In Gold We Trust

Heinrich Wohlmeyer, como todos os Alemães, tem um nome difícil de pronunciar, mas diz coisas engraçadas.
De facto, Wohlmeyer, agrónomo, fala de moedas.

“Um agrónomo que fala de moedas? E porque não um carpinteiro que fale de física quântica? E este seria um blog sério? Palhaço!”

Em verdade, em verdade vós digo: leitores de pouca fé. Nem tudo o que parece é. Gaivotas em terra, tempestade no mar. Que não tem nada a ver, mas gosto muito de gaivotas.  

O bom Heinrich é também professor de Direito da Universidade de Viena. Ele sabe. E nós também. Nós também? Sim, porque vamos ler o que ele diz.

Como eu não percebo um palavra de Francês (e estou orgulhoso disso), confio na tradução publicada pelo site Voci dalla Strada.

Não devemos gastar mais do que temos 
Em 1973, a cobertura do ouro sobre o Dólar foi removida. Isto tem afectado todos os Países ou apenas alguns?

A primeira questão é entender como chegámos ao Gold Standard (o padrão-ouro). As divisas primitivas eram baseadas em padrões determinados pelo valor das mercadorias que estavam sendo negociadas. Assim, o dinheiro dos primeiros Romanos (a “pecunia”) era baseada nos animais.

Na sequência os metais preciosos foram escolhidos como uma medida do valor de troca, porque eram duráveis ​​e divisíveis, não reproduzíveis e fáceis de transportar. Por muito tempo foi utilizado o “padrão bimetálico”: a moeda era conversível em ouro ou em prata.
As moedas da Europa continental eram baseadas principalmente em prata.

Na Inglaterra, potência industrial e comercial em ascensão, o governo e o sistema bancário preferiram o ouro como base. Isto por duas razões:

  1. controlavam as maiores minas de ouro (ver saques da Índia e da Guerra dos Bôeres para o controle das riquezas minerais da África do Sul);
  2. ao ligar a moeda ao ouro poderiam dominar e controlar as finanças globais. Londres tornou-se assim o mercado financeiro do mundo.

A cobertura  parcial de ouro das moedas foi introduzida na Inglaterra já em 1844. Já era possível colocar 14.000.000 de Esterlinas em circulação sem cobertura áurea. Mas quantidades maiores deviam ser cobertas pelo ouro. Isso foi o chamado “travão do ouro”.

Mesmo os Estados Unidos, que tinham grandes depósitos de metais nobres, utilizaram o padrão bimetálico. Mas os grandes bancos de New York obrigaram, após a Guerra Civil, ao utilizo do Gold Stantard, o padrão-ouro, em detrimento dos produtores de prata.

Desde 1870, o padrão-ouro foi aplicada em todo o mundo e, após a Primeira Guerra Mundial, os EUA tornaram-se a “potência do ouro”, dado que exigiam ser pagos em ouro para o material de guerra e os serviços prestados aos aliados europeus, sem esquecer os “danos de guerra” da Alemanha.

A Segunda Guerra Mundial reforçou a posição dos EUA, permitindo que, em 1944, em Bretton Woods, o Dólar passasse a ser a moeda com cobertura áurea de referência do mundo.

O deficit da balança comercial (o déficit do comércio com o exterior) e as guerras travadas graças à expansão monetária (a Guerra do Vietnam), no entanto, forçaram os Estados Unidos, em 1971, a abandonar a convertibilidade do Dólar em ouro e em 1973 a abandonar definitivamente o Gold Standard.
Assim, o padrão-ouro foi abandonado no mundo, porque as outras moedas, as mais importantes, estavam ligados ao ouro através da taxa de câmbio fixa com o Dólar. Em qualquer caso, o ouro continua a ser uma aposta segura.

O retorno ao padrão-ouro já não é possível por uma questão de quantidade, a menos de aceitar preços exorbitantes.

Por abandonou-se a cobertura áurea da moeda de referência?

Como já expliquei, a razão foi a expansão da oferta de moeda nos Estados Unidos.
O Presidente esteve numa uma situação em que não podia pagar em ouro.

Ele descobriu, no entanto (em 1971), uma estratégia para domar o excesso de dinheiro e proteger o valor do Dólar: o sistema dos Petrodólares.

Um acordo de defesa com o maior produtor de petróleo, a Arábia Saudita, acordo ainda em vigor, vinculado à promessa de vender petróleo apenas em Dólares; e também forçou os Países membros da OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo, NDT] a aceitar este acordo, o que tem garantido a procura de Dólares.
O comércio internacional simplesmente seguiu o andamento.

