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Os “Grandes” ao pé de casa

Não costumo perder tempo nos comícios políticos, em particular naqueles pré-eleitorais. As minhas ideias políticas (ou melhor: as minhas não-ideias políticas) tornam estes espetáculos bastante deprimentes.

Além disso, como já afirmei, o único programa eleitoral sério, aquele que será implementado, é o do FMI, que podem encontrar neste mesmo blog.
Tudo o resto é treta.

Mas neste caso quase que não podia recusar: é que dois dos “grandes” (por assim dizer) protagonistas da política portuguesa foram falar mesmo ao lado da minha casa, em Almada.

Foi assim que, no prazo de poucos dias, fui ver e ouvir Pedro Olha Que Passa um Coelho (ou algo de parecido) do Partido Social Democrata, e Francisco Louçã do Bloco de Esquerda.
Centro-Direita e Esquerda.
Interessante.

Os comícios: um…

O primeiro em ordem de tempo foi Pedro com o seu Coelho.
O ambiente é o que é possível esperar. Sala cheia, mulheres com o vestido do dia importante (“Vem aqui Ele!, “Fala Ele!”), bandeiras cor de laranja, televisões.
E finalmente aparece. Dum carro escuro, com vários metros de comprimento, sai Ele: é o Pedro!!!

Primeira observação: parece cansado. Normal, estes fulanos correm o País dum lado para outro em poucas horas. E quando param é só para conceder entrevistas.

Segunda observação: é uma seca. Mas uma seca mesmo.

O discurso não é bem um discurso, é mais um ataque contra o partido de governo. Tudo bem, é uma campanha política, é justo que também assim seja. “Também”, mas não “apenas” assim.
Porque além disso não há nada. E esta é a minha maior decepção.
Não há uma proposta, uma ideia.

Nada, só palavras vazias, tipo “mais emprego” ou “um País mais justo”.

Passam os minutos e uma sensação de sono incontrolável começa a apoderar-se de mim.

Saio, vou para a rua, fumo um cigarro. Sim, eu sei: fumar mata. Mas também um discurso como este pode ser letal.

Volto para o interior da sala e o gajo ainda lá está, com as suas mãos enormes (mas enormes mesmo!) a falar mal do Primeiro Ministro e a prometer um futuro bem melhor. Ainda?!?

Do FMI nem uma palavra.
Do que acontecerá no País ao longo dos próximos meses nem uma palavra.
Das medidas contidas no documento do FMI assinado também por ele nem uma palavra.
De como o País conseguirá pagar a dívida nem uma palavra.
De quanto custará este raio de “resgate” nem uma palavra.
De quanto serão os juros pagos por este “resgate” nem uma palavra.
Do aumento dos impostos, das privatizações, das reformas, de tudo o resto nem uma palavra.
Só é dito que com o governo dele o futuro do País será melhor.
É precisa fé, e muita.

A plateia aprecia.
Aplausos.
A cada pausa os brincos se mexem.
Afinal Ele diz o que a plateia quer ouvir. O problema é que este é um comício para pessoas que já estão convencidas. Um indeciso arrisca-se a sair com ainda mais dúvidas.

Saio com apenas uma certeza: ainda bem que não tenho de votar, seria uma escolha bem difícil.

…e outro.

Novo dia, mesmo lugar, novo comício.

Desta vez o ambiente é outro, mas sem surpresas.
Nada de vestidos bons, o estilo aqui é “somos gente do povo”. O único com a gravata é um rapaz da televisão.

Até que chega Ele. De pé. E pára a falar com um transeunte na rua.
O estilo é mesmo outro.

Magro (credo quanto é magro!), nem parece cansado. Mudou de pilhas?
Começa a atacar os outros partidos. Óbvio.

Mas há uma diferença: este fulano fala de coisas concretas e fico favoravelmente impressionado.
Fala do FMI, da Grécia, da dívida. Das reformas, das privatizações. Fala das coisas que os leitores podem encontrar no blog.
Não escondo: fico espantado.

Até avança com uma proposta: nada de empréstimo do FMI, mas renegociar a dívida.
Interessante. E mostra uma certo “à vontade” perante a plateia, coisa que não pode ser dita para o Coelho, muito mais “rijo”.

Louçã não anuncia grandes descobertas: mas é concreto, na medida em que o Coelho era vago.

Max que fala bem dum Comunista?
Sim, sem problemas.

Frase histórica: não estou interessado na cor das ideias, apenas na ideias.
E no comício do Coelho não houve sinais de ideias.
Ao menos, uma vez acabado o discurso do Louçã, a pessoa fica com algo em que pensar.

Uma indicação de voto?
Absolutamente, rigorosamente, desapaixonadamente: não.
Um comício é sempre e só um comício, isso é, propaganda.

O Partido Social Democrata não é apenas um longo e vácuo discurso.
E os problemas da ideologia de Esquerda permanecem inalterados.

Mas que o Louçã foi bem melhor do que o Coelho, ahhh, disso não há dúvida.

Ipse dixit.