GEAB nº 54: As previsões para o próximo semestre – Parte I

Após um longo período, voltamos a às previsões do Geab.
O que é este Geab? Boa pergunta. Podem encontrar a resposta neste link, um antigo post de Informação Incorrecta.

Os defeitos desta analise continuam aí todos, e são os mesmos que provocaram a interrupção da publicação neste blogue: os especialistas do Leap continuam a considerar o Reino Unido como a “ovelha negra” do Velho Continente, profetizando para a terra da Rainha desgraças após desgraças (como fizeram com a queda do Banco de Inglaterra, por exemplo) que depois não acontecem.

Doutro lado, neste mesmo número, grande apreciação para a obra do Euro que, passo a citar, “concebeu, e continua a melhorar, todos os sistemas de controlo necessários para resolver estes problemas”.
Um observador externo poderia quase pensar que a crise do Euro foi um pesadelo, verdade, mas que agora as coisas estão a melhorar e que tudo está sob controle.

Nem uma palavra, por exemplo acerca da realidade espanhola, que mesmo nestes dias fornece sinais preocupantes.  
Nem uma palavra acerca da próxima vítima dos “especuladores”, como se o “resgate” de Portugal tivesse posto o ponto final no ataque à Zona Euro. Ideia que, não por acaso, já tinha sido transmitida após o “resgate” da Grécia e da Irlanda.

Resumindo: uma visão muito franco-alemã da realidade.

Mesmo assim, num dia em que todos os sites e blogues do Mundo parecem obcecados com a morte do Senhor do Mal (a propósito: morreu Bin Laden, sabiam?), a coisa melhor acho ser não alimentar a farsa e dedicar-se a outros assuntos.

Como as previsões do Geab, por exemplo.

Crise sistémica global: Outono de 2011

No dia 15 de Setembro de 2010, o Geab nº 47 foi intitulado “Primavera de 2011: Bem-vindos nos Estados Unidos da austeridade / Na direção do grave colapso do sistema económico e financeiro global”.

No entanto, no final do Verão de 2010, a maioria dos especialistas acreditava que o debate sobre o déficit orçamentário dos Estados Unidos continuaria a ser objecto de discussões teóricas e que era impensável imaginar que os Estados Unidos deveriam envolver-se numa política de austeridade, pois teria sido suficiente deixar a Federal Reserve imprimir dinheiro.

Mas como todos podem ver, a Primavera de 2011 significará realmente austeridade nos Estados Unidos, a primeira após a Segunda Guerra Mundial.

Nesta fase, o LEAP/E2020 pode confirmar que a próxima etapa da crise será realmente o gravíssimo colapso do sistema económico, monetário e financeiro mundial, e que este histórica queda terá lugar no Outono de 2011. As consequências deste colapso político monetário, financeiro, económico e geopolítico terão proporções históricas, e tornarão claro o significado da crise do Outono de 2008: um simples detonador.

A crise no Japão, as decisões da China e a crise da dívida na Europa, sem dúvida, irão desempenhar um papel importante nesta queda.

Por outro lado, acreditamos que a questão da dívida pública dos Países periféricos na Zona Euro já não é o principal factor de risco para a Europa, mas este factor será o Reino Unido, que estará na posição de “homem doente da Europa “.

A Zona Euro concebeu, e continua a melhorar, todos os sistemas de controlo necessários para resolver estes problemas.

A gestão dos problemas gregos, portugueses e irlandeses, então, terá lugar duma forma organizada. O facto dos investidores privados receber um “corte” não constitui um risco sistémico, lamentamos que o Financial Times, o Wall Street Journal e os peritos de Wall Street e da City procurem a cada três meses repetir o “golpe” da crise do início de 2010 na Zona Euro.

Em contrapartida, o Reino Unido tem falhado completamente na tentativa de “cirúrgica de amputação preventiva do orçamento”.

Na verdade, sob a pressão da “rua” e, em particular, dos mais de 400 mil britânicos nas ruas de Londres no passado 26 de Março de 2011, David Cameron foi forçado a baixar o seu objectivo de redução dos custos sanitários (uma parte essencial das suas reformas).

Ao mesmo tempo, a aventura militar líbia também o obrigou a repensar as suas metas nos cortes no orçamento do Ministério da Defesa. Já mencionamos, na última edição do Geab, que as necessidades financeiras do Governo britânico continuarão a crescer, reflectindo a ineficácia das medidas anunciadas, a execução das quais está-se a revelar, de facto, muito decepcionante.

O único resultado da dupla política Cameron / Clegg é agora a recaída em recessão do Reino Unido com um claro risco de implosão da coligação no poder após o próximo referendo sobre a reforma eleitoral .

