contra o regime iraniano, a série de atentados culminando em sucessos e  as operações em cooperação com a intelligence americana, merece ser apoiado pelos Estados Unidos.

Também argumentam que o grupo já não é anti-americano, querendo questionar a validade dessas alegações. Raymond Tanter, um apoiante do deste movimento nos Estados Unidos, argumenta que o MEK e o NCRI são aliados na vontade de mudar o regime de Teheran e agem com de forma bem sucedida nas operações de intelligence.

O maior sucesso do MEK foi a espionagem, em 2002, que levou à descoberta dum local secreto para o enriquecimento de urânio.

Apesar disso, o MEK permanece na lista das organizações terroristas do governo dos Estados Unidos. Nos anos 70 o grupo matou três policiais e três empreiteiros civis dos EUA no Brasil.

Durante a crise dos reféns em 1979-1980, o grupo apoiou a decisão de tomar reféns americanos e Elaine Cera relatou que, enquanto os líderes do grupo condenaram publicamente os ataques do 11 de Setembro, no interior houve celebrações.

Sem dúvida, o movimento tem realizado ataques terroristas, muitas vezes justificados por aqueles que apóiam a causa do MEK, porque dirigidos contra o governo iraniano. Por exemplo, em 1982 o grupo colocou bombas na sede do Partido Islâmico Republicano, que era então a principal organização política da liderança clerical, matando 70 policiais.

Mais recentemente, o grupo realizou mais de uma dúzia de ataques com morteiros, assassinatos e outros ataques contra civis e alvos militares iranianos, entre 1998 e 2001.

Em última análise, para trabalhar mais em contato com o grupo (pelo menos abertamente), Washington terá de removê-lo da lista das organizações terroristas.

Agora, pensem nisso: como País democrático e liberal que somos, geneticamente contra o terrorismo, não daria jeito um grupo de pessoas contrária ao regime, posicionadas no interior do Irão que, lembramos, é o Mal Absoluto?

Claro que daria. E, senhoras e senhores, eis a grande novidade: este grupo já existe! O nome é MEK e não é tudo: já colaborou connosco! Não é maravilhoso?

Ah, só um pequeno pormenor.
Por algumas estranha razão, o MEK foi inserido na lista das organizações terroristas, as tais que é suposto combater.
É difícil explicar como isso pode ter acontecido, pois já trabalhamos com o MEK e posso assegurar que são gajos mesmo à maneira. Mas é uma situação que vai ser resolvida em breve, fiquem descansados.

Curriculum? Se o MEK tem curriculum? Então não ouviram? O MEK é quanto de melhor podemos encontrar no Irão.
Bombas, assassinados, assaltos: sabem fazer qualquer coisa, nem é preciso treino. É só entregar as bombas e os gajos rebentam com aquilo tudo. Não sei se entenderam: 70 policias mortos com apenas um atentado, é de tirar o chapéu!

E atenção: não são “terroristas”, são “resistentes”, o que é bem diferente. Porque nós somos contra o terrorismo, isso é um dogma, e quem dizer o contrário fica com a casa rebentada, ok?

O quê? “Anti-americanos”? Onde é que leram isso? Agora, pelo facto de ter morto três policias e três cidadãos uma pessoa torna-se anti-americana? E depois isso nem foi nos Estados Unidos, foi no Brasil.

A única coisa que podemos dizer é a seguinte: talvez tivesse sido melhor não festejar o 11 de Setembro. Porque certas coisas fazem-se mas depois é preciso ter uma atitude politicamente correcta. Viram alguém da Administração americana festejar após a queda das Torres? Não, só caras tristes. Aprendam.
Mas temos que perceber, é rapaziada.

Com o MEK existe apenas um problema: não têm armas. Um problema para eles, mas uma boa noticia para as nossas lobby. Mas seria melhor dizer “não tinham armas”. Que fique entre nós, claro: se estas coisas viessem à tona, uhi, imaginem os pacifistas e a opinião pública. Só chatice.

Mas o MEK já recebe as armas das nossas empresas, assim como os outros atrasados, os rebeldes balucos. Não não “malucos”, mas “Balucos”, do Baluchistão.
Porque a democracia espalha-se assim: eu dou-te uma bomba, tu rebentas qualquer coisas, depois pedes outra bomba. Então eu falo com o gajo que constrói bombas e ele vende-me uma bomba. Eu pago, com o dinheiro do contribuinte, então ele lucra e pode financiar o Congresso.
E não é o Congresso uma das máximas expressões democráticas?

