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O insondável torpor

“Uma mentira muitas vezes repetida, torna-se verdade”
Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Adolfo Hitler.


Portugal.

Não queria voltar a falar de Portugal antes de algo de novo. De verdadeiramente novo, entendo.
E de novo não aconteceu nada.

Então porque falar deste cantinho de terra?
Porque não lembro de ter visto algo de parecido antes.
Nunca, desde a formação da União Europeia, um País soberano (mais ou menos) foi submetido a tantas pressões. De forma tão descarada. Utilizando argumentos tão falsos.

E tudo com um único fim: transformar este País num protectorado.
Esqueçam os exércitos, esqueçam as invasões: hoje as guerras entre Países “evoluídos”, por assim dizer, são conduzidas com a economia.

Vamos ver quais estas últimas novidades. 

Moody’s corta “rating” de Portugal em um nível
A agência de notação financeira reduziu o “rating” das obrigações de Portugal de A3 para Baa1 e disse que poderá efectuar mais cortes. A Moody”s afirma que quem ganhar as eleições legislativas vai ter que recorrer ao FEEF “com carácter de urgência”. 

Fitch coloca Porto, Lisboa e Cascais a um nível do “lixo”
A agência norte-americana desceu em três níveis a notação financeira das três cidades, após o corte de “rating” à República. A descida deixa a classificação do Porto, Lisboa e Cascais a um nível do “lixo”. 

Fitch coloca “rating” da Portugal Telecom sob vigilância negativa
A agência Fitch acaba de reiterar o “rating” BBB da Portugal Telecom. Mas colocou essa mesma classificação de risco de dívida sob vigilância de pendor negativo, o que indica que poderá revisto em baixa em breve. 

Bancos portugueses deixam de dar crédito ao Estado
Líderes dos maiores bancos reuniram-se ontem secretamente no Banco de Portugal. Foram dizer que não emprestarão mais dinheiro ao Estado. E agora? Resta pedir ajuda. E já: 15 mil milhões de euros de apoio intercalar. Só a política está a travá-lo. 

Moody’s admite novo corte de “rating” de Portugal antes das eleições
A agência Moody”s disse hoje que a falta de acordo entre o Governo e o PSD quanto às novas medidas de austeridade contribuiu para a descida no “rating” e admitiu um novo corte antes da eleição do novo Executivo.

Fitch corta “rating” de seis bancos portugueses 
Montepio e Banif sofreram um corte que coloca os seus “ratings” num nível considerado de “lixo”. BCP, BPI e CGD têm os seus “ratings” em BBB-, nível idêntico ao da República portuguesa e a um degrau do “lixo”.

Consequências: 

Corte de “rating” da Moody’s pressiona bolsa nacional
O índice português continua em terreno negativo, pressionado pelo corte de “rating” da agência de notação financeira Moody’s à República portuguesa. 

Juros da dívida pública a cinco anos superam os 10%
As “yields” das obrigações a cinco anos atingiram um máximo histórico de 10,070%. 

Risco de Portugal ultrapassa o da Irlanda
O custo de fazer um seguro contra incumprimento na dívida nacional (através da compra de “credit default swaps”) ultrapassou o da Irlanda, horas depois de a Moody’s ter cortado o “rating” das obrigações do Tesouro. 

Este é um tiro ao alvo.
Que fique claro: Portugal está com problemas económicos e muito sérios. Não é isso que está em causa.
O que está em causa é que um País já não é livre de escolher o próprio caminho. O caminho é forçado. A única coisa que é possível fazer é adequar-se.

A única?
Em verdade não. Mas nem vale a pena falar nisso.

Abro os jornais e o panorama é este.
Esperaria ler de manifestações, protestos: que raio, um mínimo de dignidade.
Nada.
Leio os comentários dos leitores nos diários: a culpa é de Sócrates.
Ainda??? Ainda estamos a este nível?
Ainda há alguém neste País que acha ser apenas um problema de Esquerda Vs. Direita?

Até um sindicalista, Carvalho da Silva, consegue dizer coisas inteligentes:

Portugal está na União Europeia como estavam as antigas criadas de servir na casa dos patrões. […]
A União Europeia nasceu com objectivos de paz e com o objectivo de harmonização no progresso que hoje está totalmente esquecida. […]
O discurso dominante é que se está a ajudar os países em dificuldades. Mas começa a surgir a ideia de que as soluções encontradas se destinam a resolver os problemas dos bancos.

Como podem ver, não foram pensamentos consecutivos e surgiu o termo “patrões”, não poderia ter sido diversamente: mas até ele, um sindicalista, percebeu!

Onde raio estão os Portugueses? Que fazem?
Eu estou indignado, eu, que nem português sou.

Portugueses: estão a roubar-vos o País, conseguem entender isso?
Estão a subtrair a vossa soberania económica.
Estão a impedir a existência duma economia escolhida por um Governo, um qualquer, não importa a cor.
Estão a falar do vosso dinheiro.
Estão a hipotecar o vosso futuro.
Estão a hipotecar o futuro dos vosso filhos.
Estão a vender Portugal aos bancos.

Haverá maneira de despertar este povo do seu torpor?

Ipse dixit. 

Fontes: Jornal de NegóciosPúblico,