Ontem à noite, o Primeiro Ministro de Portugal, José Sócrates, anunciou as medidas do Fundo Monetário Internacional.
Primeira observação: eu estava a seguir o encontro de futebol entre Barcelona e Real Madrid, quando foi anunciado que ao longo do intervalo o Primeiro Ministro falaria ao País acerca do assunto.
E fiquei preocupado. “Não é que agora, com a história do FMI, o fulano vai sobrepor-se ao encontro de futebol? Não é que por culpa dele vou perder 5 ou 10 minutos de Messi?”.
Para boa sorte, Sócrates foi de palavra (é favor apontar a data no calendário): tinha dito “ao longo de intervalo” e ao longo do intervalo foi. Nem um minuto do precioso encontro perdi.
O destino do País ficou assim perfeitamente encaixado entre um passe de Iniesta e uma falta de Carvalho.
Enfim, uma questão de prioridade. (e já que estamos a falar do assunto: repararam? O destino do País é quase tão importante quanto uma Semi-Final de Champions League. Ok, não uma Final, mas enfim…).
Segunda observação: em verdade o Primeiro Ministro não disse quais as medidas que serão adoptadas, disse quais as que não serão adoptadas.
Eis as exactas palavras:
Não mexe no 13.º mês, nem no 14.º mês, nem os substitui por nenhum título de poupança;
Não mexe no 13.º mês, nem no 14.º mês dos reformados;
Não tem mais cortes nos salários da função pública;
Não prevê a redução do salário mínimo;
E, ao contrário do que ainda hoje diz um jornal, não corta nas pensões acima dos 600 euros – mas apenas nas pensões mais altas, acima dos 1 500 euros, como se fez este ano nos salários e como estava previsto no PEC [Pacto de Estabilidade e Crescimento, NDA]. Mais: está expressamente admitido o aumento das pensões mínimas, tal como o Governo sempre pretendeu.
Com este acordo o Governo garante também que:
Não terá de haver nenhuma revisão constitucional;
Não haverá despedimentos na função pública;
Não haverá despedimentos sem justa causa;
Não haverá privatização da Caixa Geral de Depósitos
Estamos assim perante uma nova forma de anunciar medidas importantes ao País: começa-se com o dizer o que não será feito e nos dias seguintes, talvez, pode ser, esperamos que sim, serão conhecidas as coisas a fazer.
Parece coisa estúpida , mas não é, pois temos de lembrar que a comunicação foi feita no intervalo dum importante jogo de futebol, uma Semi-Final da Champions League.
Agora, imaginem vocês em frente da televisão com as pipocas numa mão e o comando na outra; aparece o Primeiro Ministro que começa: “Queridos Portugueses, a partir de amanhã os vossos ordenados serão cortados em 20%”.
Bastaria uma comunicação destas para arruinar toda a segunda parte do jogo, uma noite de desporto estragada. E isso não se faz.
Além disso, é uma forma de tranquilizar a opinião pública:
“Será que a Caixa Geral de Depósitos vai ser privatizada?”
“Não, apenas vais pagar mais impostos”
“Ah, tá bom, isso é o menos”.
Gosto deste estilo. E não seria mal que começasse a ser exportado.
Guerra contra a Líbia? O anúncio poderia ser feito assim:
“A resolução 1976 da ONU prevê que a Noruega não seja atacada pelas forças da Nato”. Festa grande na Noruega.
“E nem o México”. Festa grande no México.
“E nem a Antártica”. Festa grande dos pinguins.
A pensar bem, seria uma forma de espalhar felicidade pelo Mundo.
E nasceu mesmo aqui, em Portugal.
Ipse dixit.
Fonte: Público
Fotografia: Diário de Notícias
Os portugueses são resilientes Max já sobreviveram a outras crises, algumas incríveis como desaparecimento de Dom Sebastião, a guerra global contra as Províncias Unidas, o terremoto de Lisboa, o fim do Reino Unido em 1825, a guerra civil entre conservadores e liberais, ditadura salazarista, as guerras de ultramar. É uma história de crises. FMI é um problema pois limita a soberania e para fazer empréstimos exige uma lista de bens a serem "privatizados". Praticamente uma agência para a promoção do liberalismo econômico. Continuando sobre o tema, crise mesmo vivem os estadunidenses, apesar das aparências, um bom texto sobre mais um desenlace: http://brasilnicolaci.blogspot.com/2011/05/eua-vao-suspender-emissao-de-titulos-da.html
A mim palpita-me que tudo o que ele disse que não ia fazer é mesmo aquilo que vai acontecer.
aquilo que quis dizer no comentário anterior, que acho que não está bem explicito, é que todas as medidas que o Trocaste disse que não ia fazer vão ser aquelas que vai fazer mesmo. Portanto para saber quais são as medidas basta tirar o não em cada uma delas