Página 123: Organizar um golpe de Estado
(Pág. 136 do Pdf):

Organizar um golpe de Estado é uma tarefa difícil, especialmente num Estado que é paranóico sobre a influência e interferência do exterior, como é o Irão [e quem sabe porque são paranoicos, NDT].

Os Estados Unidos devem primeiro entrar em contacto com membros das forças armadas iranianas e os seus serviços de segurança. Já isso é muito difícil.

Devido à hipersensibilidade dos Iranianos contra os Americanos, os Estados Unidos devem confiar em intermediários, pessoas do lugar que trabalhem em nome dos Estados Unidos, o que acrescenta mais complexidade.

Em seguida, os Estados Unidos deveriam usar esses contatos para tentar identificar o pessoal militar iraniano que pode e deve fazer um golpe, coisa ainda mais difícil: já seria difícil para os Americanos contactar oficiais militares iranianos, em seguida, é deixa-los sozinhos para lidar com essas pessoas que arriscariam a vida deles e dos seus familiares para fazer um golpe.

Claro que é possível, no caso de Washington tornar “claro” a tentativa de apoiar um golpe de Estado no Irão, que os líderes do golpe possam chegar nos Estados Unidos.

Mas isso raramente acontece: a história mostra que os líderes do golpe que estão expostos foram quase sempre presos e mortos; além disso, muitos daqueles que vieram pedir ajuda nos Estados Unidos para derrubar este ou aquele governo normalmente eram impostores ou até mesmo agentes de contra-espionagem dos governos alvos. […]

Embora muitos golpes de Estado são construídos a partir de dentro, um modelo histórico do golpe de Estado no Irão assistido pelo exterior é dado pela Operação Ajax, o golpe de 1953 que derrubou o governo do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh e restaurou o papel o Xá Reza Pahlevi.

Para realizar o golpe, a CIA e os serviços secretos britânicos ajudaram Geral Fazlollah Zahedi e os seus seguidores com dinheiro e propaganda, e também na organização das suas actividades.

Acaba aqui o relatório Which Path to Persia.

Um bom relatório, sem dúvida, que tem um grande mérito: não utiliza rodeios, chama as coisas com o nome deles. “Golpe no Irão” é mesmo isso: um golpe no Irão.

Além disso, deixa claros alguns pontos.

1. A política estrangeira americana é, em boa medida, um conjunto de operações que ultrapassam amplamente os limites da legalidade.

2. Conceitos como “Justiça” ou “Autodeterminação dos Povos” pertencem ao passado. Isso para não falar de coisas mais triviais como “sentido do pudor” ou até mesmo “humanidade”.

3. Os Estados Unidos não são contra o terrorismo: são contra o terrorismo que atinge alvos americanos. Quando o terrorismo atingir alvos anti-americanos, então torna-se “resistência” e como tal deve ser apoiada.

4. Este relatório atira fortes dúvidas (e esta é uma metáfora) sobre as recentes revoltas “populares” que caracterizam a Primavera Árabe. Se antes havia suspeitas, agora a situação parece muito mais clara.

Para concluir, é bom lembrar que este relatório foi financiado por pessoas “que contam” e não pouco. No início lembrámos nomes como Rockefeller, Ford, Brezinski, Goldman Sachs, Pepsi…em outras palavras: são do Gestores do Mundo, os que planeiam e gerem a nossa sociedade.

São os mesmos que decidem qual o próximo País que deverá ser “resgatado” porque em dificuldade financeira.
São ele que decidem quem terá de morrer de fome e quem sobreviver, ao subir ou baixar os preços dos bens essenciais.
São estes que decidem quanto teremos que pagar amanhã na bomba de gasolina ou em juros para as prestações da casa. São estes que decidem
São estes que dizem: “Vocês estão livres”.

Se estes pessoas financiarem uma instituição como aquela que redigiu e publicou este relatório, então é mais simples perceber a origem de muitos dos mais deste Mundo.

Até torna-se difícil defini-las “pessoas”.

Nota final:
Se alguém estiver interessado no documento original (Pdf em Inglês), pode contactar-me via e-mail.

Lembro as partes já publicadas:
A Estrada da Pérsia – Parte I
A Estrada da Pérsia – Parte II

E aconselho também ler:
Visões do Futuro: Prólogo

Ipse dixit.

Fonte: Land Distroyer

One Reply to “Visões do futuro: A Estrada da Pérsia – Parte III”

  1. Chega a ser surpreendente a clareza em que assuntos polêmicos são abordados neste relatório. Realmente foi elaborado por pessoas de mais alto gabarito intelectual, mesmo que isso não tenha nenhuma relação com a tendência(D&D) deles.

    Grande manual de terrorismo contemporâneo ocidental este.

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