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Uma Copa, um tijolo, as favelas (Update)

Nota previa

Continuo a receber, agora sobretudo via e-mail, criticas não ao seguinte artigo mas contra mim.

Pessoal, vamos ver se conseguirmos interpretar o que está aqui escrito, pode ser? 

“Factos relatados por Al Jazeera” significa que quem fez esta descrição não fui eu, mas Al Jazeera, que não é minha irmã mas uma emissora de televisão jornalística do Catar, que transmite em língua árabe e inglês. 
Eu traduzi este artigo.

“São um exagero ou uma descrição fiel?” é uma pergunta, e significa: “será que os factos que Al Jazeera conta são verdade ou não?”

“E agora a palavra é dos leitores.” é um convite à discussão, não é uma admissão de culpa do género: “Pronto escrevi um disparate, agora podem começar a ofender-me sem limites” 

Ficou um pouco mais claro? É só ler as palavras que aparecem, ninguém neste blog está a atacar a honra do Brasil, podem ficar descansados. 

Obrigado pela atenção.

Uma Copa, um tijolo, as favelas

Eis um artigo para os leitores do Brasil.

O que acham desta situação?
Os factos relatados por Al Jazeera são um exagero ou uma descrição fiel?
E quais as eventuais consequências? Pois a situação parece complicada…
Vamos ver o artigo.
A Copa e o Tijolo
O Brasil será a sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. 
No nosso século, estes eventos desportivos exigem estádios e hotéis. 
O País anfitrião tem de fornecer um aparato de segurança enorme, a disponibilidade em negar os direitos civis e a vontade de criar o tipo de infra-estrutura que estes jogos exigem. 
O que não significa apenas estádios, mas estádios de sonho.  
Isso não significa apenas segurança, mas o uso das últimas tecnologias anti-terrorismo. 
Isso significa não apenas novas linhas de transporte, mas também esconder a pobreza daqueles que viajam para assistir aos jogos.  
Isso significa a intenção de gastar bilhões de Dólares na criação dum paraíso para os turistas internacionais e os patrocinadores das multinacionais.
Todos os dias, nas favelas, que rodeiam as maiores cidades do Brasil, estes festivais internacionais do desporto invocam métodos severos. 
Aminsty International, as Nações Unidas e até mesmo o Comitê Olímpico Internacional, com o medo de ver “manchado” o próprio nome, questionam-se. E nem é difícil entender a razão.

Esta semana aconteceram coisas graves, com as escavadoras que destruíram as favelas, tudo para tornar o Brasil pronto para os Jogos. 

Centenas de famílias da Favela do Metro ficaram assim no meio dos escombros, sem um lugar para onde ir depois duma implacável demolição ordenada pelas autoridades brasileiras. 
Após ter derrubado as casas das famílias, mesmo antes destas terem sido capazes de encontrar uma alternativa ou de serem transferidas, o governo está em flagrante violação dos princípios elementares dos direitos humanos.

Como relatado pelo The Guardian, as favelas de tijolos foram rasgadas pelas escavadoras e as ruas estão agora cobertas por uma espessa camada de destroços e metal retorcido. À noite, os drogados ocupam as ruínas, preenchem o que sobrou das casas com garrafas vazias, colchões e tubos improvisados para o crack, enquanto o cheiro dos excrementos paira no ar.

 

Um morador duma favela, Eduardo Freitas, diz: “Parece estar no Iraque ou na Líbia. Já não há nada nem ninguém. É uma cidade fantasma.”

Freitas não precisa dum mestrado para perceber o que se passa: “A Copa do Mundo já começou e eles querem esta área. Acho isso desumano”.

A Assessoria da Casa em Rio disse que tudo é feito em nome do “desenvolvimento” e ao renovar a área está a dar para as pessoas das favelas um pouco de “dignidade”.

Talvez o conceito de “dignidade” para os burocratas esteja perdido, num mundo onde o teu bairro pode tornar-se um parque para os ricos fãs do rico futebol. E será possível ver muita desta “dignidade”. 

De acordo com Julio Cesar Condaque, um activista que se opõe à destruição de favelas, “desde agora até a Copa do Mundo em 2014, meio milhão de famílias serão desalojadas em todo o Brasil”.

Christopher Gaffney, Professor Externo na Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, e Vice-Presidente da Associação Nacional dos Torcedores:

É como uma queda livre rumo a um paraíso neo-liberal. Vivemos numa cidade que é projectada por empresas de public relations e realizada por um Estado autoritário com os parceiros das multinacionais.

Estes eventos são gigantescos cavalos de Tróia que nos deixam atordoados e impressionado com a capacidade de transformar os lugares e as pessoas, enquanto em acção há um governo paralelo que usa recursos públicos para gerar lucros privados.

Como numa invasão militar, a única forma para ocupar o País com uma mega- evento é bombardear as pessoas com informações, livrando-se dos indesejáveis ​​e lançando uma campanha de comunicação que ridiculariza as vozes alternativas, na tentativa de apresenta-las como vozes de pessoas que detestam o desporto e o progresso.

É uma trajectória impressionante. Pinochet morreu, mas o seu “Tijolo”, como os Chilenos chamavam o programa manifesto económico dele, ainda está entre nós. 
Esperamos uma série de protestos no Rio, rumo aos jogos. E também esperamos umas reacções que não deixarão margens para palavras como “democracia” ou “respeito”.
E agora a palavra é dos leitores.
Ipse dixit.

Fonte: Al Jazeera 

Tradução: Informação Incorrecta