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A diferença entre “Se” e “Quando”

E se a Grécia…? Não! Impossível!!!
Impossível? Possível. Aliás, provável.
Ou seja: certo.

Nos mercados financeiros, a dúvida não é “se” mas “quando”. A Grécia é mantida em vida artificialmente, mas de facto morreu há um ano, na altura do resgate.

O caso de Atenas é um óptimo exemplo de como foi formada a União Europeia.  Hoje é contado que o Governo grego mentiu para poder fazer parte do Euro; que recebeu a ajuda ilegal da Goldman Sachs e que ninguém, mas ninguém mesmo sabia o que se estava a passar.
Com certeza.

Perante indicadores económicos fracos e orçamentos alterados, ninguém teve a mais pequena dúvida, nem os verificadores da Zona Euro.
A verdade é que era imperioso introduzir a moeda única, com todos os Países da União Europeia incluídos. Então, porquê perder tempo em inúteis pormenores?

Isso é passado. O que interessa é o presente. E o presente diz que a Grécia vai falir. Não “se” mas “quando”.


Mas que pode acontecer com uma Grécia oficialmente falida? O que significa não poder pagar as contas? Quais as consequências se Atenas ficar sem dinheiro?

Vamos fazer uma breve lista de coisas divertidas que podem acontecer.
Cenários possíveis. Não certos, mas possíveis.

  • Os bancos gregos ficam insolventes.
  • O governo grego nacionaliza os bancos gregos.
  • O governo vai proibir o “ataque” aos bancos por parte dos cidadãos gregos.

Porque se o nosso banco falir, nós ficamos tristes com o destino da instituição: mas ficamos ainda mais tristes ao pensar que no cofre dele está (está???) o nosso dinheiro.

Então vamos até a agência mais perto para retirar quanto mais dinheiro for possível. Agora, imaginem isso repetido uma, dez, mil vezes: imaginem isso repetido por todos os clientes do banco. Não é uma situação simpática. Sobretudo quando o banco ficar sem dinheiro com uma fila de clientes ainda à porta.

Não, não tem graça nenhuma.

  • Para evitar a revolta dos investidores, como aconteceu na Argentina em 2002 (quando o presidente argentino teve de fugir de helicóptero para evitar um assalto), o Governo grego pode declarar o recolher obrigatório, talvez até mesmo a lei marcial.

Isso se a situação degenerar, claro..

  • A Grécia renomeará todas as suas dívidas em “Nova Dracma” ou uma moeda com outro nome qualquer. É o que fazem os Países falidos.

É um pouco como dizer: “calma pessoal, sabemos que temos dívidas, acabámos de mudar de moeda mas os vosso créditos estão lá todos, não há problema”. Em verdade há alguns problemas, pois a nova moeda não vale quanto a velha…mas este é outro discurso.

  • A Nova Dracma vai desvalorizar 30-70 por cento (provavelmente por volta de 50 por cento, talvez mais), baixando assim de 50% (ou mais) as dívidas (em Euros) da Grécia. 

Cá está: ser credor da Grécia nesta altura não é um bom negócio. Mas pode ser pior: pode haver um efeito “bola de neve”.

  • Os Irlandeses começam a ter dúvidas: vamos ser os próximos? Possível assalto aos bancos. Situação de Dublin muito delicada. Default? É uma possibilidade.

Mesma coisa em Portugal. O Governo de Lisboa vai esperar para ver o nível de caos na Grécia, antes de decidir o que fazer.
Decidir ou simplesmente deixar que as coisas sigam o curso natural.que significa entrar em default também.

  • Um cada vez mais elevado número de bancos franceses e alemães enfrentarão perdas particularmente pesadas: falta a capitalização necessária.

Dito de outra forma: os bancos franceses e alemães são muitos expostos em relação à Grécia. Em caso de default de Atenas, as perdas monetárias serão muito pesadas. E um banco sem dinheiro não tem um futuro particularmente risonho.

  • O Banco Central Europeu vai tornar-se insolventes por causa da exposição devida à dívida do governo grego e à dívida do sector bancário grego e irlandês. 

O BCE emprestou muito dinheiro ao Governo grego. E muito dinheiro aos bancos gregos (e irlandeses). E se todos este dinheiro desaparecer? Em teoria estes créditos não desaparecem: simplesmente são transformados em Novas Dracmas. Pena que a Nova Dracma terá o mesmo valor do papel rasgado. E que faz o BCE cheio de papel rasgado? Torna-se insolvente.

Claramente o BCE não pode falir, por isso:

  • Os governos de França e da Alemanha reúnem-se para decidir se recapitalizar o BCE ou permitir ao mesmo a impressão de dinheiro para restaurar a solvência. 

O BCE pode imprimir dinheiro para repor o estado de solvência.
É uma espécie de jogo: o quê, já não temos dinheiro? Esperem, deixem ligar a impressora e…cá está, eis um monte de dinheiro.
Este jogo seria proibido pelas leis que regulam o funcionamento do BCE. Mas também o “resgate” da Grécia era explicitamente proibido. Também o da Irlanda. Também o de Portugal. E, no entanto, foram feitos na mesma.

Claro, imprimir moeda tem custos (inflação!). Ma perante o risco dum BCE insolvente (isso é, falido), ligar a impressora seria o mal menor.

  • O BCE recapitaliza-se; e recapitaliza também os bancos privados em sofrimento.

O sistema bancário europeu não pode entrar em falência. E já que a impressora foi ligada, melhor aproveitar e pôr um pouco de ordem na casa.
Obviamente, nesta altura é claro que os resgates acabaram duma vez por todas.

E isso tem uma consequência imediata: imaginem de ser dono duma obrigação espanhola e saber que um eventual resgate está fora de questão. A pesado, não é?

Pois: a Espanha vai ser a próxima vítima dos “especuladores” e você tem na mão um papel assinado pelo Governador da Banco Espanhol; o qual promete de devolver o empréstimo com juros, no prazo de poucos anos ou até meses. O problema é que você sabe que no prazo de poucos anos ou até meses, a Espanha terá a Nova Peseta…

Assim: Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha…e depois?
Depois há Itália e Reino Unido. Talvez França.
E aí começa a parte mais divertida.

Lembrem: não é “se” mas “quando”…

Ipse dixit

Fonte: The Telegraph