Os Nomes – Parte II

Segunda parte do artigo.
Que, repito, é comprido. Mas vela bem a pena.

Cidadãos participativos “desactivados”. 
  

Samuel Huntington

A última peça para submeter os Estados e as democracias as elites financeiras, industriais e globais eram os cidadãos participativos, os que tinham cultivado o espírito das revoluções democráticas do século XIX e XX.

O objectivo era torna-los apáticos e incapazes de agir em público.  

Dois pensadores norte-americano, Walter Lippman e Edward Berneys, deram o arranque para a manipulação já na década de ’30, de acordo com a crença de que os cidadãos são “outsiders aborrecidos”; depois foram os profetas da Existência de Negócios e da Cultura da visibilidade mediática, com em destaque os nomes de Lewis Power (O Memorando, 1971), Samuel Huntington, Joji Watanuki e Michel Crozier (A Crise da Democracia, 1975).  

Resultado: as massas de todos os Ocidentais modernos paralisados e manipulados.

Evitar a qualquer custo que os Estados possam usar o próprio dinheiro soberano e criar bem-estar social. 

Em 1971, o presidente Nixon, por decisão unilateral, ressuscitou o dinheiro criado a partir do nada e sem limites de criação. 
Com este tipo de dinheiro, os Estados podem gastar com quase nenhum limite de deficit para criar o pleno emprego, pleno bem-estar e plena infra-estrutura. Ou seja, a plena riqueza social pública.  

American Enterprise Institute

Uma altura decisiva, pois isso poderia ter representado o fim das aspirações históricas do Verdadeiro Poder de controlar o destino económico dos Estados, que com a arma da nova moeda e a legitimidade popular democrática teriam sido incontestáveis.  

Os fantasmas da dívida, do deficit e da inflação foram criados especificamente para incapacitar os Estados nessas funções, ou seja, paralisar os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, mas também toda a Europa nos 20 anos que eram necessários para aniquila-la com a criação da União Europeia e do Euro. 

O trabalho de colonização dos cérebros em posição de gestão (ou seja, economistas, professores, técnicos do Ministério, os tecnocratas dos vários departamentos, jornalistas e políticos) foi implementado por uma rede de Fundações pelas quais quase todos os ditos cérebros passaram ao longo da formação ou como membros.  

Os principais são:

Adam Smith Institute

Estados Unidos: American Enterprise Institute, Cato Inst., Heritage Foundation, Olin Found., Volker Found., Atlas Found., Coors Found., Rockefeller Found., Acton Institute, Washington Policy Center, Manhattan Institute for Policy Research;
Reino Unido: Adam Smith Institute, Institute of Economic Affairs, Stockholm Network, Bruges Group, International Policy Network;
França: Association pour la Liberté Economique, Eurolibnetwork, Institut de Formation Politique
Italia: CUOA, Adam Smith Society, Istituto Bruno Leoni, Acton Italia, Arel, CMSS, Nomisma, Prometeia;
Alemanha: Institut fuer Wirtschaftsforschung Halle, Institut fuer Weltwirtschaft, Institut der Deutschen Wirtschaft Köln;
E praticamente em todo o mundo: Mont Pelerin Society.    

 
Os políticos devem ser treinados (e lubrificados) depressa.

Paul Volcker

Literalmente, essa foi a idéia do fundador do American Heritage Foundation, Ed Feulner, que entendia como possível influenciar as escolhas dos políticos, fornecendo resumos de temas ad hoc, simples, curtos e “lubrificando” as campanhas eleitorais. 
Tinha nascido a lobby da indústria e os lobistas.  

Financiados com montanhas de dinheiro, eles têm acesso aos políticos ao longo de todo o ano, e agora são os que verdadeiramente decidem nos mais altos níveis.  

Em Washington encontram-se 16-40 mil lobistas por ano, com orçamentos de 3 ou  4 mil milhões de Dólares, em Bruxelas são 15-20.000, com um orçamento de mil milhões de Euros por ano.  

Larry Summers

Nos EUA há directamente os maiores nomes das finanças ou da indústria que financiam as campanhas eleitorais dos candidatos em troca duma legislação favorável, por isso o governo de Barack Obama está encharcado de homens de Wall Street: 
Larry Summers (ligações com o Citigroup), Bob Rubin (ex-Goldman Sachs), Tim Geithner (Federal Reserve de New York), Henry Paulson (ex-Goldman Sachs), William Daley (ex JPMorgan Chase) Gene Sperling (ex-Goldman Sachs), Paul Volcker (Rothschild, Rockfeller).  

Na verdade, nos Estados Unidos o conflito de interesses é o maior do mundo, aliás, a política é conflito de interesse. 

Na Europa, entretanto, foram organizados grupos específicos, cujos principais nomes são: 

Trans Atlantic Business Dialogue

Trans Atlantic Business Dialogue, European Services Leaders Group, International Chamber of Commerce, Investment Network, European Roundtable of Industrialists, Liberalization of Trade in Servicies, European Banking Federation, International Capital Market Association, European Employer Association, Business Europe, todos ao trabalho na Comissão Europeia, que é o nosso verdadeiro governo.