Actualmente, 80% do volume de Dólares estão em circulação no estrangeiro. O excedente de Dólares dos Países exportadores de petróleo foi ligado ao chamado “reciclagem dos Petrodólares”, nas mãos do mundo financeiro em Londres.

Também foram impostos créditos para os Países emergentes, sempre em Dólares. Além dos títulos de Estados dos EUA, com taxas de juro atractivas.

Com este conjunto de medidas, a ampliação da oferta de moeda, que actualmente conta com mais de cinco mil milhões de Dólares por dia, podia ser controlada sem que o Dólar sofresse.

Esta abordagem não tem tido consequências desastrosas para a economia? Não é a origem dos perigos do mundo económico?

O desenvolvimento desenfreado da moeda implica a ameaça do colapso da ordem financeira mundial. A bolha financeira, constantemente enchida,aguentará até que alguém decidir faze-la explodir.

Poderia ser a China, que em todo o mundo paga actualmente em Dólares os produtos que compra (petróleo, matérias-primas, áreas industriais e agrícolas), para diminuir o risco duma desvalorização do Dolar. A China possui hoje mais de 2 mil milhões de Dólares.

Por medo da hiperinflação, o mundo corre na direcção do ouro. Isso faz com que os preços fiquem nivelados, o que prejudica o desenvolvimento económico.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellik, estimou recentemente (no “Financial Times”) que poderia acabar com o caos das moedas caso fosse utilizado um padrão-ouro internacional “que permitiria medir as expectativas do mercado para a inflação, a deflação e o valor futuro de moedas”.
Isto significa indirectamente um novo padrão-ouro.

Todavia, isso pressupõe um acordo global sobre as moedas, que não é sério esperar agora: seria preciso antes sanar o Dólar e as resistências são fortes.

 
Diz-se que muitos Estados estão a imprimir dinheiro sem qualquer cobertura: também é o caso do Euro?

Eu já mostrei que o poder financeiro americano está a imprimir dinheiro de forma irresponsável, ao mesmo tempo que encoraja os outros a “poupar até a morte”.

Um Estado membro da UE não pode imprimir dinheiro sozinho.

Mas na medida em que o BCE guarda Títulos de Estado podres [Grécia, Irlanda, Portugal…NDT], oferece dinheiro aos bancos a uma taxa de 1% e elabora planos de resgate como o EFSF (European Financial Stability Facility), então o volume de dinheiro sem cobertura (fiat money) [moeda no valor da qual decidimos acreditar por uma questão de confiança, NDT] terá proporções enormes.

Estados como a Itália, onde a dívida pública chegou a 120% do PIB e continua a subir, são salvas no curto prazo graças ao chamado “dinheiro fiduciário”, ou fiat money.

A “cobertura” é baseada na confiança acerca da estabilidade da moeda. Isso só é possível através duma política económica equilibrada, que inclui um orçamento estável. O ex-Primeiro-Ministro checo, Vaclav Klaus afirmou que “não devemos gastar mais do que aquilo que temos e que não devemos ir para a cama com pessoas que não respeitam este princípio. É por isso que temos de ficar fora da Euro“.

É por isso que este País pertence àqueles que têm menos dívida (35% do PIB). 

Quais poderiam ser as consequências dessa “produção de dinheiro” fora de controle?

Cada massa de dinheiro é uma dívida.

Se a dívida dos Estados e das áreas não-públicas tem dimensão tais que o pagamento da dívida toma todas as receitas e as rendas privadas geração de renda, e os donos do grande capital que praticam o fiat money não estão dispostos a renunciar à restituição da dívida, então infelizmente teremos que enfrentar os seguintes cenários: a encenação duma hiperinflação que permitirá aos Estados livrar-se das dívidas e que expropriará o povo dos seus bens.

Um empobrecimento global para o benefício dum restrito número de ricos, com o risco de motins (guerra civil) como reação.

A tentativa dos guardiões das altas finanças para recuperar o dinheiro por meio da guerra.
Os trágicos acontecimentos do século XX, que pensávamos não poderiam acontecer de novo, é provável que voltem a ocorrer.

O desmantelamento das estruturas ímpias é, portanto, uma tarefa estratégica da humanidade.

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Fonte: Horizons et Débats via Voci dalla Strada

2 Replies to “In Gold We Trust”

  1. No princípio era o Verbo e DEUS disse FIAT MONEY… ou melhor, foi FIAT LUX,
    Mas os deuses das finanças adaptaram aos seus interesses e então…FIAT MONEY

  2. Olá Senam!

    E um dia em Turim alguém disse: FIAT PUNTO! E compraram a Chrysler.
    Negocio esquisito este, vou tentar perceber melhor…

    Abraço!

Obrigado por participar na discussão!

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