Novidades? Poucas.

Mesmo ontem Informação Incorrecta referiu das vozes acerca da Grécia, que poderia (o condicional é obrigatório) abandonar a Zona Euro. Ou enfrentar uma reestruturação.

E, logo a seguir, chega a resposta das agência de rating: Standard and Poor’s baixa o nível da dívida de Atenas: antes B, agora BB-, isso é, lixo.

Moral: não se brinca com o dinheiro dos bancos. Dinheiro que os bancos livremente investiram na dívida grega, com o único objectivo de obter lucros graças à elevadas taxas de juro, óbvio. Mas sempre dinheiro dos bancos e, por isso, sagrado.

Entretanto a Grécia responde ás acusações da Alemanha, que antevê uma saída da Zona Euro.
Atenas não gosta e abre um inquérito contra a revista Der Spiegel. A qual evidentemente não fica assustada e responde que Atenas não conseguirá recuperar uma situação económica decente e nunca será capaz de pagar a própria enorme dívida.

Investigamos!

E agora que fará Atenas? Abrirá uma nova investigação?
Não, é Lisboa que investiga. E o alvo são as agências de rating.

O Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) decidiu abrir um inquérito contra três agências de “rating” internacionais, depois das queixas apresentadas por quatro economistas.

No início de Abril, os economistas José Reis e José Manuel Pureza, da Universidade de Coimbra, e Manuel Brandão e Maria Manuela Silva, do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), pediram a abertura de um inquérito contra as agências, alegando que estão a cometer crime de manipulação do mercado.

O DCIAP analisou os argumentos expostos nas queixas e considerou haver elementos suficientes para abrir um inquérito-crime às agências de “rating” Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch.[…] Na altura da entrega da queixa na Procuradoria-Geral da República, José Reis afirmou que as agências que “intervêm no mercado português dominam mais de 90 por cento do mercado” internacional, pelo que “é preciso saber se as leis da concorrência são respeitadas”.

Duas dessas agências têm inclusive um “mesmo fundo de investimento como proprietário”, advertiu o economista, e as decisões que tomam, que “influenciam as taxas de juro”, têm um impacto significativo no endividamento dos países, “podendo afectar a sua estabilidade” financeira e económica. 

Tudo bem, não servirá para nada: e a investigação será abafada em qualquer escritório do Ministério da Justiça. Mas é bom que o assunto comece a sair do “círculo das pessoas que sabem”, que seja notícia, até nos diários nacionais.
Parabéns aos investigadores da Universidade de Coimbra, vamos seguir os desenvolvimentos.

Reestruturamos!

Voltamos à Grécia.
Embora o silêncio dos media, a situação é grave. E não apenas do ponto de vista económico ou financeiro.
Sim, os juros sobre a divida atingiram o 15% (!!!), o que é absolutamente insustentável. Mas, além disso, há protestos contra o Governo, quase a cada dia, e Atenas está mergulhada no caos. 

Ninguém sabe o que fazer para tentar resolver a situação: nem novas medidas de austeridade, nesta altura,poderiam ajudar, pois o problema já não é reduzir as despesas: o problema é sair da espiral que tem apenas uma saída, a bancarrota. 

Em verdade haveria uma solução: imprimir notas, inflacionar a própria moeda. Mas o Governo de Atenas não quer percorrer esta via, sabe lá a razão. 
Como? A Grécia não tem moeda própria pois faz parte do Euro? Ah, pois, é verdade, tinha esquecido… 

A bancarrota de Atenas assusta a Europa. E isso apesar do bloco franco-alemão ter tentado acalmar os observadores. Como é que dizia o último relatório do Geab?

Por outro lado, acreditamos que a questão da dívida pública dos Países periféricos na Zona Euro já não é o principal factor de risco para a Europa, mas este factor será o Reino Unido, que estará na posição de “homem doente da Europa “.

A Zona Euro concebeu, e continua a melhorar, todos os sistemas de controlo necessários para resolver estes problemas. A gestão dos problemas gregos, portugueses e irlandeses, então, terá lugar duma forma organizada.

Com certeza. E, acrescentamos, o caçador matará o lobo mau que tanto assustou Capuchinho Vermelho.

Uma remédio temporário pode consistir na imediata e parcial reestruturação da dívida. “Parcial” pois não implicaria uma redução da dívida, mas uma simples revisão dos prazos de pagamento. Na prática, dar um pouco de folga às desastradas finanças gregas. É esta uma das hipóteses que circula em Berlim, por exemplo.