Removida a soberania legislativa, política e monetária do Estado, cancelada a cidadania participativa: morta a Democracia. 

Marcos históricos modernos: o ataque ao trabalho 

Os trabalhadores ganham proporcionalmente à produtividade?.  

John B. Clark

Hoje, mais do que nunca, as injustiças e os desastres do capitalismo global devem cair sobre os trabalhadores, que são convidados a trabalhar mais, cúmplices acordos sindicais mais criativos; isso para permitir às empresas uma margem suficiente e permanecer assim no mercado. 

De facto, significa explora-los com salários parados ou até abaixo do normal, como no caso da Alemanha. Todavia, os mesmos esforços não são pedidos ao managers ou aos bancos.  

Os ideólogos da super-produtividade dos trabalhadores e dos salários estagnados são os seguidores do Neomercantilismo (ver abaixo) e, entre os economistas, John B. Clark, Dennis H. Robertson, e os seus seguidores do neoliberalismo económico.

Para obter o pleno emprego são precisos salários mais baixos.

Apesar de ter nascido duma crença verdadeira, este dogma é hoje utilizado com muitos outros fins. Foi reconhecido como falso, mesmo por Henry Ford na década de 30-40s. 

Gerard Debreu

Este é o conceito-chave da má-fé das indústrias de exportação do Neomercantilismo (especialmente francesas e alemães), ou seja, os salários devem ser deprimidos para que os trabalhadores sejam iludidos de que esta medida criará mais emprego, para exportar a preços competitivos, e criar pobreza interna.  

A maior pobreza decorre do fato de que salários mais baixos significam cortar o poder de compra dos cidadãos; os quais, obviamente,  irão comprar menos bens e serviços, e isso, por sua vez, reduz os lucros das pequenas e médias empresas que os oferecem.  

As pequenas e médias empresas sabem que não podem vender e, obviamente, e não apenas não investem como também limitam a oferta de empregos. Finalmente, despedem e criam emprego precário, o que completa o círculo infernal do aumento do desemprego. 

Greg Mankiw

Mas é mesmo a massa de desempregados faz o jogo dos Neomercantilistas, assim podem chantagear os trabalhadores, que estão em concorrência uns com os outros, e podem assumir com salários de fome.  

Este é o “evangelho” de todos os economistas neoclássicos como Gerard Debreu, Kenneth Arrow, Hahn Frank, mas também da Escola Austríaca de Von Mises e Hayek, dos conservadores New Keynesias como Greg Mankiw e os Neo-Liberais em geral.

A futura supremacia será dos Estados que acumulam riqueza e impõem pobreza no trabalho.”

Esta ideia  foi descrita pelo economista francês François Perroux em 1933 e passará a ser a lei suprema do Neomercantilismo franco-alemão que mencionei acima. 

Hoje está em voga na Europa completa. No passado, a única arma dos estados europeus para se defenderem do Neomercantilismo franco-alemão era o poder de desvalorizar a própria moeda soberana (Escudos, Liras, Pesetas, Dracmas, etc.) para vender produtos a preços competitivos em relação à França e à Alemanha.  
Para evitar isso, a Alemanha impôs em 1979 o Sistema Monetário Europeu e, depois de seu colapso, o Sistema Monetário Único: o Euro

Hoje, os Estados da Zona Euro não podem desvalorizar a moeda soberana (já não há), portanto são obrigados a desvalorizar o custo do trabalho ou dos rendimentos.
Diminuir o desemprego gera inflação.  

Esta ideia foi gerada pelo monetarista Milton Friedman, da Escola de Chicago, nos anos 60 e 70. 

 Ele argumentou que existe uma taxa de desemprego “natural” que nunca deve ser alterada por intervenção do governo, porque ao fazer isso desencadeia-se uma espiral de inflação fora de controle, e isso destrói a economia.  
Essa ideia foi usada como truque ideológico para manter o desemprego existente e utiliza-lo como instrumento político de chantagem com o mundo do trabalho; mas poderia ser completamente eliminados, pois falsa.

Acaba aqui a segunda parte.
Em breve a terceira.

2 Replies to “Os Nomes – Parte II”

  1. Post muito bom.

    Como já falei em outros comments, adoro olhar para a história, para constatar coisas boas ou ruins. Esta aula sobre escola econômica deveria ser ensinada nas escolas.

    Será que falam disso nas universidades?

  2. Excelente artigo, Max!!

    Brilhante exposição dos fundamentos econômicos!

    Pois é Tony, nas universidades eles até falam, mas com o objetivo de doutriná-lo, fazendo desses pensadores os deuses de uma nova religião… ai de quem por em duvida seus dogmas…

    E quando não são os deuses do Neoliberalismo, são os deuses jurássicos de vermelho…

    A imparcialidade não é o forte nas Universidades, são grandes centros de conversões ideológicas. E os fatores cultivados em nossa sociedade proporcionam milhares de incautos que desprevenidos, saem feito papagaios repetindo o que aprenderam 'ad nauseam'.

    Abraços!

Obrigado por participar na discussão!

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