Sem esquecer a inflação.
Tentamos esclarecer alguns mecanismos.
Para entender porque a moeda é tão importante, devemos primeiro entender o que uma moeda é e de como as coisas funcionam. Hoje, como sabemos, a moeda não é emitida ou controlados pelos governos.
Hoje em dia, e isso pode parecer incrível para a maioria das pessoas, quase todo o dinheiro que circula é criado de forma ilegal pelos bancos comerciais.
Na realidade, este é um segredo que segredo não é: é mais uma realidade aceite mas não oficialmente reconhecida. Como consequência, na conta bancária do leitor não há dinheiro, apenas números, que representam uma “ilusão monetária”.
Com extracto bancário (acho chamar-se “declaração bancária” no Português do Brasil), a instituição de crédito informa quanto o banco deve (se o saldo for positivo, óbvio), mas apenas uma pequena parte desse dinheiro realmente existe.
Claro, até quando o leitor pode continuar a pagar as contas com este dinheiro falso, porque preocupar-se?
É mesmo este o raciocínio que o banco desfruta para expandir a massa monetária, colocando em risco a nossa sociedade. Os bancos, de facto, têm distorcido as moedas com truques de contabilidade. O Euro não é excepção.
Hoje, menos de 5% do dinheiro é dinheiro real, sob forma de notas e moedas. O resto foi criado artificialmente pelos bancos, e existe apenas como números nas nossas contas bancárias. Quando o leitor pedir dinheiro emprestado, o banco não entrega dinheiro de papel real, apenas “cria” novos fundos com dígitos na conta bancária.
Mas se o banco “inventa” o empréstimo, a mesma coisa não acontece com os juros. O leitor tem que pagar juros bem reais, que saem do seu ordenado. Às vezes os empréstimos são grandes somas de dinheiro: quanto custam os juros dum empréstimo com duração de 20 ou 30 anos contraído, por exemplo, para adquirir uma casa?
Reparem num pormenor: ao receber um empréstimo, o leitor não recebe fisicamente o dinheiro. Este é transferido na conta do vendedor, sempre de forma “virtual”.
Mas o vendedor comprará outros bens: em parte os pagamentos serão efectuados com outras transferências virtuais, em parte com dinheiro real (com levantamentos).
Desta forma, o dinheiro virtual, literalmente criado pelo banco, torna-se dinheiro real e começa a circular na sociedade.
Todo o dinheiro em circulação é criado por empréstimo: cada banco cobra juros sobre o dinheiro que ele mesmo criou, e todos os banqueiros juntos cobram juros em cada moeda que existe. O leitor tem dinheiro no bolso? Alguém está a pagar juros bancários sobre esse dinheiro.
Quando um empréstimo é reembolsado, o dinheiro que tinha sido “inventado” para cobrir o empréstimo é simplesmente “apagado”: é sempre o mesmo sistema, apagam-se dígitos, tal como antes tinham sido criados. O nada volta a ser nada. Mas nesta altura o leitor conhece o truque: aquele “nada” conseguiu juros, que ficam com o banco.
Todo o dinheiro existe apenas temporariamente. O montante total de moeda que circula numa sociedade é, na verdade, o que deve ser devolvido para empréstimos contraídos no passado. Difícil acreditar nisso, não é? Em outras palavras, é uma soma aleatória, que não tem nada a ver com as necessidades da sociedade, como a troca normal de bens e serviços.
Pior: os bancos concedem cada vez mais empréstimos e assim criam cada vez mais dinheiro. Quando cada vez mais dinheiro é usado para comprar o mesmo volume de bens e serviços, o valor da moeda diminui e aumentam os preços.
Como se chama este fenómeno? O leitor sabe isso: inflação.
Quem controla a inflação é o banco central: com a redução da taxa de juros indica que os bancos podem conceder mais empréstimos (com uma menor taxa de juro, é mais fácil obter empréstimos), com o aumento da taxa de juro os bancos concedem menos empréstimos (e o aumento da massa monetária abranda) .
Inflação: mas não é uma coisa má?
Depende. Os banqueiros, por exemplo, precisam de inflação. Quando a massa monetária aumentar (o que cria inflação porque mais dinheiro em circulação = mais inflação) torna-se mais fácil juntar o dinheiro necessário para pagar uma dívida; com grande vantagem não só para aquele que deve pagar, mas também para os banqueiros.
Mas com a inflação, o dinheiro emprestado não perde valor também? Sim, exacto. Mas vejam as coisas do ponto de vista do banco: é sempre dinheiro que foi criado do nada, qual o problema? O capital emprestado na verdade não existe, não passa dalguns dígitos que o banco inscreveu na conta do leitor. E mais: como vimos, o mesmo capital emprestado, uma vez reembolsado, será apagado.
E os juros? Os juros não, ora essa. Os juros são bem reais, saíram do vosso ordenado, os juros ficam. Onde? No banco. Este é o lucro das instituições financeiras.
A inflação apresenta um outro aspecto divertido: se o desejo é não tornar-se pobre, o leitor terá que trabalhar cada vez mais para compensar o valor perdido pelo próprio ordenado. Pois a inflação corrói o valor dos ordenados. Por isso a inflação gera uma maior actividade económica.
O crescimento da massa monetária tem outros efeitos.
Com cada vez mais dinheiro disponível, fica claro um princípio: tudo pode ser comprado, até o Estado.
Em muitos Países, grupos financeiros (atrás dos quais há sempre bancos) tomaram conta dos serviços públicos, tornando-os em nova fontes de lucro.
Gás, electricidade, água, transportes públicos, correio, telefones, funções de polícia, prisões, sistemas de saúde, coleta de lixo…tudo serve.
Mas isso tem enormes consequências. Bancos e elites financeiras cada vez mais tomam decisões que modelam a nossa sociedade, enquanto os governos perdem poder e autoridade.
Nesta altura é o dinheiro que decide o que é “bom” ou “mau” numa sociedade.
Um exemplo concreto: em Portugal, Pedro Passa o Coelho (ou algo de parecido), social-democrata, provável próximo primeiro ministro, anunciou a intenção de privatizar (isso é, vender) os serviços públicos que não geram lucros.
É uma mudança de paradigma: o serviço público já não é julgado na óptica do beneficio que aporta à sociedade, mas apenas na capacidade de gerar lucro.
Isso significa que o governo oferece cada vez menos serviços e, em vez de cuidar dos cidadãos, torna-se uma estrutura que precisa de exercitar uma forma de repressão (subtração de serviços) para poder impor decisões de curta duração.
Mas esta é outra história…
Ipse dixit.