Nesta edição, a nossa equipa descreve os três principais fatores deste grave colapso no Outono de 2011 e as suas consequências.

Enquanto isso, os nossos pesquisadores começaram a investigar o desenvolvimento de operação militar franco-anglo-americana na Líbia, o que acreditamos ser um poderoso acelerador da dissecção geopolítica, e útil para iluminar algumas das mudanças estruturais em curso nas relações entre as potências mundiais.

Em essência, o processo que se desenrola diante dos nossos olhos, segundo a qual a entrada dos Estados Unidos numa época de austeridade é apenas uma mera expressão de orçamento, é a continuação da tentativa de fazer “enquadrar” 30 milhões de milhões (30.000.000.000.000) de activos “fantasmas” que tinham invadido a economia global e o sistema financeiro em 2007.

Enquanto cerca de metade tinham desaparecido em 2009, os restantes já foram parcialmente ressuscitados, por causa da determinação dos principais bancos centrais, particularmente a Federal Reserve através dos seus Quantitative Easing QE1 e QE2.

A nossa equipa acredita que, portanto, cerca de 20 milhões de milhões de ativos irão desaparecer em fumo, brutalmente, no início do Outono de 2011, sob o impacto combinado das três mega-crises dos Estados Unidos:

  1. a crise do orçamento, ou seja, de como os Estados Unidos irão mergulhar numa austeridade sem precedentes, arrastando inteiros sectores da economia e das finanças globais;
  2. a crise dos T-Bonds, ou seja, de como a Federal Reserve vai chegar ao fim do percurso que começou em 1913, e de como será capaz de lidar com o fracasso da prestidigitação contabilística.
  3. a crise do Dólar dos EUA, ou seja, de como os choques sobre a moeda dos EUA, que vai caracterizar o final do QE2 no segundo trimestre de 2011, será o início duma desvalorização maciça (cerca de 30% em poucas semanas).


Os bancos centrais, o sistema bancário global, os fundos de pensão, as empresas de matérias-primas, a população dos EUA, as economias do Dólar, o comércio dos Estados Unidos; tudo o que estruturalmente dependente do Dólar, as actividades ou as operações denominadas em Dólares; tudo sofrerá com uma terrível dor de cabeça com o choque dos activos fantasmas, simplesmente desaparecidos dos seus orçamentos e/ou investimentos, o que irá causar um sério declínio dos seus rendimentos.

Transferência de fundos para os trabalhadores migrantes em os EUA para seus países de origem (o primeiro número na moeda local, a taxa de câmbio com o dólar no final de 2008 – o segundo: a primeira, mas a taxa de de câmbio ao final de 2010) – Fonte: Wall Street Journal, 04/2011

Quanto ao histórico choque no Outono de 2011, as principais áreas de actividade irão experimentar grandes rupturas, o que exigirá a máxima vigilância por parte de todos os interessados.

Na verdade, esta tripla crise dos Estados Unidos irá marcar a saída real do mundo do “pós-1945”, um período que viu os EUA desempenharem o papel de Atlas e que será caracterizado, portanto, por muitos choques e tremores nos próximos trimestres.

Por exemplo, o Dólar poderá reforçar-se a curto prazo face às principais moedas mundiais (especialmente se as taxas de juros os EUA tivessem que subir rapidamente após o final do QE2), mesmo que, no prazo de seis meses, o perda de 30% no valor seja inevitável.

Nós só podemos repetir o conselho que sempre apareceu nas nossas recomendações, desde o início do nosso trabalho: num contexto de uma crise global de proporções históricas, como a que estamos a viver, o único objetivo racional para os investidores não é fazer mais dinheiro, mas tentar perder o menos possível.

Isto será particularmente verdadeiro nos próximos trimestres, durante o qual o ambiente de especulação irá tornar-se altamente imprevisível no curto prazo.

Esta imprevisibilidade será devida ao facto das três crises dos EUA, que desencadearão o grave colapso global, não serem concomitantes.

Essas estão intimamente relacionados, mas não lineares.

Enquanto uma delas, a crise orçamental, é diretamente dependente dos fatores humanos que têm uma grande influência sobre o calendário dos eventos, as outras duas (qualquer coisa possam pensar os que veem os funcionários da Fed como deuses ou como demónios) são incluídas, na maior parte, numa tendência no contexto da qual ações dos líderes dos EUA tornaram-se marginais.

…zzzzzzzzzz…eh? Acabou? Ah pois, acabou. Mas só a primeira parte.
Em breve a segunda.

Até já!

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