Mas não é nem poderá ser a solução, pois a Grécia precisa de mais. Precisaria de um economia em fase de retoma, precisaria de aumentar as exportações com uma moeda um pouco mais débil. 
Eh? A Grécia não pode desvalorizar a própria moeda pois faz parte do Euro? Pois é, tinha esquecido… 

Precisaria de tornar mais leve a carga fiscal porque cidadãos sem dinheiro no bolso significa cidadãos que não gastam. Mas os Gregos têm que ficar sem dinheiro no bolso, pois esta é a mágica receita do FMI. E bla, bla, bla, coisas que já sabemos. 

Por isso abandonemos o berço da Democracia e vamos falar dum País que problemas económicos não tem: a Alemanha.

Despedimos!

O colosso Thyssen Krupp começou um grande programa de reestruturação. Resultado: +8% na Bolsa de Valores. Wow…

Não só: mas abriu uma nova sede no Brasil, na zona de Rio de Janeiro, o que custou mais de 5 mil milhões de Euros. Wow (nº 2)…

E falamos duma empresa que dá trabalho a mais de 177 mil pessoas. Wow wow wow!!!

…177 mil pessoas ou quase: pois agora 35 mil vão ficar no desemprego.

O que, dito entre nós, é justo: afinal alguém tem que pagar a factura.

Ipse dixit.

Fontes: Informazione Scorretta, Der Spiegel, Diário de Notícias, Il Grande Bluff

4 Replies to “Novidades? Poucas.”

  1. O Mário Soares foi um grande amigo quando nos colocou na CEE…

    Já agora, alguém me sabe dizer os nomes dos lobbistas que meteram o país na CEE?

    A minha questão é esta:
    Em 1985, face a uma integração numa política europeia que iria obrigar o nosso país a racionar a produção e a exportação (tornando-nos dependentes)…será que ninguém reparou no quanto isso era mau? Houve alguém a influenciar a decisão da entrada do país na CEE? Quantos receberam dinheiro "p'la porta do cavalo" para colocar um alvo na testa de cada português?…para já não falar da entrada na zona EURO…que foi mais um tiro no pé. Quem são os cabecilhas desta operação a nível do nosso país?

    Se alguém me der uma ajuda, fico muito agradecido.

    E obrigado por mais um post MAX,
    — —
    R .Saraiva

    Abraço também ao meu amigo Xenofonte! :$

  2. Olá Saraiva!

    Eu vivi, como todos os Europeus, a formação da Zona Euro. E lembro que na altura o que aconteceu foi uma loucura.

    Na altura ninguém gostava de lembrar os eventuais aspectos negativos e era explicado que a futura Europa teria tido a força necessária para ultrapassar qualquer obstáculo. Pois é sabido que "a união faz a força". Ou, se preferirmos, "Um por todos, todos por um".

    Mais: os poucos que criticavam, o faziam isso por razões ideológicas (que automaticamente desqualificam), como o caso dos Comunistas (que, é bom lembrar, são sempre "contra"), ou eram acusados de pertencer ao passado, de ser retrógrados, desactualizados, etc. etc.

    Mais ainda: na altura o projecto Euro era visto como natural consequência da União Europeia. Pois esta não tinha ainda começado a mostrar a sua verdadeira face. Pelo contrário: era uma altura na qual pedia-se 100 e Bruxelas dava 1.000.

    Moral: todo foi construído duma forma meticulosa, para apresentar uma ementa que parecia o banquete do Rei. Só com o tempo ficou claro que a ser cozinhados fomos nós…

    Agora, que alguém ganhou com isso, parece-me óbvio. Que dizer, uma prendita não se nega a ninguém. E ser for um político, tão "ita" nem pode ser…

    Abraço! (também para Xeno!)

  3. Oi Max sobre a Thyssen no Brasil o ano passado uma amiga que dava aula de portugues pra alguns alemaes do grupo me dizia que a mega fabrica que estavam construindo tava muito atrassada porque erraram calculos , o terreno nao suportou o peso e cedeu, se precisou aumentar e de muito o orçamento… E os trabalhadores que a assemblavam assim como as peças vinham da China, alias os obreros da construçao nao saiam de là e viviam como escravos…Desculpe os erros gramaticais e a falta de accentos…

  4. Olá Anónimo!

    Muito interessante mesmo: uma fábrica fecha na Europa, abre no Brasil para trabalhar peças da China. Isso sem falar das condições dos trabalhadores.

    Esta é a globalização no seu melhor.

    Muito, muito interessante: obrigado!
    E um abraço!

Obrigado por participar na discussão!

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