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Já falámos disso. Vou ao dentista.

Imaginem um mar de nevoeiro. Nós tentamos obter uma orientação, mas nada é possível ver. De vez em quando aparece uma ilha: pequena, nem muito bonita, mas é sempre uma ilha. Nem o tempo de posar o pé e já ouvimos gritos no ar: “Não é aí, não é aí! Não é uma ilha, é uma cilada, está preste a mergulhar!”. Então voltamos no nosso pequeno parco e começamos, outra vez, a procurar um pedaço de verdadeira terra. E a cena repete-se dez, cem, mil vezes.

Estes somos nós confrontados com o mundo da informação. Que depois é o espelho do mundo onde vivemos.

Surge uma notícia e logo a seguir a contra-notícia. E o leitor fica com dúvidas: qual será a versão correcta?

O caso Strauss-Khan, por exemplo.
O chefe do Fundo Monetário Internacional, uma organização criminal com estatuto de oficialidade, é preso enquanto tenta fugir de avião após ter tentado violar uma mulher.

Parece tudo “normal”, nem é a primeira vez que o bom Dominique fica em sarilhos por causa da própria doença (não consegue controlar os seus impulsos sexuais); e o delírio de omnipotência, a ideia que uma vez atingidos determinados níveis podemos fazer tudo e mais algumas cosias, faz o resto.

Nem passam 24 horas e já aparece uma segunda versão: nada de violação, o pobre Strauss-Kahn foi vítima duma cilada. e também alguns leitores deste blog realçam esta possibilidade nos comentários.

Eis as dúvidas: qual a verdade?
Resposta: não há uma verdade, mas duas. Na primeira o bom Dominique tentou violar uma mulher, na segunda a mulher era parte duma conspiração.

Há maneira de estabelecer qual destas versões for a “mais verdadeira”?
Resposta: não, não há. Existem argumentos a favor duma e da outra. A única coisa que podemos fazer é escolher a “verdade” mais “simpática”. Do ponto de vista subjectivo, claro.

O caso de Strauss-Kahn é sintomático: de facto, não há um assunto que possa fugir deste esquema.

Bin Laden foi morto pelas unidade especiais no Paquistão? É Khadafi que bombardeia os civis ou é  a Nato? Os últimos terramotos foram naturais ou artificiais? A Terra aquece ou arrefece? Os UFO existem ou não? Etc., etc., etc…

É tudo isso normal?
Resposta: sim, é normal.

Dum lado temos internet que deu voz a todas as pessoas que decidiram abrir um blog para divulgar o próprio ponto de vista. Como o caso de Informação Incorrecta. E dado que cada um de nós tem uma visão pessoal do Mundo, eis que as suspeitas são amplificadas até tornar-se segundas ou terceiras verdade.

Doutro lado manter a confusão é um jogo que já conhecemos: divide et impera, diziam os Romanos, dividir para conquistar. É por isso que foram criados o Capitalismo e o Comunismo; é por isso que continuamos a gastar as nossas energias na eterna luta entre Esquerda e Direita. É por isso que por casa movimento existe o seu oposto e contrário.

Exasperar o desnorte, abater qualquer segurança, é a maneira melhor para impedir que o Homem possa perceber qual a própria condição. E tomar as consequentes decisões.

Soluções? Talvez.
Neste blogue podem encontrar um convite, aliás, dois: duvidar (sempre) e utilizar a própria cabeça.

Duvidar pode parecer um paradoxo: num mundo de dúvidas, vamos acrescentar mais dúvidas?

Mas é um paradoxo aparente: a verdade é que num mundo de dúvidas pré-confecionadas, nós vamos utilizar as nossas próprias dúvidas. O que é bem diferente. Porque a primeira nossa dúvida será “Quem ganha como tudo isso?”. E ao encontrar a resposta, podemos (não sempre, mas muitas vezes) perceber qual o jogo.

A seguir: utilizar a própria cabeça. Porque cada um de nós sabe o que é o Bem e o que é o Mal.

Não é muito? Talvez não. Mas num Mundo em fase de desmoronamento, quando as certezas velhas de décadas ou séculos parecem derreter, poder contar com a própria cabeça e não acreditar passivamente em tudo o que vemos, já é alguma coisa.

Pode pensar o leitor: “Caro Max, este post não é grande coisa.”
Em verdade, em verdade vós digo: tenham fé, pois se a dentista conseguir resolver o meu problema, amanhã teremos novos posts.
“E se não conseguir?”
Em verdade, em verdade vós digo: nem me falem nisso!
Aliás, vou já ligar para marcar uma consulta urgente.

Que a Força esteja convosco.
Qual Força?
Sei lá eu, uma Força…

Ipse dixit.