Aliás, é exactamente o contrário: estamos numa fase na qual ninguém pode dizer com certeza o que se passa e, sobretudo, qual a futura evolução.
Mas uma coisa parece clara: Fukushima tem ainda algo para dizer.
E estas não são boas notícias.
Em 1979, James Bridges realizou um filme com Jane Fonda, Jack Lemmon e Michael Douglas. Título: The China Syndrome, A Síndrome Chinesa.
Ambientado numa central nuclear, o filme trazia pretexto duma teoria segundo a qual, em caso de fusão do “core”, o núcleo da central, este teria começado a fundir o chão e penetrar a terra sem que nada pudesse para-lo.
Teria saído do outro lado do planeta, “na China”.
A teoria não está correcta, pois o núcleo não atravessaria o planeta. Mas as eventuais consequências duma fusão seriam catastróficas.
Mas que tem isso a ver com Fukushima? A resposta é simples: segundo os cálculos dos engenheiros da Tepco (a sociedade que gere as usinas), todo o núcleo está fundido.
Ninguém pode ter a certeza, pois entrar nas ruínas da central é impossível; mas os milhares de toneladas de água injectados até agora já deveriam ter enchido o que resta da usina. E tal não aconteceu.
Explicação: a água encontrou uma via de fuga; mas onde?
Resposta mais provável: através do cháo, onde o núcleo fundido abriu uma abertura no chão.
A versão original da Síndrome Chinesa previa que o núcleo atingisse as águas subterrâneas e, ao entrar em contacto com estes, explodisses, projectando para o céu uma nuvem altamente radioactiva. Com efeitos que bem podemos imaginar.
Na realidade, o acidente de Three Miles Island, em 1979, mostrou que o núcleo não consegue atingir as águas subterraneas e não explode. Ainda bem.
Mas os milhares de toneladas de água que “escaparam” da central? Esta é água radioactiva, tendo entrado em contacto com o núcleo, e poderia bem contaminar os reservatórios naturais abaixo do solo.
Em teoria, claro.
Na prática, em caso de fusão, as operações de limpeza tornam-se bastante mais complicadas.
A Tepco já começou as operações para instalar uma cobertura que impeça a saída de mais material radioactivo.
Uma medida temporária, que não impediu a evacuação de outros 5.000 moradores de Kawamata e Iitate, cidades a cerca de 30 km da usina, bem além da zona de exclusão de 20 km.
E mais evacuações são esperadas nos próximos dias.
Entretanto, cerca de 3.400 bovinos, 31.500 suínos e 630 mil frangos foram abatidos dentro da zona de exclusão, pois alimentá-los revelou-se impossível.
Ipse dixit.